quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Natal (69)

















Roubaram o Menino Jesus

Durante a Segunda Grande Guerra, uma rede de resistência foi organizada para esconder crianças judias separadas dos pais. Elas eram confiadas a famílias cristãs, que ignoravam a identidade dos pais.

Um dia, uma dessas crianças, um menino de seis anos, foi acusado de ter cometido um roubo. 
Na mesma hora, em pânico, a família de acolhimento entrou em contacto com a organização. Um agente foi enviado para se informar do que tinha acontecido. A família atordoada, só lhe dizia:
- Pegue nesse menino e leve-o de volta. É um ladrão!  
Arrasado, o agente disse que não podia tomar aquela decisão sozinho e iria reportar aos superiores. O chefe maior resolveu ir pessoalmente verificar o caso. Ao chegar ouviu a mesma deplorável ladainha que o agente tinha escutado. A família continuava irredutível na decisão de se livrar daquele menino. E queria que tudo fosse feito naquela mesma noite. 
O chefe, então, pediu para ficar por alguns momentos a sós com o menino. 
Sozinho com a criança, falou-lhe de igual para igual:
- Tu tens noção do que fizeste? Essas pessoas arriscam a própria vida para salvar a tua, e tu, em agradecimento, roubas essas pessoas que te ajudam! Ainda pior! Esta família diz que, além de ladrão, tu és um mentiroso.
De facto, quando o acusavam, ele negava o roubo, obstinadamente.
Foi quando, de repente, o chefe da organização teve uma ideia, dessas iluminações que nos chegam diante das urgências. Ele perguntou ao menino:
- Afinal de contas, ainda não sabemos o mais importante. Ainda não sabemos o que foi que tu realmente roubaste? Acusam-te de ter roubado o quê?
Ninguém, até então, se tinha preocupado com a questão material da acusação, nem havia perguntado o que, afinal, havia sido roubado. 
Sem levantar os olhos, o menino respondeu:
- Eles acusam-me de ter roubado o Menino Jesus do presépio.
Espantado, o chefe da organização voltou a perguntar:
- E não é verdade?!
Decidido, o menino voltou a repetir:
- Não, não é verdade.
- Mas, então, o que é que fizeste?
O menino, de olhos baixos, respondeu:
- Eu não roubei o Menino Jesus, eu escondi-o.
- Mas por que é que o escondeste? – Perguntou o chefe.
Então, o menino ergueu os olhos e declarou:
- Porque ele é um menino judeu, como eu, e por isso precisa ser escondido. 

Os contos não precisam ter acontecido para que existam.  Há neles uma verdade que transcende os factos. Não faz diferença se esse conto aconteceu ou não. Ele é maior que qualquer acontecimento. 
Esconder meninos judeus foi uma dolorosa verdade da Segunda Guerra Mundial. Se um desses meninos escondeu outro menino, diminui a dor da verdade. E se algum deles tenha escondido o Menino Jesus do presépio, isso só torna a dor mais leve: redime a dura realidade (cf. D. José Francisco, Arcebispo de Niterói).

Ainda hoje também podemos apresentar uma queixa semelhante.
Roubaram hoje o Menino Jesus.
Não é anedota, nem história de Natal. É a história nua e crua.
É caso para dizer com Maria Madalena – Roubaram o Senhor e não sabemos onde o puseram.
Porque é que nós dizemos que roubaram hoje o Menino Jesus?

1º - Porque o roubaram do ambiente público. Por todo o lado há enfeites de Natal, mas onde está o Menino Jesus? Há estrelas, árvores, estrelas, renas, postais de todas as espécies, presentes, luzes, mas onde está o Menino Jesus? Não está aqui, roubaram-no da nossa sociedade.
2º - Roubaram o Menino Jesus do seio das nossas famílias. Em vez de celebração e de oração há comemorações, jantaradas, troca de prendas, visita do Pai Natal, votos de boas festas, e o Menino onde está? Muitas famílias esquecem-se dele. Festejam o Natal, mas não querem ser visitados pelo Menino Jesus, nem querem visitá-lo na Igreja.
3º - Roubaram o Menino das nossas casas. Dizemos que o presépio é coisa de antigamente. A nossa mentalidade despreza o Menino Jesus, a Sagrada Família e o próprio presépio. E quando desprezamos isso estamos a roubá-lo.
4º - Roubaram o Menino Jesus das nossas escolas. Onde estão os sinais da nossa fé nesse Menino? Retiraram das escolas e dos edifícios públicos todos os símbolos cristãos. Além disso há tempo para tudo, para desporto, para a música, para a academia, para o agrupamento e outros lazeres menos para o Menino… Estamos a roubar o tempo a Deus.
5º - Roubaram o Menino Jesus até das igrejas. É isso que acontece quando vamos à igreja, não para rezar, mas para cumprir apenas o preceito, uma obrigação, ou quando vamos à igreja só quando nos interessa… Estamos a roubar o Menino da nossa vida.

Enfim, roubaram o Menino Jesus nos nossos dias e o mais grave é que nem damos conta, ou não nos importamos com isso.
Mas afinal Ele quer uma vez mais ficar connosco porque Ele é e continuará a ser sempre o Emanuel, o Deus Connosco.
Hoje vão continuar a roubar o Menino Jesus da sociedade moderna, mas nunca poderão roubá-lo dos nossos corações.
Não deixemos que nos roubem o Menino do nosso coração!



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