quarta-feira, 1 de agosto de 2018

De mão beijada e calejada


4ª feira – XVII semana comum

Parábolas do Tesouro escondido e da Pérola de grande valor.
A palavra tesouro faz-me lembrar algo que nos é dado de mão beijada.
Mas não é bem assim…
Há muitas parábolas que explicitam a dupla dimensão: de mão beijada e ao mesmo tempo de mão calejada.



















A história do tesouro do Rabi Eisik, filho do Rabi Jekel de Cracóvia, contada pelo filósofo Martin Buber (1878-1965).
“Depois de anos e anos de dura miséria que, no entanto, não tinham beliscado a sua confiança em Deus, Eisik teve em sonhos a ordem de ir a Praga buscar um tesouro que estava enterrado debaixo da ponte do palácio real. Como o sonho se repetiu por três vezes, pôs-se a caminho e andou, andou, andou até que chegou a Praga.
Mas a ponte era vigiada dia e noite pelas sentinelas que guardavam o palácio… E Eisik não teve coragem de escavar no local indicado. Todavia, voltava à ponte todas as manhãs e ficava ali às voltas até ao entardecer. Um dia, o capitão da guarda, que tinha notado as suas idas e voltas, aproximou-se e perguntou-lhe simpaticamente se tinha perdido alguma coisa ou se estava à espera de alguém.
Eisik contou-lhe então o sonho que o tinha trazido da sua longínqua terra até ali. E o capitão desatou a rir:
- E tu, pobre homem, por dar crédito a um sonho vieste a pé até aqui? Ah, ah, ah! Estás arrumado se te fias em sonhos! Se fosse assim, eu havia de me ter metido a caminho para obedecer a um sonho e ir até Cracóvia, a casa de um judeu, um tal Eisik, filho de Jekel, à procura de um tesouro que está enterrado debaixo do fogão de sua casa. Eisik, filho de Jekel! Deves estar a brincar! Estou a ver-me a entrar e a vasculhar em todas as casas de uma cidade em que metade dos judeus se chamam Eisik e a outra metade Jekel?! E riu-se novamente.
Eisik agradeceu, saudou-o, voltou para a sua terra e, na sua casa, escavou debaixo do fogão e desenterrou o tesouro com que construiu a sinagoga chamada “Escola do Rabi Eisik, filho do Rabi Jekel”.

O tesouro escondido é um presente, mas também trabalho. É oferta, mas também esforço. É doação, mas também transpiração. É graça, mas também conquista.
É preciso ter o trabalho de procurar. E depois chegamos à conclusão que sempre esteve bem perto de nós.
O verdadeiro tesouro é o que nos é dado na Eucaristia:
Bendito sejais, Senhor, pelo que Pão e pelo Vinho que recebemos da vossa bondade, frutos da vossa mão, da terra e do trabalho do homem…

Hoje quando quiser encontrar-me com Deus, terei o cuidado de O procurar bem perto de mim, ou melhor, dentro de mim…

Hoje quero rezar de mãos abertas para me lembrar de que tudo o que recebo é de mão beijada, mas também de mão calejada.

Hoje, ao comungar, receberei o Tesouro da Eucaristia numa mão (dom) e tomarei com a outra mão (esforço).




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