sexta-feira, 22 de maio de 2020

Padroeiro açoriano (2)

Continuação da Solenidade na Diocese de Angra – B. João Baptista Machado, presbítero e mártir, padroeiro principal


























II – Martírio do Beato João Baptista Machado

No dia 22 de Maio de 1617, que caiu na segunda-feira depois da festa da santíssima Trindade, se apresentou no cárcere o dito Tomoranga Lino, filho de pais cristãos, que veio também depois a sofrer o martírio, e por muito tempo conversou com o nosso padre, sem se atrever a intimidar-lhe a sentença de morte. Até que afinal se viu obrigado a declarar ao bem-aventurado Confessor o fim daquela visita.
Logo que o soube estar condenado à morte disse o Padre João Baptista: que três dias tinha tido na sua vida de singular alegria: o primeiro aquele em que entrara ca Companhia; o segundo quando fora preso na Ilha de Gota; e o terceiro este. Em que lhe davam tão ditosa nova! Perguntou ainda: que sorte de morte tinha que sofrer; porque muito desejava passar por cruéis tormentos, como fizeram a muitos mártires. Mas o Governador atónito com tal procedimento, apenas lhe respondeu: - que seria naquele mesmo dia. Então i nosso valoroso Confessor pegou na pena e escreveu as seguintes notáveis linhas ao Pe. Sebastião Vieira, da mesma Companhia: Agora, Padre meu, me deram a alegre nova da minha morte. Morro muito confiado e consolado, pois é pelo bom Jesus, e lhe dou muitas graças, porque ainda que indigno, me fez tão grande mercê. Entretanto, e quase já no fim da tarde, lhe mandou o Príncipe de Omura levar alimento, mas não quis tomar, dizendo: que agradecia muito; mas que quem estava de partida para tão grande banquete, em que seria plenamente satisfeito, não carecia já de alimento.
Estando preso no mesmo cárcere outro ilustre Confessor da Fé, Fr. Pedro da Assunção, religioso Franciscano, que ia partilhar da mesma sorte, trataram os dois ditosos Padres de se confessarem um ao outro, e concluído este ato, foram ambos conduzidos ao lugar do suplício, que distava meia légua da Cidade. Grande número de pessoas os acompanhava, e os Padres, levando cada um seu Crucifixo na mão, iam exortando os infiéis a que abraçassem a religião Cristã, e os Cristãos – a que perseverassem contantes nela até à morte. Mas tal era o pranto e lamentações dos que os acompanhavam que dificilmente eram ouvidos.
Chegados ao lugar da execução, Fr. Pedro da Assunção, voltando-se para o Povo, fez um devotíssimo sermão; e como se fosse demorando, e os Oficiais começassem a enfadar-se, o Padre João Baptista, que isto percebeu, lhe fez sinal para que concluísse, o que prontamente fez; e abraçando-se reciprocamente, e despedindo-se dos Cristãos presentes, deles se separaram.
Olhando depois um para o outro com o sorriso nos lábios, e dizendo mutuamente algumas palavras, que se não perceberam, se puseram de joelhos, e levantaram as mãos ao Céu, como oferecendo-se em sacrifício. Não apareceu algoz infame para cortar a cabeça dos gloriosos Mártires, mas pessoa nobre e honrada, escolhida pela Autoridade, para executar a bárbara sentença; porque era costume no Japão não serem executadas as sentenças de morte de pessoas de respeito e honradas, senão por outras pessoas da mesma consideração. A cabeça de Fr. Pedro caiu logo ao primeiro golpe, mas a de João Baptista Machado só foi decepada ao terceiro; querendo Deus nosso Senhor dar-lhe ainda por último o merecimento de maiores sofrimentos, porque tanto suspirava.
Tinha então o nosso Bem-aventurado Mártir trinta e cinco anos de idade; havia dezanove que entrara para a Companhia de Jesus, dezasseis que saíra de Portugal, e oito que estivera no Japão. Logo depois do seu glorioso martírio os Fiéis cuidaram de encerrar os corpos dos dois ditosos Mártires em distintos e decentes caixões, e assim os enterraram, depois de os terem venerado com a devoção que mereciam.
Continuando a ser grande a concorrência do Povo a visitar e venerar os corpos dos Bem-aventurados Mártires; o cruel Omurandono se desesperava, e por isso mando no dia seguinte por barreiras e guardas, que obstassem aquela visita e veneração. Longe porém de cessar a concorrência, não só os Cristãos, mas até os Infiéis continuaram a visitar este sítio em grande número, tendo-se espalhado que de noite apreciam brilhantes estrelas sobre a sepultura dos gloriosos Mártires; e por isso o Tirano mandou que os caixões fossem desenterrados e lançados no alto mar, como se fez, para que a memória deles se dissipasse.
Foi porém baldada tal medida, porque está escrito, e neste caso se verificou uma vez mais: A memória do justo será eterna; e não receará a caluniosa murmuração; e que o Senhor guardará os ossos dos seus justos, de modo que nem um seja quebrado.
Por isso a fama do heroico Filho de Angra voou bem depressa do Japão a Macau, de Macau a Goa, de Goa a Lisboa e de Lisboa a Angra. Onde ao chegar tão faustosa notícia, se fizeram pomposas festas.
Até que finalmente aprouve à sempre adorável Providência Divina que Sua Santidade Pio IX, Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra, no ano de 1867, por ocasião do 18º centenário do martírio do Príncipe dos Apóstolos, e logo depois, no dia 7 de Julho, elevasse à honra dos altares 205 mártires, que deram a sua vida no Japão pela Fé Cristã, sendo cinco deles portugueses, a saber: - o Bem-aventurado João Baptista Machado, que foi o primeiro dos cinco que alcançou a coroa do martírio; o segundo – o B. Ambrósio Fernandes, do Bispado do Porto; o terceiro – o B. Diogo de Carvalho, natural de Coimbra; o quarto – o B. Miguel de Carvalho, de Braga; e o quinto – o B. Francisco Pacheco, natural de Ponte de Lima.
Logo depois da beatificação do Mártir João Baptista Machado, grandes foram os desejos dos fiéis do arquipélago dos Açores que no mesmo Arquipélago fosse instituída a sua festa e algumas diligências para isso se fizeram, chegando a abrir-se uma subscrição na ilha de S. Miguel para o culto do mesmo Beato; só porém em 10 de Dezembro de 1874 foi introduzida a sua festa no calendário da Diocese, fixando-se-lhe o dia 15 de Fevereiro, com o rito de duplex majus; e apareceu a mesma festa no Calendário de 1876 com geral satisfação dos fiéis dos Açores.
Sua Excia. Revma. o Sr. Bispo da Diocese, mandou logo fazer uma primorosa Imagem do Beato, que foi colocado na Igreja do Colégio de Angra no dia 30 de Abril de 1876, celebrando-se por essa ocasião uma soleníssima festividade, em que tomou parte com grande regozijo toda a Cidade e Ilha, e fazendo o mesmo Exmo. e Revmo. Prelado uma homilia depois do evangelho do pontifical, que celebrou por essa ocasião, proclamou solenemente o mesmo Beato João Baptista Machado de Távora – Protetor da cidade de Angra do heroísmo e de toda a Diocese.
Assim seja.

ORAÇÃO
Ó glorioso Mártir, Beato João Baptista Machado, que com tanto gosto deixastes a vossa Pátria, Pais, Parentes e Amigos, assim como tudo o que possuíeis, para ir pregar o Evangelho nas remotíssimas Terras do Japão e encaminhar para o Céu os habitantes daquele País; vinde também agora em espírito confirmar na Fé católica os vossos patrícios, e abrasar seus corações em ardente caridade, para que, desprezando, como vós desprezastes, as vaidades e miseráveis bens deste mundo, possamos todos sair dele triunfantes, e congratular-nos Convosco por toda a eternidade. Assim seja

Sua Excia. Rema. o Sr. Bispo de Angra do heroísmo, concede 40 dias de indulgência a quem ler ou ouvir ler o pressente folheto, e recitar, ou ouvir de joelhos a presente oração, com as devidas disposições, em todos os dias que isto fizer. E pede-se um Pai Nosso e uma Avé Maria pela conversão dos pecadores, por intercessão do mesmo Beato.

Impimi potest
Angrae, 10 de maji 1951
+ G.A. Bispo de Angra

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