domingo, 30 de dezembro de 2012

Na Gruta de Belém



Institutos Religiosos na Gruta de Belém

Crónica fiel e original encontrada nas grutas de Qumran, no Mar Morto, pelo teólogo pastoralista João Manso. Trata do modo como se comportam alguns religiosos quando foram visitar Jesus em Belém, nos dias seguintes ao seu nascimento.

“Pois… o primeiro a chegar foi um CARMELITA. Veio de perto, do Monte Carmelo. Viu uma estrela rara que passava por cima da gruta de Elias. Aproximou-se, entrou, mas resolveu não dizer nada a ninguém. De fato, sendo ele discípulo do grande profeta Elias, não percebia a razão por que não fora convidado. Dirigiu-se então ao burro e disse-lhe:
- Sai daí. Esse lugar é meu!
O segundo a chegar foi um BENEDITINO. Chegou, viu, observou, escutou e, abanando a cabeça, exclamou:
- Fraca liturgia e pior gregoriano…
E lá se foi embora, pensando que São José não tinha lido a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e que deviam ter-lhe confiado a ele a orientação litúrgica do acontecimento.
Chegaram dois FRANCISCANOS. Ao verem o Menino, disse o mais novo ao Superior:
- Podíamos convidá-lo a entrar na Ordem Terceira, pois parece gente boa e pobre.
- Não – Atalhou logo o superior – porque o Filho é muito capaz de passar à Primeira Ordem, reformar a nossa Regra e então estamos todos tramados!
Mal saíram, entrou um DOMINICANO. Deitou uma olhadela e começou a proferir um discurso sobre o Mistério da Encarnação do Verbo, com citações de São Tomás, Congar e Schillebeekx. Então, o Menino perguntou à Mãe:
- Ó Mãe, o que é que ele disse? Não percebi nada.
- Tem paciência, meu filho. Eu também fico a pensar mais uma vez no que seria aquilo.
Pouco depois, chegou um CAPUCHINHO. Esteve bastante tempo pensativo, aproximou-se de São José e disse-lhe ao ouvido:
- Olhe, se nos conceder uma reportagem exclusiva para a Difusora Bíblica, oferecemos-lhe um carro. Pense bem, pois vai precisar dele para ir ao Egito.
O burro, zurrando, protestou logo. Aquilo denotava ignorância a respeito da Bíblia que diz: Deus salvará os homens e os jumentos.
Chegaram dois JESUITAS. Ficaram muito admirados ao ver que a Maior Glória de Deus Se tinha feito tão pequena e disse o mais novo:
- Padre, dê-lhe a direção do nosso colégio, para que o Menino possa entrar nele quando tiver idade.
- Cala-te. São pobres. Vão para as Oficinas de São José.
E chegou a vez dos SALESIANOS. Disse o mais jovem ao superior:
- Diga aos pais que, quando o Menino crescer, O levem ao nosso colégio.
- Não convém. É capaz de ter ideias subversivas e o Governo pode tirar-nos o subsídio estatal.
Chegou um CORDIMARIANO. Meditou profundamente no mistério e, ao despedir-se, disse:
- Minha Senhor, permita-me que lhe dê um conselho: Era bom que consagrasse o Menino ao Coração de Maria.
- Mas…
- Desculpe, mas nós é que sabemos.
Entra um padre ESPIRITANO. Mal viu o acontecimento, propõe a Maria fazer sociedade com o Espírito Santo. Ela olhou para São José, a pedir conselho.
- Cuidado. Não Te fies, pois esses foram fundados por um judeu…
Por estarem unidos no Coração de Jesus, uns como sacerdotes, outros como filhos, apareceram juntos um COMBONIANO e um DEHONIANO. Mal entraram, começaram logo a fazer propaganda vocacional e disseram à Mãe:
- Dá-nos a impressão de que é capaz de ter vocação missionária.
- Isso já Eu sabia antes de Ele nascer!
- E minha Senhora, ouvimos dizer que tinham vindo por cá uns magos e que tinham trazido uns presentes; pois, com uma parte desse ouro, a Senhora poderia dar-nos uma bolsa de estudos a cada um de nós. Em paga, celebraríamos todos os meses uma missa pelas Suas intenções e pelos Seus defuntos…
Entretanto, tinham chegado um MARIANO, um VERBITA, um Padre da CONSOLATA e outro do PRECIOSÍSSIMO SANGUE que, ao presenciarem o diálogo anterior, disseram uns para os outros:
- Aqui já não há nada a fazer. Vamos embora!
E retiraram-se sem entrar na gruta.
Já bastante atrasados, pois estavam na pregação de uma Missão Popular em Nínive, chegaram dois REDENTORISTAS. Falou o mais novo:
- Minha Senhora, desejávamos propô-los para Sócios do Centro de Caridade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, uma obra de amor ao serviço dos pobres. Para já, o Menino podia ir para o nosso Infantário e, mais tarde, se for bem comportado e tiver bom aproveitamento nos estudos, para o Seminário de Cristo-Rei. Ou muito nos enganamos ou Ele vai dar um grande Missionário, pois parece ter boa pinta. Entretanto, a Senhora podia encarregar-se do Jardim Infantil e o Seu marido da carpintaria do Centro de Caridade.
Maria, José e o Menino sorriram, nada responderam pois aguardavam ainda a visita dos VICENTINOS, dos IRMÃOS DE SÃO JOÃO DE DEUS, OPUS DEI, COMUNHÃO E LIBERTAÇÂO etc. etc.
O Menino adormeceu, São José foi à rua tomar ar fresco enquanto Maria guardava no seu coração tudo o que via e ouvia.”

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