domingo, 31 de agosto de 2025

Sentar-se à mesa com Jesus


Ano C – XXII domingo comum


Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos o observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola... 

Naquele tempo, ao notar como as pessoas comportavam à refeição, Jesus disse esta parábola:

Quando fores para um almoço ou um jantar… não leves o telemóvel contigo:

- porque o telemóvel é um convidado indesejado…

- porque o telemóvel é um ladrão e um intruso

- porque o telemóvel dispersa em vez de unir.

Podemos alagar a lista das razões para dispensar o telemóvel tão útil para a nossa vida, mas tão dispensável nas nossas refeições:

- Mais vale sentir a vibração do coração do que a vibração dos telemóveis…

- Que nada se interponha entre o tu e os teus amigos…

- A melhor mensagem que receberás durante essa refeição é a presença transparente de todos sem vícios digitais…

- Olha para os olhos dos seus amigos contigo na mesa em vez de teres os olhos presos ao ecrã do telemóvel…

- Precisas ter as tuas mãos livres para usares os talheres e copos da refeição do que os dedos colados no telemóvel.

- Se usares o telemóvel durante o jantar… mais valia ficares no quarto e receberes as imagens dos teus pratos preferidos para te saciares assim…

- O telemóvel é sempre um convidado indesejável ou uma presença intrometida. É como levar alguém que não foi convidado.

- É preferível colocar uma fotografia na tua cadeira do que estares ocupado com o telemóvel

- Usar o telemóvel durante as refeições é um crime emocional e…sanitário.

- Usar o telemóvel à mesa é roubar atenção, espaço e valor à família ou aos amigos.

- O telemóvel dispersa a atenção durante as refeições, quando à mesa deviam estar todos unidos num só corpo, num só coração e numa só alma…

 

À margem 1

Estávamos todos sentados à mesa de um restaurante em cavaqueira amena à espera que os pratos encomendados fossem servidos.

Pouco a pouco as vozes fossem-se calando e um a um, cada qual começou a usar o seu telemóvel, as duas mãos a segurá-lo, os olhos fixos no ecrã, os dedos a deslisar agilmente e um sorriso de satisfação no rosto…

Como não sou pessoa de ser melhor nem diferente dos outros, com toda a calma, saquei da minha mochila um livro, um romance grosso para que todos vissem e fingi que lia…

Também um por um, cada qual engoliu a seco a censura velada e não foi preciso mais nada para que de novo a conversa comum animasse toda a malta.

 

À margem 2

Quando fores convidado para um banquete não tomes o primeiro lugar…

Sê tu semelhante a Jesus e não forces os outros a isso.

A mãe estava a preparar panquecas para o pequeno almoço dos seus filhos – Kevin de 5 anos e Ryan de 3 anos. Os rapazes começaram a discutir quem ficaria com a primeira panqueca. Então a mãe, piedosamente diz:

- Se Jesus estivesse aqui, ele diria: Eu deixo para o meu irmão a primeira panqueca porque eu posso esperar.

Imediatamente Kevin vira-se para o seu irmão e diz-lhe:

- Ryan, tu és o Jesus.

 

Ver também:

À mesa com Jesus

H antes de G

Os presentes das pessoas e as pessoas presentes

Trampolim da humildade

Sem esperar retribuição

Humilhar-se

 

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

São João, Profeta sem medo

 

Martírio de São João Baptista, Memória

Nenhum homem é maior do que João Baptista, disse Jesus.

Admiro estas palavras de Jesus.

Sinto uma atração especial por este homem de Deus que é João Baptista.

Sou seduzido pela sua coragem, pelo seu ‘não ter medo de nada e de ninguém’.

A sua verdade fere como uma espada, provoca ao mesmo tempo admiração e ódio.

Ouvimo-lo com alegria, mas sentimo-nos confrontados e condenados por causa da dureza dos nossos corações.

Ele clama contra a mentira, o adultério, a corrupção, a superficialidade, a dureza, a hipocrisia, a vida fácil da corte, a falsa religião.

Ele prega no deserto, reza, ouve o que Deus lhe diz e retorna ao meio do povo como uma chama ardente.

 

Parece que hoje já não há profetas assim.

Os profetas do nosso tempo são brandos, dietéticos, light, tímidos e têm medo das reações dos outros.

A palavra ‘discriminação’ tornou-se uma bandeira para acusar aqueles que não pensam como nós.

Mas um profeta é feito para provocar consciências e não para camuflar. Não usa outra arma além de ser ele mesmo.

 

Hoje rezo para que cada cristão seja um profeta sem medo, tal como São João Baptista.

Que as suas palavras sejam coerentes com a sua vida.

É melhor estar sozinho com a verdade do que com muitos outros na mentira.

(Adaptado de Frei Patrício Sciadini)

 

À margem

O martírio da fidelidade quotidiana:

Caros irmãos e irmãs, celebrar o martírio de São João Baptista recorda-nos, também a nós cristãos deste nosso tempo, que não se pode ceder a compromissos com o amor a Cristo, à sua Palavra e à Verdade. A Verdade é Verdade, não existem compromissos. A vida cristã exige, por assim dizer, o «martírio» da fidelidade quotidiana ao Evangelho, ou seja, a coragem de deixar que Cristo cresça em nós e que seja Cristo quem orienta o nosso pensamento e as nossas ações. Mas isto só se verifica na nossa vida se a nossa relação com Deus for sólida. A oração não é tempo perdido, não é roubar espaço às atividades, inclusive às obras apostólicas, mas é precisamente o contrário: se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante e confiante, o próprio Deus dar-nos-á a capacidade e a força para viver de modo feliz e tranquilo, para superar as dificuldades e testemunhá-lo com coragem. São João Baptista interceda por nós, a fim de sabermos conservar sempre o primado de Deus na nossa vida. (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 29 de agosto de 2012)

 

Ver também:

Mártir que dizer testemunha

A pressa mata a verdade

O lugar de João Baptista

Pequenas coisas

Lições de Herodes e de João Baptista

Martírio de João Baptista

 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Retratos de Santo Agostinho


Memória de Santo Agostinho

Bispo e Doutor da Igreja

 

Santo Agostinho (Aurelius Augustinus) nasceu em 354 em Tagaste, no norte de África (Argélia). A mãe, católica fervorosa, transmitiu ao filho a sua fé ardente. Mestiço africano (tuaregue) mas romano pela cultura, foi escritor, filósofo, teólogo e bispo. Converteu-se ao Catolicismo sob influência de Santo Ambrósio, Bispo de Milão. Foi ordenado sacerdote em Hipona, no norte de África, e eleito bispo coadjutor de Hipona e pouco depois bispo titular. Escreveu tratados filosóficos, teológicos, comentários de livros da Bíblia, sermões e cartas. Morreu a 28 de agosto de 430, em Hipona.

O grande pregador Pe. António Vieira chamava-lhe o maior Santo entre os Doutores e o maior Doutor entre os Santos.

1º - O retrato mais antigo

Esta é a pintura ou fresco mais antigo conhecido de Agostinho de Hipona. Foi pintado no século VI por artista desconhecido e encontra-se no Palácio de Latrão.

Podemos confirmar os seus traços africanos, a sua paixão pela Palavra e pela escrita (livros e pregações) estilo coloquial, mestre de oratória e perfil filosófico.

2º - O retrato mais conhecido

Existem muitos retratos de Santo Agostinho na arte, com o estilo variando de acordo com a época e o artista.

As representações de Santo Agostinho frequentemente o mostram com a mitra e os atavios episcopais, como báculo e anel, características da iconografia posterior à sua vida, em contraste com seu hábito de monge cinza usado no dia a dia.

O retrato mais conhecido de Santo Agostinho, é a pintura de Philippe de Champaigne, criada entre 1645 e 1650.

A obra retrata Santo Agostinho sentado em uma cadeira ricamente decorada, vestindo ornamentadas vestes. Ele segura uma pena na mão e olha para cima em direção à Verdade divina. Um coração em chamas ascende do seu peito…

O cenário é um estúdio, com estantes repletas de volumes ao fundo, sugerindo um ambiente académico. Um púlpito com um livro aberto é visível à esquerda, e uma mesa com mais livros e um tecido ricamente estampado está à direita. A luz concentra-se na figura do Santo, criando um efeito dramático. O estilo geral é Barroco, caracterizado por cores ricas, iluminação dramática e representação detalhada das texturas. A pintura mede 0,622 metros de largura e 0,787 metros de altura e faz parte da coleção do Museu de Arte do Condado de Los Angeles.

Os sinais identificativos ou iconográficos de Santo Agostinho são – alfaias episcopais, livros, pena e um coração na mão. Este último símbolo refere-se à sua frase emblemática - “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração estará inquieto, enquanto não descansar em ti.” (Confissões, livro I, cap. 1).

Para Santo Agostinho o amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.

3º - O retrato mais fiel

O melhor retrato para conhecer Santo Agostinho não saiu dos pincéis de nenhum artista, desenhado por outrem a não ser da sua própria pena e reflexão. Falamos do seu livro autobiográfico Confissões, o retrato mais fiel do Bispo de Hipona, feito por ele próprio. De facto, como lembrava o Pe. António Vieira - Os corpos retratam-se com o pincel, as almas com a pena...

No décimo livro das Confissões ele expõe precisamente as razões que o levaram a escrever a obra: não se trata apenas de reconhecer e admitir os próprios pecados, mas de descobrir, através da confissão dos mesmos, que só em Deus há verdadeira alegria e que só reconciliando-se com Deus através de Cristo o homem pode encontrar o seu caminho.

Ele o escreveu entre os anos 397 e 400, quando já era bispo, como uma obra autobiográfica e espiritual. Claro que como autobiografia está incompleta, porque depois de o ter escrito ainda viveu mais 30 anos e escreveu outras obras, graças a Deus.

O livro é considerado uma das primeiras autobiografias do Ocidente, mas vai além do simples relato da vida: Agostinho mistura a sua história pessoal com reflexões filosóficas, teológicas e orações a Deus. Fala sobre a sua infância, juventude marcada pelo pecado, a sua busca pela verdade e a conversão ao cristianismo, mostrando como a graça de Deus atuou na sua vida.

Para conhecer com fidelidade a figura de Santo Agostinho, não há maneira mais apropriada do que ler esta sua autobiografia.  De facto, As Confissões de Santo Agostinho são o retrato extraordinário desta alma tão grande, cuja sombra cobriu não só a Idade Média, como toda a história da humanidade.

Nota explicativa – Santo Agostinho não se refere a uma confissão sacramental como muitas que podemos pensar no senso comum. A confissão proposta por Agostinho é reflexiva, ou seja, é realizada pelo próprio indivíduo a si mesmo. Uma vez reconhecida a sua história pessoal e buscando a ajuda necessária para crescer, o homem pode entender a ação de Deus em todos os momentos da sua vida. E, por isso, a mudança acontece. A confissão sacramental, como estamos acostumados, é um sinal da presença de Deus. E é um alimento salutar no exercício da vida cristã católica.

 

À margem 1:

Peregrinos na Esperança – Ano jubilar 2025

Santo Agostinho (354-430) explica que a esperança é como um ovo.

O ovo embora já seja uma realidade (algo que existe empiricamente), ele não é um fim em si mesmo: transporta dentro de si algo mais, que ainda não se vê, mas que se intui que exista (o pintainho), porque existe o ovo. Portanto, quando vemos um ovo, não vemos apenas o ovo em si, mas algo mais: a esperança que o ovo transporta dentro de si (o pintainho).

Deixando para os mais hábeis a pergunta de quem nasceu primeiro, se a galinha ou o ovo, esta metáfora agostiniana elucida-nos sobre a importância da esperança: a capacidade de ver algo mais na realidade do que aquilo que a realidade nos permite ver “à primeira vista”.

A esperança não é tanto o ver coisas novas, mas ver as coisas de um modo novo. Porque a nossa vida não se reduz a este mundo, somos «peregrinos da esperança» em direção à eternidade.

Por esta razão, na relação com Deus não nos basta apenas alimentarmo-nos da fé e da caridade, precisamos também de ovos, ou seja, da esperança.

Sem esperança, a fé corre o risco de se reduzir a uma filosofia transitória e a caridade, a uma mera filantropia.

Em rigor, é a esperança que distingue um cristão de todos os outros (1Ts 4,13).

 

À margem 2

Santo Agostinho ao comentar a 1ª carta de São João, pergunta:

Que rosto tem o amor?

Que forma, que estatura, que pés, que mãos?

O amor tem pés que o levam à Igreja,

tem mãos que fazem o bem aos pobres,

tem olhos com os quais se descobre quem está em necessidade.

 

À margem 3:

Na vida do padre não há panela sem toucinho

Nem sermão sem Santo Agostinho.

À margem 4

Um Papa agostiniano.

O papa Leão XIV é membro da Ordem de Santo Agostinho desde 1977 e da qual foi o Prior Geral por 12 anos (2001-2013). É a primeira vez que um Papa faz parte desta Congregação.

Numa entrevista recente, o Cardeal Prevost foi questionado:

- Como é que a figura de Santo Agostinho o ajuda na sua vida diária?

- Quando penso em Santo Agostinho, na sua visão e compreensão do que significa pertencer à Igreja, uma das primeiras coisas que me vem à mente é o que ele diz sobre como não se pode dizer seguidor de Cristo sem fazer parte da Igreja. Cristo faz parte da Igreja. Ele é a cabeça. Portanto, aqueles que pensam que podem seguir Cristo "à sua maneira" sem fazerem parte do corpo, infelizmente, estão a viver uma distorção do que é realmente uma experiência autêntica. Os ensinamentos de Santo Agostinho tocam todas as áreas da vida e ajudam-nos a viver em comunhão. A unidade e a comunhão são carismas essenciais da vida da Ordem e parte fundamental da compreensão do que é a Igreja e do que significa estar nela.


Ver também:

A comunidade de Agostinho

Tolle, lege, toma, lê

Coração inquieto

Salmo de Santo Agostinho

Tríplice conversão

Agostinho é o seu nome

Lição do Doutor Agostinho

Tarde vos amei

Agostinho de Hipona

Coração de pedra

Pai nosso nos salmos

Pai nosso agostiniano

 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O poder de uma santa mãe


Memória de Santa Mónica (331-387)

mãe de Santo Agostinho

Durante 20 anos, 3 vezes ao dia Mónica ia à igreja chorar e rezar pela conversão do seu filho Agostinho:

 

1º O poder da oração

Não basta falar de Deus aos filhos (ensinar pela palavra e pelo exemplo)

É preciso falar dos filhos a Deus (rezar por eles).

 

2º O poder das lágrimas

Se Deus conta nossos cabelos,

também conta as nossas lágrimas.

O céu é o nosso objetivo:

Não se chega ao céu sem lágrimas.

 

3º O poder de ser mãe e de ser santa

Mónica conseguiu a conversão do ser filho não só por ser mãe, mas também por ser santa,

não apenas por ser santa, mas também por ser mãe.

De facto, todas as mães são santas e todas as santas são mães.

Não fazem milagres apenas por serem mães, mas também por serem santas.

Nem fazem conseguem a salvação dos seus filhos apenas por serem santas, mas também por serem mães.

Não basta ser mãe, é preciso ser santa.

Não basta ser santa, é preciso ser mãe.

 

Ver também:

Água mole em pedra dura

Chorai por nós

O poder da oração

Lições de uma santa esposa e mãe

Orações e lágrimas

 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

D. Teodoro e o Pe. Dehon


Neste dia das exéquias fúnebres de D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal de 1983 a 2007, recuperamos a sua nota pastoral sobre o Pe. Dehon. Por coincidência, neste mês e ano ocorre o centenário do falecimento do Pe. Dehon.

Nota Pastoral de D. Teodoro de Faria, 13 de março de 2005

A vocação do Pe. Dehon

1. A Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus é conhecida na diocese do Funchal desde 13 de outubro de 1946. O seu Fundador, o Padre Leão Dehon, embora não sendo um desconhecido entre nós, merece uma maior divulgação e reconhecimento, pois é uma eminente figura da Igreja. A sua beatificação será uma ocasião para o tornar mais conhecido e invocado junto de Deus pelo nosso povo.

Nascido em França, junto da fronteira com a Bélgica, a 14 de março de 1843 numa família de nobre ascendência, Deus mostrou por sinais claros ao jovem Leon que o chamava para o sacerdócio. Contrariado pelo seu pai na vocação, Leon estudou direito em Paris, esperando a ocasião propícia para os estudos de filosofia e teologia, o que veio a acontecer em Roma, após uma audiência com o beato Pio IX. Ficou hospedado como aluno no Seminário francês, junto ao Panteon, e frequentou a Universidade Gregoriana. Ordenado sacerdote, com a aprovação do pai, «durante um ano inteiro, escreveu, não fui capaz de celebrar sem lágrimas uma só vez».

Ao deixar Roma, ficou escrito nos registos do Seminário: Leão Dehon, da diocese de Soissons. Carácter excelente. Capacidade grandíssima. Piedade e regularidade perfeitas.

É este o carácter do jovem que Deus vai guiar na sua diocese, através de muitas dificuldades e trabalhos. Ele próprio vai reconhecer que a ação exterior o esmagava e a vida interior ressentia-se com demasiadas obras.

Sentindo-se inclinado para a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e reparação, confia ao seu bispo o projeto escondido de fundar um Instituto. Recebeu o consentimento do seu superior, que para ele significava o selo de Deus. Como em todas as grandes obras da Igreja, as dificuldades foram muitas e as provações muito fortes. Por causa de problemas de membros exaltados, teve até de depor em Roma, junto do Santo Ofício, que usou de mão forte para com o jovem sacerdote. A obra não morreu e a prova teve efeitos benéficos. O bispo escreveu-lhe então: «Hoje vós estais no caminho querido por Deus». A obra expande-se para fora da diocese e da Europa, embora sujeita a numerosas críticas e dificuldades. Em 1902 os religiosos estrangeiros são expulsos da França e os bens das Congregações religiosas confiscados e vendidos ao desbarato. O Padre Dehon procurou resolver todos os problemas surgidos com esta prova, chegando a escrever quinze cartas por dia.

Preparava o nono Capítulo Geral da Ordem, quando o Senhor o chamou à sua presença, a 12 de agosto de 1925.

 

O Coração de Cristo

2 - A característica da obra do Padre Dehon, não é o ensino nem a caridade, mas o «espírito de amor e de reparação ao Coração de Jesus». «O Coração de Cristo, escreve, é o símbolo do amor divino e humano de Jesus... é todo o Evangelho... O Coração de Jesus é como um novo nome de Jesus que ama, manifesta e encarna o amor de Deus».

O Pe. Dehon não inicia uma nova corrente de espiritualidade, ele vai ao centro do cristianismo, o amor. Lê o Evangelho e vive o mistério cristão sob o prisma do amor. Jesus é o amigo que pede o que há de mais central no homem: o coração, isto é o amor. O Pe. Dehon vive em profunda união com Cristo, mas também com as realidades humanas, onde se incarna o amor de Deus. Desta forma ele funde o amor de Cristo com o empenhamento apostólico e até social. «Nisto conhecemos o Amor, escreve S. João. Ele deu a vida por nós. Também nós devemos dar a vida pelos irmãos» (Jo. 3, 16).

 

O Pe. Dehon na Madeira

3 - Através dos seus filhos, os sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, o Pe. Dehon chegou à Madeira em 1946, há cerca de 59 anos. O Cardeal Teodósio de Gouveia, querendo patrocinar a causa missionária em Moçambique, pediu em Roma a Mons. Tardini, da Secretaria de Estado do Papa, que enviasse sacerdotes dehonianos para a Madeira, onde havia muitas vocações, para preparar sacerdotes para o mundo missionário. O bispo D. António Manuel Pereira Ribeiro, embora não partilhando do «demasiado otimismo» do Cardeal Gouveia, acolheu na Diocese os padres do Sagrado Coração de Jesus.

Passados estes anos o Colégio Missionário tem cumprido a sua missão. De alguma forma os seus membros, juntamente com outros padres e leigos, apresentam o rosto missionário da nossa Diocese que nunca perdeu a sua vocação universal…

 

Neste Ano da Eucaristia, a espiritualidade do Pe. Dehon, é uma oferta de Deus para melhor conhecer as «insondáveis riquezas» (Ef. 3, 8) do Coração de Jesus Cristo no sacramento do altar, sinal do grande amor de Deus pela humanidade.

 

Funchal, 13 de março de 2005, D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

À margem:

Para além desta atenção de D. Teodoro à beatificação do Pe. Dehon, registamos que a sua atenção foi transversal a tantos outros santos:

 

D. Teodoro de Faria, 

Bispo do Funchal de 1982 a 2007.

 

O Bispo que acolheu e tratou dos santos na Madeira:

1º - Recebeu São João Paulo II na Madeira (12 de maio de 1991)

2º - Apresentou Carlos de Áustria na sua Beatificação (3 de outubro de 2004)

3º - Iniciou o processo de beatificação

- Da Madre Wilson (18 de agosto de 1991)

- Da Madre Virgínia (29 de dezembro de 2006)

- Da Irmã Maria do Monte (4 de março de 2007)

 

Que descanse em paz com todos estes santos na glória de Deus.