sexta-feira, 26 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (5)


O Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a

Introdução
Vou falar-vos das linhas de força que levaram o Pe. Ângelo Colombo a viver como viveu e a realizar o que fez.
Entendo referir-me. Dum modo particular, aos anos em que vivi com ele: os meus três primeiros anos de formação (1948-1951).
Tinha eu cerca de 14 anos quando, em 1948, entrei no Colégio Missionário do Funchal. Encontrei um Pe. Colombo de 35 anos, já muito entusiasta pela Obra que estava a levar por diante, mas também preocupado pela solução dos problemas económicos. Eu era ainda adolescente e, como tal, não conseguia imaginar as reais dificuldades dos meus formadores nesse sector.
Fui convidado a pensar que havia dificuldades quando em junho de 1948, após ter-lhes dirigido o meu pedido de entrada, foi-me respondido que já não havia lugar para mim… que decidisse frequentar o Colégio Missionário como externo ou então que esperasse pelo ano seguinte! A minha resposta foi que não me sentia ser aluno externo dado que “uma ovelha fora do aprisco facilmente se desgarra”. A verdade é que acabei por entrar quinze dias após o início das aulas. Entretanto, já tinham conseguido encontrar dinheiro para a compra da cama, dos livros, da carteira, da cadeira e não só!...
Penso que no dia da minha consagração definitiva e da ordenação presbiteral, o Pe. Colombo e os outros padres sentiram-se profundamente consolados pelo esforço feito por ocasião da minha entrada. Diga-se, de passagem, que dos 18 alunos que tinham entrado em 1948, segundo ano da presença dehoniana em Portugal, fui eu, apenas, quem perseverou até ao fim!...

As linhas de força do Pe. Colombo partem da espiritualidade e carisma dehonianos que ele soube fazer seus a al ponto de parecer que tudo procedia da sua pessoa.
Aqui vão aquelas que mais me tocaram a mente e, sobretudo, o coração.
Uma fé viva – O Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a e propunha-a com a sua vida, com o seu sorriso, com a sua grande capacidade de trabalho e doação.
Refere ele nas suas “Memórias” que um dia, tendo de encontrar-se com o casal proprietário da “Chácara Brazil”, Dr. Jacinto Henriques e D. Estrela, e devendo aguardar uns instantes na sala de espera, decididamente ajoelhou-se uns instantes sobre a cadeira e orou pelo sucesso da conversa. Entretanto, D. Estrela, abre a porta de repente e encontrou-o em oração. Isto bastou para que o casal compreendesse com “quem” andava a lidar. A confirmação da venda da casa e da propriedade foi-lhe logo dada. Deste modo, a Chácara Brazil” passou a ser Chácara do Coração de Jesus”.
Uma vida de oração contínua – O Pe. Colombo é um dos tantos homens que se deixou encontrar por Jesus Cristo vivo e Ressuscitado e que, como Paulo, se viu com a sua vida radicalmente mudada. A sua oração contínua será a verdadeira explicação do seu dinamismo e da sua santidade.
Facilmente se encontrava o Pe. Colombo ajoelhado, na capela, em oração ou então de terço na mão a passear no átrio ou em qualquer outro lugar em modos de quem estava em diálogo com Deus. Terminada a celebração eucarística ajoelhava-se no genuflexório da sacristia e entregava-se demoradamente, à ação de graças.
A impressão que tinha naquela altura era que a oração, para ele, era mesmo muito importante e ao mesmo tempo uma coisa natural.
Uma profunda relação como Coração de Jesus – Entusiasmava-se quando falava da reparação, da adoração eucarística, do puro amor, da necessidade de corresponder ao amor com amor. Tínhamos a forte impressão que estes temas faziam, realmente, parte integrante da sua espiritualidade.
Adoração eucarística – Via-se que o Pe. Colombo resumia o seu “ser dehoniano” no ato da adoração eucarística. Não me lembro de ter havido muitos dias da semana sem a adoração eucarística. A grande necessidade da vigilância durante os exercícios da tarde não constituía motivo suficiente para dispensar algum padre de a fazer. Muitas vezes quando não era possível ter um padre para a vigilância, ele mesmo cocava junto da secretária uma vassoura para nos ajudar a permanecer na presença de Deus.
Um forte espírito de sacrifício e de doação – Sendo eu ainda, de pouca idade não podia compreender as profundas convicções que animavam a sua intensa atividade, mas apercebia-me que tudo se alicerçava em bases muito seguras.
Um ardente zelo apostólico – Tenho uma viva impressão da sua dedicação apostólica, pois aquele homem não era capaz de parar. Dava aulas, contatava com as pessoas que podiam ajudar a comunidade a resolver as suas inúmeras dificuldades de ordem económica, apoiava os párocos nas suas contínuas necessidades e dedicava-se à animação espiritual das comunidades religiosas com confissões, retiros, Missa.
Um genuíno espírito missionário – Um tema que estava no seu coração era o das missões. A sua vocação missionária tinha sido provada. A princípio devia seguir para o Egipto, depois para a Argentina e, por fim, desembarcar na Madeira. O Pe. Colombo é um maravilhoso exemplo de como em qualquer parte se pode fazer frutificar os dons recebidos de Deus e assim realizar a própria missão apostólica.
Os frutos de tanta disponibilidade e doação não tardaram. Em 1960 partia para Moçambique o jovem religioso Manuel de Gouveia. Em 1962 seguia eu, já presbítero. E pouco depois era a vez do Irmão José Diomário (hoje padre), do Pe. Eduardo Ferreira de Sousa, do Pe. Francisco Vargem e dos jovens religiosos Ir. Fernando Fonseca (hoje padre), Ir. Luís Silva, Pe. José Bairros, Manuel Quintas, Isildo da Silva, Adérito Barbosa e José Ornelas.
O Pe. Colombo não poderá ter deixado de exultar ao ver tantos e belos frutos do seu trabalho e de seus colegas de formação. Mas a verdade é que esta primeira experiência missionária teve uma maravilhosa continuidade quando a Província Portuguesa passou a ter missões próprias em Madagáscar. E neste território já temos religiosos malgaxes.
Assim podemos compreender o tormento” sentido pelo Pe. Colombo nos dias que precederam a sua ida para o Pai: como continuar a viver paralisado pela doença sem poder partilhar da animada atividade missionária e apostólica dos membros da Província? E o bom Deus libertou-o da sua aflição, levando-o para Si!
Conclusão
A partilha que acabo de fazer sobre a personalidade do Pe. Colombo é apenas um aceno à sua riqueza interior de homem dehoniano.
Muitas outras suas virtudes mereceriam ser desenvolvidas aqui nesta primeira partilha, como a sua coerência de vida, a simplicidade, a pontualidade, a gratidão para com os benfeitores. A grande sensibilidade à presença da Providência de Deus na vida, o voto e a virtude da pobreza, o amor ao silêncio como precioso meio para advertir a voz e a vontade de Deus, a fidelidade à vida comunitária, a abertura a qualquer ser humano e aos problemas da Igreja, a capacidade extraordinária de total entrega à causa do Reino do Coração de Jesus.
Aqui vão estas linhas como expressão da minha gratidão para com aquele que, com as suas atitudes humanas e de fé, mito me ajudou a perseverar na vocação religiosa e presbiteral num modo iluminado e alegre.
O Pe. Colombo foi e é um precioso dom do Coração de Jesus e da Congregação à Província Portuguesa.
O Pe. Colombo foi, é e será, para cada um de nós, um ponto de referência altamente inspirador e estimulador.

Pe. José Vieira Alves, SCJ In UNÂNIMES, nº 4, Junho de 1995, páginas 102-106. O Pe. José Alves, retornou adoentado de Moçambique e faleceu no Colégio Missionário a 17 de novembro de 2000.


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