O
Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a
Introdução
Vou
falar-vos das linhas de força que levaram o Pe. Ângelo Colombo a viver como
viveu e a realizar o que fez.
Entendo
referir-me. Dum modo particular, aos anos em que vivi com ele: os meus três
primeiros anos de formação (1948-1951).
Tinha
eu cerca de 14 anos quando, em 1948, entrei no Colégio Missionário do Funchal.
Encontrei um Pe. Colombo de 35 anos, já muito entusiasta pela Obra que estava a
levar por diante, mas também preocupado pela solução dos problemas económicos.
Eu era ainda adolescente e, como tal, não conseguia imaginar as reais
dificuldades dos meus formadores nesse sector.
Fui
convidado a pensar que havia dificuldades quando em junho de 1948, após
ter-lhes dirigido o meu pedido de entrada, foi-me respondido que já não havia
lugar para mim… que decidisse frequentar o Colégio Missionário como externo ou
então que esperasse pelo ano seguinte! A minha resposta foi que não me sentia
ser aluno externo dado que “uma ovelha fora do aprisco facilmente se desgarra”.
A verdade é que acabei por entrar quinze dias após o início das aulas.
Entretanto, já tinham conseguido encontrar dinheiro para a compra da cama, dos
livros, da carteira, da cadeira e não só!...
Penso
que no dia da minha consagração definitiva e da ordenação presbiteral, o Pe.
Colombo e os outros padres sentiram-se profundamente consolados pelo esforço
feito por ocasião da minha entrada. Diga-se, de passagem, que dos 18 alunos que
tinham entrado em 1948, segundo ano da presença dehoniana em Portugal, fui eu,
apenas, quem perseverou até ao fim!...
As
linhas de força do Pe. Colombo partem da espiritualidade e carisma dehonianos
que ele soube fazer seus a al ponto de parecer que tudo procedia da sua pessoa.
Aqui
vão aquelas que mais me tocaram a mente e, sobretudo, o coração.
Uma fé viva
– O Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a e propunha-a com a sua
vida, com o seu sorriso, com a sua grande capacidade de trabalho e doação.
Refere
ele nas suas “Memórias” que um dia, tendo de encontrar-se com o casal
proprietário da “Chácara Brazil”, Dr. Jacinto Henriques e D. Estrela, e devendo
aguardar uns instantes na sala de espera, decididamente ajoelhou-se uns
instantes sobre a cadeira e orou pelo sucesso da conversa. Entretanto, D.
Estrela, abre a porta de repente e encontrou-o em oração. Isto bastou para que
o casal compreendesse com “quem” andava a lidar. A confirmação da venda da casa
e da propriedade foi-lhe logo dada. Deste modo, a Chácara Brazil” passou a ser
Chácara do Coração de Jesus”.
Uma vida de oração
contínua – O Pe. Colombo é um dos tantos homens que se
deixou encontrar por Jesus Cristo vivo e Ressuscitado e que, como Paulo, se viu
com a sua vida radicalmente mudada. A sua oração contínua será a verdadeira
explicação do seu dinamismo e da sua santidade.
Facilmente
se encontrava o Pe. Colombo ajoelhado, na capela, em oração ou então de terço
na mão a passear no átrio ou em qualquer outro lugar em modos de quem estava em
diálogo com Deus. Terminada a celebração eucarística ajoelhava-se no
genuflexório da sacristia e entregava-se demoradamente, à ação de graças.
A
impressão que tinha naquela altura era que a oração, para ele, era mesmo muito
importante e ao mesmo tempo uma coisa natural.
Uma profunda relação
como Coração de Jesus – Entusiasmava-se quando falava da
reparação, da adoração eucarística, do puro amor, da necessidade de
corresponder ao amor com amor. Tínhamos a forte impressão que estes temas
faziam, realmente, parte integrante da sua espiritualidade.
Adoração eucarística
– Via-se que o Pe. Colombo resumia o seu “ser dehoniano” no ato da adoração
eucarística. Não me lembro de ter havido muitos dias da semana sem a adoração
eucarística. A grande necessidade da vigilância durante os exercícios da tarde
não constituía motivo suficiente para dispensar algum padre de a fazer. Muitas
vezes quando não era possível ter um padre para a vigilância, ele mesmo cocava
junto da secretária uma vassoura para nos ajudar a permanecer na presença de
Deus.
Um forte espírito de
sacrifício e de doação – Sendo eu ainda, de pouca idade
não podia compreender as profundas convicções que animavam a sua intensa
atividade, mas apercebia-me que tudo se alicerçava em bases muito seguras.
Um ardente zelo
apostólico – Tenho uma viva impressão da sua dedicação
apostólica, pois aquele homem não era capaz de parar. Dava aulas, contatava com
as pessoas que podiam ajudar a comunidade a resolver as suas inúmeras
dificuldades de ordem económica, apoiava os párocos nas suas contínuas
necessidades e dedicava-se à animação espiritual das comunidades religiosas com
confissões, retiros, Missa.
Um genuíno espírito
missionário – Um tema que estava no seu coração era
o das missões. A sua vocação missionária tinha sido provada. A princípio devia
seguir para o Egipto, depois para a Argentina e, por fim, desembarcar na
Madeira. O Pe. Colombo é um maravilhoso exemplo de como em qualquer parte se
pode fazer frutificar os dons recebidos de Deus e assim realizar a própria
missão apostólica.
Os
frutos de tanta disponibilidade e doação não tardaram. Em 1960 partia para
Moçambique o jovem religioso Manuel de Gouveia. Em 1962 seguia eu, já
presbítero. E pouco depois era a vez do Irmão José Diomário (hoje padre), do
Pe. Eduardo Ferreira de Sousa, do Pe. Francisco Vargem e dos jovens religiosos
Ir. Fernando Fonseca (hoje padre), Ir. Luís Silva, Pe. José Bairros, Manuel
Quintas, Isildo da Silva, Adérito Barbosa e José Ornelas.
O
Pe. Colombo não poderá ter deixado de exultar ao ver tantos e belos frutos do
seu trabalho e de seus colegas de formação. Mas a verdade é que esta primeira
experiência missionária teve uma maravilhosa continuidade quando a Província
Portuguesa passou a ter missões próprias em Madagáscar. E neste território já
temos religiosos malgaxes.
Assim
podemos compreender o tormento” sentido pelo Pe. Colombo nos dias que
precederam a sua ida para o Pai: como continuar a viver paralisado pela doença
sem poder partilhar da animada atividade missionária e apostólica dos membros
da Província? E o bom Deus libertou-o da sua aflição, levando-o para Si!
Conclusão
A
partilha que acabo de fazer sobre a personalidade do Pe. Colombo é apenas um
aceno à sua riqueza interior de homem dehoniano.
Muitas
outras suas virtudes mereceriam ser desenvolvidas aqui nesta primeira partilha,
como a sua coerência de vida, a simplicidade, a pontualidade, a gratidão para
com os benfeitores. A grande sensibilidade à presença da Providência de Deus na
vida, o voto e a virtude da pobreza, o amor ao silêncio como precioso meio para
advertir a voz e a vontade de Deus, a fidelidade à vida comunitária, a abertura
a qualquer ser humano e aos problemas da Igreja, a capacidade extraordinária de
total entrega à causa do Reino do Coração de Jesus.
Aqui
vão estas linhas como expressão da minha gratidão para com aquele que, com as
suas atitudes humanas e de fé, mito me ajudou a perseverar na vocação religiosa
e presbiteral num modo iluminado e alegre.
O
Pe. Colombo foi e é um precioso dom do Coração de Jesus e da Congregação à
Província Portuguesa.
O
Pe. Colombo foi, é e será, para cada um de nós, um ponto de referência
altamente inspirador e estimulador.
Pe.
José Vieira Alves, SCJ In UNÂNIMES, nº 4, Junho de 1995, páginas 102-106. O Pe.
José Alves, retornou adoentado de Moçambique e faleceu no Colégio Missionário a
17 de novembro de 2000.
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