II – Martírio do Beato João Baptista Machado
No dia 22 de Maio
de 1617, que caiu na segunda-feira depois da festa da santíssima Trindade, se apresentou no
cárcere o dito Tomoranga Lino, filho de pais cristãos, que veio também depois a
sofrer o martírio, e por muito tempo conversou com o nosso padre, sem se
atrever a intimidar-lhe a sentença de morte. Até que afinal se viu obrigado a
declarar ao bem-aventurado Confessor o fim daquela visita.
Logo
que o soube estar condenado à morte disse o Padre João Baptista: que três dias
tinha tido na sua vida de singular alegria: o primeiro aquele em que entrara ca
Companhia; o segundo quando fora preso na Ilha de Gota; e o terceiro este. Em
que lhe davam tão ditosa nova! Perguntou ainda: que sorte de morte tinha que
sofrer; porque muito desejava passar por cruéis tormentos, como fizeram a
muitos mártires. Mas o Governador atónito com tal procedimento, apenas lhe
respondeu: - que seria naquele mesmo dia. Então i nosso valoroso Confessor
pegou na pena e escreveu as seguintes notáveis linhas ao Pe. Sebastião Vieira,
da mesma Companhia: Agora, Padre meu, me deram a alegre nova da minha morte.
Morro muito confiado e consolado, pois é pelo bom Jesus, e lhe dou muitas
graças, porque ainda que indigno, me fez tão grande mercê. Entretanto, e quase
já no fim da tarde, lhe mandou o Príncipe de Omura levar alimento, mas não quis tomar, dizendo: que agradecia muito; mas que
quem estava de partida para tão grande banquete, em que seria plenamente satisfeito,
não carecia já de alimento.
Estando
preso no mesmo cárcere outro ilustre Confessor da Fé, Fr. Pedro da Assunção,
religioso Franciscano, que ia partilhar da mesma sorte, trataram os dois
ditosos Padres de se confessarem um ao outro, e concluído este ato, foram ambos
conduzidos ao lugar do suplício, que distava meia légua da Cidade. Grande número
de pessoas os acompanhava, e os Padres, levando cada um seu Crucifixo na mão,
iam exortando os infiéis a que abraçassem a religião Cristã, e os Cristãos – a
que perseverassem contantes nela até à morte. Mas tal era o pranto e
lamentações dos que os acompanhavam que dificilmente eram ouvidos.
Chegados
ao lugar da execução, Fr. Pedro da Assunção, voltando-se para o Povo, fez um
devotíssimo sermão; e como se fosse demorando, e os Oficiais começassem a
enfadar-se, o Padre João Baptista, que isto percebeu, lhe fez sinal para que
concluísse, o que prontamente fez; e abraçando-se reciprocamente, e
despedindo-se dos Cristãos presentes, deles se separaram.
Olhando
depois um para o outro com o sorriso nos lábios, e dizendo mutuamente algumas
palavras, que se não perceberam, se puseram de joelhos, e levantaram as mãos ao
Céu, como oferecendo-se em sacrifício. Não apareceu algoz infame para cortar a
cabeça dos gloriosos Mártires, mas pessoa nobre e honrada, escolhida pela
Autoridade, para executar a bárbara sentença; porque era costume no Japão não serem executadas as sentenças de morte
de pessoas de respeito e honradas, senão por outras pessoas da mesma
consideração. A cabeça de Fr. Pedro caiu logo ao primeiro golpe, mas a de João Baptista Machado só foi
decepada ao terceiro; querendo Deus nosso Senhor dar-lhe ainda por último o
merecimento de maiores sofrimentos, porque tanto suspirava.
Tinha
então o nosso Bem-aventurado Mártir trinta
e cinco anos de idade; havia
dezanove que entrara para a Companhia de Jesus, dezasseis que saíra de Portugal, e oito que estivera no Japão. Logo depois do seu glorioso martírio os
Fiéis cuidaram de encerrar os corpos dos dois ditosos Mártires em distintos e
decentes caixões, e assim os enterraram, depois de os terem venerado com a
devoção que mereciam.
Continuando
a ser grande a concorrência do Povo a visitar e venerar os corpos dos
Bem-aventurados Mártires; o cruel Omurandono se desesperava, e por isso mando
no dia seguinte por barreiras e guardas, que obstassem aquela visita e
veneração. Longe porém de cessar a concorrência, não só os Cristãos, mas até os Infiéis continuaram a visitar
este sítio em grande número, tendo-se espalhado que de noite apreciam
brilhantes estrelas sobre a sepultura dos gloriosos Mártires; e por isso o
Tirano mandou que os caixões fossem
desenterrados e lançados no alto mar, como se fez, para que a memória deles
se dissipasse.
Foi
porém baldada tal medida, porque está escrito, e neste caso se verificou uma
vez mais: A memória do justo será eterna; e não receará a caluniosa murmuração;
e que o Senhor guardará os ossos dos seus justos, de modo que nem um seja
quebrado.
Por
isso a fama do heroico Filho de Angra voou bem depressa do Japão a Macau, de
Macau a Goa, de Goa a Lisboa e de Lisboa a Angra. Onde ao chegar tão faustosa
notícia, se fizeram pomposas festas.
Até
que finalmente aprouve à sempre adorável Providência Divina que Sua Santidade Pio IX, Vigário de Nosso Senhor Jesus
Cristo na Terra, no ano de 1867, por
ocasião do 18º centenário do martírio do Príncipe dos Apóstolos, e logo depois, no dia 7 de Julho, elevasse
à honra dos altares 205 mártires, que deram a sua vida no Japão pela Fé
Cristã, sendo cinco deles portugueses, a
saber: - o Bem-aventurado João Baptista Machado, que foi o primeiro dos
cinco que alcançou a coroa do martírio; o segundo – o B. Ambrósio Fernandes, do
Bispado do Porto; o terceiro – o B. Diogo de Carvalho, natural de Coimbra; o
quarto – o B. Miguel de Carvalho, de Braga; e o quinto – o B. Francisco
Pacheco, natural de Ponte de Lima.
Logo
depois da beatificação do Mártir João Baptista Machado, grandes foram os
desejos dos fiéis do arquipélago dos Açores que no mesmo Arquipélago fosse
instituída a sua festa e algumas diligências para isso se fizeram, chegando a
abrir-se uma subscrição na ilha de S. Miguel para o culto do mesmo Beato; só
porém em 10 de Dezembro de 1874 foi introduzida a sua festa no calendário da
Diocese, fixando-se-lhe o dia 15 de Fevereiro, com o rito de duplex majus; e
apareceu a mesma festa no Calendário de 1876 com geral satisfação dos fiéis dos
Açores.
Sua
Excia. Revma. o Sr. Bispo da Diocese, mandou logo fazer uma primorosa Imagem do
Beato, que foi colocado na Igreja do Colégio de Angra no dia 30 de Abril de
1876, celebrando-se por essa ocasião uma soleníssima festividade, em que tomou
parte com grande regozijo toda a Cidade e Ilha, e fazendo o mesmo Exmo. e
Revmo. Prelado uma homilia depois do evangelho do pontifical, que celebrou por
essa ocasião, proclamou solenemente o mesmo Beato João Baptista Machado de
Távora – Protetor da cidade de Angra do heroísmo e de toda a Diocese.
Assim
seja.
ORAÇÃO
Ó
glorioso Mártir, Beato João Baptista Machado, que com tanto gosto deixastes a
vossa Pátria, Pais, Parentes e Amigos, assim como tudo o que possuíeis, para ir
pregar o Evangelho nas remotíssimas Terras do Japão e encaminhar para o Céu os
habitantes daquele País; vinde também agora em espírito confirmar na Fé católica
os vossos patrícios, e abrasar seus corações em ardente caridade, para que,
desprezando, como vós desprezastes, as vaidades e miseráveis bens deste mundo,
possamos todos sair dele triunfantes, e congratular-nos Convosco por toda a
eternidade. Assim seja
Sua
Excia. Rema. o Sr. Bispo de Angra do heroísmo, concede 40 dias de indulgência a
quem ler ou ouvir ler o pressente folheto, e recitar, ou ouvir de joelhos a
presente oração, com as devidas disposições, em todos os dias que isto fizer. E
pede-se um Pai Nosso e uma Avé Maria pela conversão dos pecadores, por
intercessão do mesmo Beato.
Impimi
potest
Angrae,
10 de maji 1951
+
G.A. Bispo de Angra
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