Pe. Dehon, recém-nomeado vigário de São Quintino, aos 28 anos.
No
Natal de 1871, como novo vigário de São Quintino, o Pe. Dehon fez o seu
primeiro Sermão na Basílica.
Refletindo
sobre esse sermão, 25 anos mais tarde ao escrever as suas Memórias, afirmou:
“Fiz
um verdadeiro sermão social.
O
meu discurso era conforme à realidade. Tudo o que eu dizia, em especial sobre a
deplorável organização do mundo do trabalho e dos negócios, é o que viria a
dizer Leão XIII nas suas encíclicas. Todavia, hoje, penso que não deveria ter
feito esse sermão ou, pelo menos, nesse tom.
Eu
era jovem, era o meu primeiro grande sermão na paróquia, não deveria começar
por uma reprimenda sobre os costumes da sociedade e da cidade…” (cf. NHV 8)
O
sermão foi, de facto, muito polémico, e o Pe. Gobaille, arcipreste da Basílica,
repreendeu-o paternalmente, mas pelo menos, converteu uma pessoa: “Diga-se o
que se disser do meu sermão, ele produziu um efeito profundo, pelo menos sobre
uma pessoa que precisava de voltar para Deus. A sua conversão datou desse Natal
e todos os anos ela oferecia-me, em sinal de gratidão, um cabaz de presentes e
um rico donativo para as minhas obras.”
Extratos
mais brandos desse sermão de Natal:
“…
Aproximemo-nos do presépio.
Que encontramos aí?
Vimos
um Menino deitado na manjedoura… numa gruta de Belém.
Que
profundo mistério!
É
no meio da noite escura e fria que ele vem, para significar o estado gritante
das trevas e do frio deste mundo de morte.
Jesus
é anunciado por uma estrela para mostrar que ele é a luz e que vem dissipar as
trevas do mundo.
O
Filho de Deus fez-se Menino para nos ensinar a humildade.
Está
envolto em panos para nos ensinar a afastar os prazeres dos sentidos.
Nasceu
num estábulo para nos levar ao desapego dos bens terrenos.
Nós
iremos considerar primeiro as pragas do mundo de todos os tempos e
particularmente do nosso e depois meditaremos sobre os remédios que o
nascimento de Jesus nos traz.
O
orgulho…
A
concupiscência da carne…
A
concupiscência dos olhos…
Os
vícios privados…
A
avareza e o capitalismo…
A
exploração dos operários…
A
luta fraticida…
O
presépio traz-nos a luz, ensinando-nos o desapego das riquezas.
A
vós, os ricos, o presépio ensina dar largamentge parte das vossas riquezas aos
pobres. Vós já o fazeis, bem sei, mas redobrai o vosso zelo esclarecido. Se
aparecer alguma associação a criar, se a ciência da econmia cristã vos surgerir
algum meio para levantar o pobre, instruindo-o e moralizando-o, agarrai logo a
ocasião.
Vós,
pobres, não tendes nada a esperar dum rico sem religião, nem mesmo da revolução
social que destruiria todas as riquezas, mas tendes tudo a esperar do rico
católico, cujos benefícios já recebeis e que fará para vós muito mais, quando
se permitir à Igreja respirar e procurar nas inspirações da sua fé e da sua
caridade meios mais poderosos para vos ajudar. A vossa salvação consiste,
portanto, em aproximar a sociedade a Cristo, primeiro pelo vosso exemplo e
pelas vossas orações e depois pela influência que os vossos direitos de
cidadãos vos pode dar sobre os destinos da pátria…”
Sem comentários:
Enviar um comentário