quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Primeiro Sermão de Natal























Pe. Dehon, recém-nomeado vigário de São Quintino, aos 28 anos.

No Natal de 1871, como novo vigário de São Quintino, o Pe. Dehon fez o seu primeiro Sermão na Basílica.
Refletindo sobre esse sermão, 25 anos mais tarde ao escrever as suas Memórias, afirmou:
Fiz um verdadeiro sermão social.
O meu discurso era conforme à realidade. Tudo o que eu dizia, em especial sobre a deplorável organização do mundo do trabalho e dos negócios, é o que viria a dizer Leão XIII nas suas encíclicas. Todavia, hoje, penso que não deveria ter feito esse sermão ou, pelo menos, nesse tom.
Eu era jovem, era o meu primeiro grande sermão na paróquia, não deveria começar por uma reprimenda sobre os costumes da sociedade e da cidade…” (cf. NHV 8)
O sermão foi, de facto, muito polémico, e o Pe. Gobaille, arcipreste da Basílica, repreendeu-o paternalmente, mas pelo menos, converteu uma pessoa: “Diga-se o que se disser do meu sermão, ele produziu um efeito profundo, pelo menos sobre uma pessoa que precisava de voltar para Deus. A sua conversão datou desse Natal e todos os anos ela oferecia-me, em sinal de gratidão, um cabaz de presentes e um rico donativo para as minhas obras.”

Extratos mais brandos desse sermão de Natal:
“… Aproximemo-nos do presépio. 
Que encontramos aí?
Vimos um Menino deitado na manjedoura… numa gruta de Belém.
Que profundo mistério!
É no meio da noite escura e fria que ele vem, para significar o estado gritante das trevas e do frio deste mundo de morte.
Jesus é anunciado por uma estrela para mostrar que ele é a luz e que vem dissipar as trevas do mundo.
O Filho de Deus fez-se Menino para nos ensinar a humildade.
Está envolto em panos para nos ensinar a afastar os prazeres dos sentidos.
Nasceu num estábulo para nos levar ao desapego dos bens terrenos.
Nós iremos considerar primeiro as pragas do mundo de todos os tempos e particularmente do nosso e depois meditaremos sobre os remédios que o nascimento de Jesus nos traz.
O orgulho…
A concupiscência da carne…
A concupiscência dos olhos…
Os vícios privados…
A avareza e o capitalismo…
A exploração dos operários…
A luta fraticida…
O presépio traz-nos a luz, ensinando-nos o desapego das riquezas.
A vós, os ricos, o presépio ensina dar largamentge parte das vossas riquezas aos pobres. Vós já o fazeis, bem sei, mas redobrai o vosso zelo esclarecido. Se aparecer alguma associação a criar, se a ciência da econmia cristã vos surgerir algum meio para levantar o pobre, instruindo-o e moralizando-o, agarrai logo a ocasião.
Vós, pobres, não tendes nada a esperar dum rico sem religião, nem mesmo da revolução social que destruiria todas as riquezas, mas tendes tudo a esperar do rico católico, cujos benefícios já recebeis e que fará para vós muito mais, quando se permitir à Igreja respirar e procurar nas inspirações da sua fé e da sua caridade meios mais poderosos para vos ajudar. A vossa salvação consiste, portanto, em aproximar a sociedade a Cristo, primeiro pelo vosso exemplo e pelas vossas orações e depois pela influência que os vossos direitos de cidadãos vos pode dar sobre os destinos da pátria…”



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