Memória
de Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja, 1696-1787,
fundador dos Redentoristas, mestre de Teologia Moral
Uma história:
“Lições de um mendigo - Durante
muitos anos um padre pedira fervorosamente ao Senhor que lhe enviasse alguém
que o instruísse na vida espiritual.
Um
dia ouviu uma voz que lhe dizia:
-
Dirige-te a tal igreja: lá encontrarás o que desejas.
O
Padre obedeceu e à porta da igreja indicada encontrou um mendigo, descalço,
envolto em trapos, a quem saudou dizendo:
-
Bom dia, amigo.
-
Obrigado, Sr. - respondeu-lhe o mendigo - não me lembro, porém, de ter jamais
tido um mau dia.
-
Pois então, conceda-lhe Deus uma vida feliz.
-
Nunca fui infeliz, graças a Deus. Ouça-me, Padre. Não foi sem razão que eu
disse nunca ter tido um mau dia, pois, se tenho fome, louvo ao bom Deus; se
chove ou neva, bendigo-O; se alguém me despreza, me despede, ou se tenho de
suportar outros padecimentos, louvo por isso o Senhor. Disse também que nunca
fui infeliz, o que é igualmente verdade, pois estou acostumado a querer
incondicionalmente o que Deus quer. Tudo o que vem sobre mim, seja agradável ou
desagradável, recebo com alegria de suas mãos como a coisa melhor para mim, e
isso constitui a minha felicidade.
-
Mas se Deus quisesse condenar-te, o que dirias então?
-
Se Deus assim o quisesse, com humildade e amor prender-me-ia tão estreitamente
a Ele que, precipitando-me ao inferno, arrastá-lo-ia comigo e junto dele
achar-me-ia tão feliz no inferno como sem ele infeliz no Céu.
-
Onde encontraste a Deus?
-
Achei-o quando abandonei as criaturas.
-
Quem és tu?
-
Um rei.
-
Onde tens o teu reino?
-
No meu coração, onde reina a ordem, pois as minhas paixões obedecem à razão e a
minha razão a Deus.
-
Como conseguiste tal perfeição?
-
Calando-me diante dos homens para me ocupar com o meu Salvador e conservando-me
continuamente unido a Deus, em Quem encontro o meu descanso e toda a minha
felicidade.
Assim,
com a sua conformidade com a vontade de Deus, conseguira esse mendigo uma
grande perfeição e apesar de sua pobreza sentia-se mais rico que todos os
príncipes do mundo e, não obstante seus padecimentos, mais feliz que todos os
mundanos na posse das alegrias terrestres.”
(Cf.
Afonso de Ligório in 'A Escola da Perfeição Cristã')
Um pensamento:
“Quem
quiser o fruto tem que ir à árvore. Quem quiser chegar a Jesus tem de procurar
Maria, encontrar um é encontrar o outro.”
(Afonso
Maria de Ligório)
Uma oração:
Ó Espírito Santo,
divino Paráclito, Pai dos pobres, Consolar dos aflitos, santificador das almas,
eis-me aqui, prostrado na tua presença. Adoro-te com a mais profunda submissão,
e repito mil vezes com os serafins que estão diante do teu trono: Santo, Santo,
Santo. Tu, que encheste de imensas graças a alma de Maria e inflamaste de santo
zelo os corações dos apóstolos, digna-te também abrasar o meu coração com o teu
amor.
Tu que és Espírito
Divino, fortalece-me contra os maus espíritos; tu que és fogo, acende em mim o
fogo do teu amor, tu que és luz, ilumina-me, faz-me conhecer as verdades eternas,
tu que és pomba, dá-me costumes puros, tu que és sopro cheio de doçura, dissipa
as tempestades que se levantam nas minhas paixões, tu que és nuvem, cobre-me
com a sombra da tua proteção, enfim, tu que és o autor de todos os dons
celestes…!
Peço-te, vivifica-me
com a tua graça, santifica-me com a tua caridade, governa-me com a tua
sabedoria, adota-me como teu filho pela tua bondade, e salva-me por tua
infinita misericórdia, para que não cesse nunca de bendizer-te, louvar-te e
amar-te, primeiro aqui na terra durante a minha vida e depois no céu durante
toda a eternidade.
Ámen.
(CF.
Afonso Maria de Ligório)
Ver também neste Quintal - 8 /5/2010:
Regra de vida sacerdotal
No início da sua carreira sacerdotal
Afonso Maria de Ligório traçou para si as seguintes regras de conduta:
1. Sou sacerdote. Supera a minha
dignidade a dos anjos. É, pois, minha obrigação viver angelicamente puro.
2. Deus digna-se obedecer-me. Muito
mais, portanto, sou eu quem deve obedecer à sua voz, às sias inspirações da
graça, à vontade dos meus superiores.
3. A santa Igreja prestou-me a maior
honra; por minha vez devo eu honrá-la pela santidade da minha vida, por meu
trabalho, por um combate indefeso contra o erro e a impiedade.
4. Ofereço Jesus ao Pai Celeste. Tenho,
por conseguinte, que me revestir das Suas virtudes a fim de tratar dignamente
este mistério de todos o mais sublime.
5. O Senhor me constituiu ministro de
reconciliação, medianeiro entre Deus e os homens. Logo, tenho que perseverar na
amizade de Deus a fim de tornar fecundo o seu ministério.
6. Os fiéis consideram-me exemplo das
virtudes que devem praticar; é, pois, dever meu edificá-los constantemente e
portar-me digna, prudente e seriamente, mas sem grossaria ou altivez.
7. O padre deve triunfar sobre o
inferno, o mundo e a carne; razão por que devo corresponder à graça a fim de
alcançar a vitória neste tremendo combate.
8. Os pecadores esperam de mim a sua
conversão. Logo, tenho de me esforçar nesse sentido pelas minhas orações,
exemplos, palavras e obras.
9. Na qualidade de sacerdote é meu dever
odiar o respeito humano, a amizade mundana, a ambição e o interesse próprio,
pois que essas coisas deslustram o sacerdócio e levam bastantes padres à
perdição.
10. Recolhimento, zelo ardoroso, oração
meditativa, virtude sólida, têm que constituir a minha ocupação diária, se eu
quiser agradar a Deus.
11. Não me é lícito procurar coisa
alguma a não ser a glória de Deus, a santificação da minha alma, a salvação do
meu próximo. Tenho que me empenhar nisso incessantemente, mesmo à custa da
minha vida.
12. Finalmente: sou sacerdote, quer
dizer: obriga-me um dever de estado a ornar de virtudes as almas e a glorificar
a Jesus, Sacerdote Eterno.
Sem comentários:
Enviar um comentário