segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Pe. Dehon e os Jornais

Se me pedissem para fotografar o Pe. Dehon, eu sugeria que na sua pose ele tivesse um jornal aberto. De facto não podemos separar o jornal do Pe. Dehon nem vice-versa. Ele escreveu em vários jornais, fundou outros, colaborou em tantos, leu muitos, divulgou vários... estudou, rezou e trabalhou sempre com um jornal aberto.
Tal como o Pe. Dehon não ignorava o jornal, também o jornal não podia ignorar o Pe. Dehon.
Até parece que o Pe. dehon era mesmo um jornal aberto...

A) O que fez o Pe. Dehon:
Fundou em São Quintino o Jornal Católico “Le Conservateur de L’Aisne” em 1889, publicando-se durante 10 anos, fundindo-se então com o “Le Journal de Saint Quentin”.
Fundou também nesse ano a revista “O Reino do Coração de Jesus nas almas e nas sociedades” que dirigiu durante 14 anos.
Escreveu no jornal quotidiano “La France Libre”, da Cidade de Lião.
Colaborou em várias revistas:
“L’ Association Catholique” de Paris
“Démocratie Chrétienne” de Lille
“Sociologie Chrétienne” de Montpellier
“Le XX Siècle” de Marselha
“La Corporation” de Paris
“Chronique des Comités du Sud-Est” de Lião

B) O que ensinou o Pe. Dehon
As jornadas do Pe. Dehon passavam com a regularidade de um relógio. Mesmo com 82 anos, nas últimas semanas da sua vida, em Bruxelas, levantava-se às 5 horas, celebrava a missa às 7, seguiu pontualmente todos os exercícios comuns e, em especial, as práticas de piedade. Cada manhã, às 8, saia para comprar os jornais. Lia e fazia ler as notícias.
“Lembro a admiração que causou entre meus companheiros da União dos Superiores Gerais quando contei que nosso Fundador quis ter em mãos o jornal diário até seu último dia, e que, não podendo mais ler, entregou-o aberto à comunidade.” (Mensagem do Superior Geral Pe. Virgínio Bressanelli para a festa do Sagrado Coração de Jesus – O futuro da Congregação, Roma 31 de Maio de 2001, Prot nº 117)

C) O que o Pe. Dehon disse dos Jornais
“Acrescentemos que uma das formas mais actuantes de apostolado é a imprensa”. (João Leão Dehon, A Renovação Social Cristã – Conferências Romanas 1897-1900, Centro Geral de Estudos SCJ, Roma 2001, pag 210)

“Eu compro os jornais para a comunidade, parece-me bom que se esteja ao corrente da história contemporânea e que se tenha algum assunto de conversa. Reza-se melhor pela Igreja quando se lê as investidas que ela deve sofrer cada dia e os valorosos esforços que fazem os católicos para se organizar.” (NQ XLV Janeiro 1925 pag. 538)

D) O que os Jornais disseram do Pe. Dehon
Aos 10 de Janeiro de 1897, o jornal romano “La Voce della Veritá”, que acompanha de perto os acontecimentos da Igreja, anuncia nestes termos as cinco Conferências do Pe. Dehon para Janeiro-Março: “Pe. Dehon é um excelente conhecedor dos estudos sociais, e a sua palavra forte e eficaz é sempre bem recebida onde quer que fale. A sua competência sobre a questão faz dele um orador procurado para os Congressos católicos da França. Testemunho desta sua capacidade incontestável é o seu magnífico “Manuel Social Chrétien”, que recebeu a aprovação de numerosos Bispos e que em pouco tempo conheceu quatro edições; foram publicados mais de 13.00 exemplares.” Cada quinze dias, o mesmo jornal informa sobre o tema especial que Pe. Dehon vai tratar, como um ilustre orador que fala magistralmente diante de um auditório bem selecto e numeroso”. (João Leão Dehon, A Renovação Social Cristã – Conferências Romanas 1897-1900, Centro Geral de Estudos SCJ, Roma 2001, pág 19)

Ao comentar eventos contemporâneos dignos de atenção, em Fevereiro de 1897, a famosa revista dos Padres Jesuitas “La Civilità Cattolica” (Série XVI, vol IX, pag 616) escreve:
Em Roma, actualmente, duas personagens ilustres dão Conferências sobre Rerum Novarum e a questão social: o professor Toniolo… e o Pe. Dehon, francês, Geral dos Sacerdotes do Coração de Jesus… O Pe. Dehon fala numa sala dos Padres Agostinianos da Assunção, na praça de Aracoeli. Os discursos são em francês, e o Pe. Dehon se revela óptimo conhecedor da matéria. Fala de pé, com grande desenvoltura, o tom de voz é ao mesmo tempo de quem ensina e de quem conversa familiarmente. Tem diante de si apenas poucas folhas de papel e que olha só rapidamente, às vezes as toma nas mãos para ler uma estatística, uma citação, uma data. De vez em quando, sobrevém-lhe um raio de eloquência, mas logo, gradualmente, volt a ser a luz normal e tranquila da conversação familiar…” (João Leão Dehon, A Renovação Social Cristã – Conferências Romanas 1897-1900, Centro Geral de Estudos SCJ, Roma 2001, Pág. 24)

Ao chegar ao Brasil (13 de Setembro de 1906) o Pe. Dehon refere com uma certa ironia: “Estava lá um redactor do Diário de Recife para entrevistar-me. Ele queria anunciar a chegada ‘do doutor Dehon, notável sociólogo”. (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, 1909)

E) Conclusão
O Pe. Dehon foi alguém sempre atento aos apelos do mundo ou aos apelos de Deus que fazem eco nas coisas do mundo.
Só mais tarde o concílio Vaticano II ia equacionar esta atitude permanente consagrando a expressão que se encaixa perfeitamente no Pe. Dehon: estar atentos aos sinais dos tempos. As nossas Constituições falam em “Atentos aos apelos do mundo” (Constituições SCJ nº 35: atentos aos apelos que o Pai nos dirige através dos acontecimentos pequenos e grandes e das expectativas e realizações humanas).

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