4ª
feira – XVII semana comum
Parábolas
do Tesouro escondido e da Pérola de grande valor.
A
palavra tesouro faz-me lembrar algo que nos é dado de mão beijada.
Mas
não é bem assim…
Há
muitas parábolas que explicitam a dupla dimensão: de mão beijada e ao mesmo
tempo de mão calejada.
A história
do tesouro do Rabi Eisik, filho do Rabi Jekel de Cracóvia, contada pelo filósofo
Martin Buber (1878-1965).
“Depois
de anos e anos de dura miséria que, no entanto, não tinham beliscado a sua
confiança em Deus, Eisik teve em sonhos a ordem de ir a Praga buscar um tesouro
que estava enterrado debaixo da ponte do palácio real. Como o sonho se repetiu
por três vezes, pôs-se a caminho e andou, andou, andou até que chegou a Praga.
Mas
a ponte era vigiada dia e noite pelas sentinelas que guardavam o palácio… E
Eisik não teve coragem de escavar no local indicado. Todavia, voltava à ponte
todas as manhãs e ficava ali às voltas até ao entardecer. Um dia, o capitão da
guarda, que tinha notado as suas idas e voltas, aproximou-se e perguntou-lhe
simpaticamente se tinha perdido alguma coisa ou se estava à espera de alguém.
Eisik
contou-lhe então o sonho que o tinha trazido da sua longínqua terra até ali. E
o capitão desatou a rir:
- E
tu, pobre homem, por dar crédito a um sonho vieste a pé até aqui? Ah, ah, ah!
Estás arrumado se te fias em sonhos! Se fosse assim, eu havia de me ter metido
a caminho para obedecer a um sonho e ir até Cracóvia, a casa de um judeu, um
tal Eisik, filho de Jekel, à procura de um tesouro que está enterrado debaixo
do fogão de sua casa. Eisik, filho de Jekel! Deves estar a brincar! Estou a
ver-me a entrar e a vasculhar em todas as casas de uma cidade em que metade dos
judeus se chamam Eisik e a outra metade Jekel?! E riu-se novamente.
Eisik
agradeceu, saudou-o, voltou para a sua terra e, na sua casa, escavou debaixo do
fogão e desenterrou o tesouro com que construiu a sinagoga chamada “Escola do
Rabi Eisik, filho do Rabi Jekel”.
O
tesouro escondido é um presente, mas também trabalho. É oferta, mas também
esforço. É doação, mas também transpiração. É graça, mas também conquista.
É
preciso ter o trabalho de procurar. E depois chegamos à conclusão que sempre esteve
bem perto de nós.
O
verdadeiro tesouro é o que nos é dado na Eucaristia:
Bendito
sejais, Senhor, pelo que Pão e pelo Vinho que recebemos da vossa bondade,
frutos da vossa mão, da terra e do trabalho do homem…
Hoje
quando quiser encontrar-me com Deus, terei o cuidado de O procurar bem perto de
mim, ou melhor, dentro de mim…
Hoje
quero rezar de mãos abertas para me lembrar de que tudo o que recebo é de mão
beijada, mas também de mão calejada.
Hoje,
ao comungar, receberei o Tesouro da Eucaristia numa mão (dom) e tomarei com a
outra mão (esforço).
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