quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Crónica da guerra (2)



Diário de setembro de 1914
Hoje começa o Conclave??? Uno as minhas orações às da Igreja.
Dia 1, dia de tristeza e incerteza. Os feridos e os mortos recolhidos no campo de batalha continuam a afluir. Nós damos o nosso apoio a uma ambulância da Cruz. Todas as ambulâncias ficam cheias. Muitas notícias falsas se propagam na cidade, sobretudo as notícias alarmantes.
Torna-se difícil alimentar-se. Faltam provisões.
Releio as vidas de almas vítimas do Coração de Jesus: Maria de Jesus, Maria Steiner, Maria Brotel. Que belos exemplo de vida interior, de união com Nosso Senhor, de abandono e imolação!
Dia 2. Segundo dia do Conclave? Aniversário de Sedan.
Os nossos Oficiais vão embora. Estiveram aqui três dias e não tivemos nada a reclamar deles. Eles esperam estar em breve em Paris...
Dia 3. O tempo está ótimo, mas todas as mentes estão inquietas e tristes. A justiça de Deus passa, a sua misericórdia continuará.
Não ouvimos mais os canhões. Muitos feridos padecem nas nossas ambulâncias. Deus concederá a sua graça quando expiação for suficiente.
Dia 4. O silêncio de uma cidade ocupada é doloroso para as nossas mentes ávidas de notícias.
Esta é a primeira sexta-feira do mês. Retiro, leituras piedosas, confiança no Coração de Jesus. Apesar de todas as nossas faltas, Nosso Senhor terá misericórdia de nós.
Releio a vida da Irmã Teresa do Menino Jesus e da piedosa Maria Brotel, desejo este espírito de simplicidade e de infância espiritual que tanto agrada ao Nosso Senhor.
Dia 5 e 6. A mesma situação. Leio as vidas dos santos, rezo, escrevo apontamentos sobre o Coração de Jesus.
Dia 7. Vou à cidade, que espetáculo! As pessoas do povo desempregadas e miseráveis, feridos transportados daqui para ali, a pé, de carro, mas os chefes em automóveis. As casas estão fechadas. A ira de Deus passa, o povo não parece compreender bem isso.
Dia 8. Bonita festa da Natividade de Maria. Peço à boa Mãe para restaurar a paz no mundo cristão.

Bento XV
Recebo hoje a notícia da nomeação do novo Papa, Bento XV. É o cardeal Della Chiesa, arcebispo de Bolonha, que é um dos nossos amigos. Era o confidente e auxiliar de Leão XIII e do Cardeal Rampolla.
Dias 9 e 10. Dias de espera, sem notícias. Leio e escrevo sobre o Coração de Jesus.
Dia 12. Festa do Santo Nome de Maria. Esta festa lembra a proteção conferida por Maria às nações católicas...esperemos.

Aniversário
Dia 14. Exaltação da Santa Cruz. Há 36 anos que esta casa do Coração de Jesus foi fundada sobre a Cruz. Quanto sofri lá de todas as maneiras, como isso me foi proveitoso! Humilhações, doenças, pobreza, contradições... depois a perseguição, as expulsões, e hoje a guerra! Fiat!
Mas também, eu tive muitas graças: graças sensíveis especialmente no início, e quantas obras saídas daqui e abençoados pela Providência.
É um dia de arrependimento e gratidão. Tenho a impressão que Nosso Senhor quer ainda hoje tudo perdoar.
Os canhões rugem ainda, é provavelmente o início de uma nova série de combates terríveis.
Estando nós mais numerosos em casa desde que a guerra começou, retomámos o costume de bênção diária do Santíssimo Sacramento. É uma grande consolação nesta confusão.
Dia 15. Bombardeamentos distantes.
Dia 16. Bombardeamentos muito próximos e intensos na parte da tarde pelas 4 horas. É tudo perto da cidade e esperamos a entrada do exército aliado. Oração e confiança na Providência.
Dia 17. Continua a falta de notícias. Nem uma publicada desde há três semanas. Continuam os bombardeamentos e tiroteios ao longe.
Delicio-me na leitura de um pequeno livro sobre a comunhão espiritual do meu santo amigo Pe. Francisco de Vouillé. É uma pequena brochura a divulgar. Podemos facilmente usar este método de comunhão espiritual nas nossa práticas de união com os mistérios de Nosso Senhor, nas diversas horas do dia.
Dia 18. Devíamos estar em retiro e na véspera do Capítulo. Esta guerra é uma grande prova para a nossa Congregação, e provavelmente vai durar também muito tempo. Que o Divino Coração de Jesus e Maria Mãe de Misericórdia venham em nosso auxílio!

La Salette
Dias 19-20. Aniversário de La Salette. 1846 é a data à qual remontam as minhas mais antigas recordações. Eu era pequeno: três anos e meio. A minha mãe e as minhas tias estavam a conversar sobre a aparição da Virgem de La Salette, com lágrimas, com medo de castigo para a França.
O castigo veio várias vezes. Mas as lágrimas de Maria suscitaram um florescimento de obras de penitência e reparação. Várias comunidades nasceram desta mentalidade criada por Nossa Senhora de La Salette. A nossa também é-o também inspirada em parte. Possa a medida da reparação ser em breve suficiente, para que Nosso Senhor nos conceda a graça por intercessão de Maria!
Entretanto, continuamos retidos em São Quintino. É o 23º dia e os ocupantes tornam-se mais duros.

A comunhão espiritual
Dias 21-22-23. Ainda a reclusão. A comunhão espiritual. De manhã, rezo a Santa Maria e a São José para me emprestar o Menino Jesus, como eles O emprestaram a Santa Gertrudes, a Margarida Maria, Santo António de Pádua, Santo Estanislau, São Caetano de Thiene. Às três da tarde viro-me para a ferida do lado de Jesus, como Santa Maria e São João no Calvário, como São Francisco e São Paulo da Cruz. Na adoração da tarde como na Ação de Graças da manhã, tento descansar a minha cabeça sobre o Coração de Jesus, como o Apóstolo São João e os santos do Coração de Jesus.
Dia de emoção, os ocupantes desejam levar todos os homens dos 18 aos 48 anos. Três dos nossos foram tomados. À noite, Nossa Senhora da Misericórdia deu uma ajudinha e surgiu uma contraordem.
No dia 25 tivemos de alojar cinco franciscanos de Vestefália, um padre e quatro irmãos, gente boa com boa conduta. Eles vêm fazer o serviço de enfermagem. Eles conhecem as nossas obras da Alemanha.
Dia26. A batalha aproxima-se. Ouvem-se os canhões nos dois lados da cidade. Trazem muitos prisioneiros e feridos.

Despertar da fé
Todas as pessoas rezam um pouco. Pedem medalhas, acendem círios a Nossa Senhora dos Exércitos. Há aqui um pouco de fé, um pouco de superstição e um instinto natural: o homem é um animal religioso. Deus é infinitamente misericordioso, contentar-se-á talvez um pouco. Ao lado disto há almas tão boas, que rezam muito sinceramente. 
O ministério nomeou o Sr. De Mun. Se esta gente nos quer dar uma república livre, uma república liberal, Deus perdoar-lhes-á a sua ignorância e a França tornar-se-á habitável.
As escolas sem Deus encheram a nossa cidade de uma série de gente não exemplar. As moças sobretudo são desprezíveis. Elas correm atrás dos soldados de todas as nações. São como os cães. Façam uma escola obrigatória, mas com a catequese e a educação cristã.
Dias 27-28-29. Ainda há tiros, mas nada significativos. As nossas ambulâncias estão congestionadas. Os feridos foram levados para a praça do liceu e para as avenidas, esperando poder removê-los ou acomodá-los. É um espetáculo constrangedor. Assim o quiseram os Impérios Centrais que declararam a guerra.
Dias 29-30. São Miguel não nos trouxe a nossa libertação. Já não ouvimos os canhões, a luta distancia-se. Paciência! São Quintino tem quatro a cinco mil feridos. Que carnificina em toda a frente de batalha!



sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Crónica da guerra (1)



O Pe. Dehon viveu no centro do cenário da I Guerra Mundial. Como é seu costume, nunca deixou de registar, quase diariamente, as suas vivências pessoais bem como o que se passava à sua volta.

Diário de agosto de 1914
No dia 2 foi ordenada a mobilização geral. São os dias maus de 1870 que regressam. A guerra de então chegava depois do Concílio, esta chega depois do Congresso Lourdes. Quais são os desígnios da Providência? A minha Congregação é dizimada: trinta e cinco dos meus franceses e outro tanto dos alemães são mobilizados.
Depois do Concílio, Deus permitiu a guerra para evitar um cisma. Não é este o mesmo caso?
Nossa Senhora de Lourdes vai tirar proveito da guerra para renovar a Europa e a França.
Os oficiais franceses são geralmente religiosos, isso deve-se aos colégios jesuítas e outros colégios da igreja. Nesta guerra existem dois fatores sobrenaturais que o mundo ignora: Nossa Senhora de Lourdes e a Companhia de Jesus.
Primeiras proezas das armas: resistência de Liège e tomada Mulhouse. Tomada de várias passagens em Vosges.
A Rússia promete autonomia à Polônia, é um grande fato histórico. É um grande reino católico que se erguerá.
Este é um momento de ansiedade para mim. Medo pela família, pelo país, pela Congregação. Tenho muitos dos meus filhos espirituais na guerra! Faltam os recursos. Os benfeitores reservam-se. É preciso uma confiança cega na Providência.
No dia 21 envio os meus jovens italianos para Bolonha. O noviciado está deveras prejudicado, há angústias por todos os lados.
Pio X morreu. Ele era nosso amigo, nosso benfeitor. Ele deu-nos a aprovação. Era um santo. Rezo por ele e invoco-o. Como era bom, simples e familiar, quando ia vê-lo! Ele não permitirá que São Pedro me receba mal lá no céu.

A guerra: angústias
Bruxelas está ocupada. As minhas angústias aumentam. O que acontecerá às minhas casas de Lovaina e de Ixelles?
O Pe. Wernz também morreu. Eu conhecia-o bem. Tenho no céu uma legião de amigos. Possam eles alcançar a minha conversão!
No dia 25 aos combates aproximam-se de nós. O perigo começa. Ofereço a minha vida pelo reino do Coração de Jesus, pela minha obra, pela Igreja: que Nosso Senhor me perdoe todas as minhas tão numerosas faltas. Eu amo-o assim mesmo e acima de tudo.
Dias de angústia. Ofereço a Deus todas as reparações de Nosso Senhor e dos santos. Os nossos sofrimentos quotidianos juntam-se aos méritos infinitos do Salvador.
Dia 27. Ouvimos os canhões durante todo o dia. A cidade está desorganizada: sem comboios, sem correio. É o pânico. Os Ingleses acompanham-nos com a sua compostura e confiança. A região vizinha está devastada. Caudry, Catry, Estrées, etc. etc, tudo está queimado e bombardeado. A população fugiu perturbada. O Pároco de Maissemy traz-nos o seu cibório cheio hóstias sagradas.

A ocupação
Dia 28. Santo Agostinho. Ouve-se o ruído dos canhões. Depois os tiros crepitam, sentimos o pó. Fiat!
Todas as nossas casas estão muito afetadas. Luxemburgo, Louvaina, Bruxelas, Mons, Quévy, por todo o lado a invasão e a guerra. Esta é precisamente a nossa missão reparadora.
Eu leio a vida de Mary Brotel, uma vítima e alma reparadora. Inspiro-me nos seus sentimentos.
É o aniversário da morte da Irmã Maria de Jesus, vítima de amor e de reparação. Conto bastante com suas orações. Trago o relicário de Santo André usado pelo Padre André, ele protege-me.
À noite a cidade é invadida, após dois dias de violentos combates. Deixemos que Nosso Senhor cumpra os Seus desígnios sobre as nações...
Dia 29. A ocupação da cidade é bastante tranquila. Os canhões rugem ao longe, a batalha continua a alguns quilómetros daqui.
Estes canhões que retumbam como a tempestade são assustadores, eles provocam terror. Quantas vidas são ceifadas nestes dias! Ofereço sem cessar as expiações e os méritos de Nosso Senhor e dos santos pelos que morrem e pelos que morreram. Repito os três nomes abençoados de Jesus, Maria, José.
A batalha situa-se agora a leste de São Quintino, no lado de La Fère. Os canhões retumbam mais fortes ainda que nos dias anteriores.
Invoco São João Batista cuja decapitação comemoramos. É um grande protetor da Igreja. Ele nos ajudará.
Há horas terríveis quando o tiroteio é tão violento que o sistema nervoso fica todo abalado. Foi-nos ordenado alojamento para os soldados inimigos, no entanto não vieram. O Coração de Jesus protege realmente a sua casa.
Dia 30. Domingo cinzento. Ninguém se atreve a sair das suas casas, os sinos calam-se. Há pouca gente nas igrejas. E, no entanto, é preciso rezar muito, orar sem cessar. Para a cristandade é um período tão grave!
Durante todo o dia os canhões rugem ainda, pelo menos até às 3 horas. Este é o 4º dia de batalha. Muitos feridos chegam à cidade.
Dia 31. Hoje será aberto o Conclave. Nós não sabemos nada sobre as coisas do exterior.
Dia de relativa calma: movimentos de tropas. Não se ouve a artilharia.
A batalha foi muito violenta durante quatro dias, especialmente no sábado. Hoje removem-se os mortos e os feridos, que são muitos. À noite temos de alojar três médicos oficiais alemães. Eles são católicos e bem-educados.
À noite os soldados aparecem para roubar, mas nossos oficiais metem-nos em ordem.


Pequenas coisas

Memória do martírio de João Batista
A - Ele foi o precursor de Jesus.
Precursor no nascimento, na missão e na morte.
Este é o lugar de João.
E o nosso lugar qual é?
Ao contemplarmos João precursor, saibamos assumir a nossa condição de seguidores.
Ele foi o precursor do Senhor para que nós possamos ser seguidores do mesmo Senhor.
Este é o nosso lugar: seguidores na vida, na missão e no testemunho.
B - Ganha-se ou perde-se por ninharias
João perdeu a cabeça porque antes Herodes, sua mulher e tantos outros já tinham perdido a cabeça com insignificâncias, tais como uma palavra, um gesto, uma dança, um momento...
Também nós ganhamo-nos ou perdemo-nos por pequenas coisas. Perdemos a cabeça, perdemos a paciência, perdemos a dignidade por ninharias, por uma palavra, por um gesto impensado, por um descuido... sempre por pequenas coisas.
Estas pequenas coisas podem tornar-nos pequenos ou grandes, consoante o que temos no nosso coração.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Tarde vos amei

Oração-poema que resume a vida de Santo Agostinho

Tarde Vos amei,
ó beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Vós estáveis dentro de mim,
mas eu estava fora,
e fora de mim Vos procurava;
com o meu espírito deformado,
precipitava-me sobre as coisas formosas que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava convosco.
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria, se não existisse em Vós.
Chamastes-me, clamastes e rompestes a minha surdez.
Brilhastes, resplandecestes e dissipastes a minha cegueira.
Exalastes sobre mim o vosso perfume:
aspirei-o profundamente, e agora suspiro por Vós.
Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me e agora desejo ardentemente a vossa paz.

(Confissões, X, 27-38)



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Lições de uma santa esposa e mãe

Memória de Santa Mónica

Ela tinha um mau marido e um mau filho.
A sua paciência, lágrimas, orações e perseverança fizeram com que tanto o marido, como o filho e ainda a sogra se convertessem.
(Saibamos nós também convertermo-nos para converter quem está mais perto de nós…)

Ela tinha um segredo para a harmonia familiar.
“Quando o meu marido está de mau génio, eu esforço-me por estar de bom génio. Quando grita, eu calo-me. E como para lutar são precisos 2, e eu não aceito a luta… então não lutamos..”
(Aprendamos a construir uma sã convivência. Esta depende de todos, mas sobretudo dos mais fortes…)

O seu filho Agostinho reconheceu que a sua mãe o tinha gerado na sua carne para que visse a luz do tempo como também o gerou com o seu coração para que nascesse à luz da eternidade.
Pois quando uma mãe se ajoelha em preces, um filho se levanta.
(Ajoelhemos e rezemos e à nossa volta o milagre acontecerá…)

Quando se preparava para regressar à sua terra natal no Norte de África, caiu doente.
As suas amigas lamentaram-se:
- Que pena morrer longe da sua casa…
- Não há sítio que esteja longe de Deus, de maneira que não tenho que temer. Deus encontrará o meu corpo para o ressuscitar em qualquer lugar.
(Não há lugar em que fiquemos longe de Deus, pois Ele encontra-se sempre perto de nós…)

O seu filho Agostinho, diz que apenas chorou uma hora pela morte de quem tinha chorado anos a fio pela sua conversão.
- Considero uma ofensa chorar por quem morre tão santamente. Saudade sim, tristeza não!
(Choremos antes pelos nossos pecados e a nossa alegria será completa…)


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Regressar a casa

Assunção da Virgem Santa Maria


O Evangelho da solenidade de hoje termina dizendo:

“Maria ficou junto de Isabel… 
e depois regressou a sua casa.”

É este o mistério que celebramos hoje.
Tal como Maria regressou a sua casa, depois da Visitação; assim também regressou a sua casa na Assunção.
De facto nós não temos aqui morada permanente.
A nossa casa, a nossa pátria está nos céus.

Ao contemplar Maria a regressar a sua casa, não esqueçamos que também um dia havemos de regressar à nossa casa pois não somos daqui.

E é tão bom regressar à nossa casa, ao aconchego do nosso lar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Parábola matemática


3ª Feira - XIX Semana Comum

A Parábola da Ovelha Perdida em linguagem matemática














Agradeço ao anónimo que partilhou comigo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O dia do Santo Cura


O Santo do dia
o Dia do Santo

O dia-a-dia do santo Cura de Ars

Desde os primeiros dias, o santo pároco começou a vir para a igreja, antes de amanhecer. De cada vez mais cedo, de forma que terminou por entrar na Igreja pela meia-noite ou uma da manhã.
Pouco a pouco, as mulheres da aldeia, depois, os peregrinos, afluíram desde essa hora para se confessarem. O Santo passava toda a noite no confessionário; só saía para dizer missa, pelas 6 ou 7 da manhã. Depois da ação de graças, ia imediatamente confessar homens, a não se nos períodos em que aceitava tomar um frugal pequeno-almoço. Depois pelas 10 horas rezava o breviário. Às 11 horas subia ao púlpito para a explicação do catecismo na igreja paroquial.
Depois de uma refeição despachada em poucos minutos, voltava para o confessionário a não ser que tivesse de visitar algum doente.
Pelas 7,30 ou 8 horas da tarde, rezava as orações da noite com o povo.
Ia depois para o quarto onde recebia sacerdotes e religiosos. Rezava matinas e laudes; tomava a disciplina e repousava na cama 2 ou 3 horas.

A partir do dia em que os peregrinos começaram a afluir, o Santo viveu encerrado no confessionário 12 ou 14 horas no inverno, 16 ou 18 no verão. E isto durante 30 anos. Nos últimos anos, calcula-se o número de peregrinos de 90.000. Esperavam por vezes durante 30, e às vezes até 70 horas.
E o santo ali ficava a ouvir o interminável estendal de misérias humanas, assentado no confessionário duro, abafadiço. “Algumas horas de confessionário, escreve Mons. Couvert, bastam para arrasar o padre mais robusto; sai dali com as pernas entorpecidas, a cabeça congestionada, sem quase poder pensar.

Na 6ª feira, dia 29 de Julho de 1859, o Santo pároco saiu para o confessionário, como era seu costume, pela 1 hora da manhã. O calor era sufocante, e o santo sufocava, Sentia-se abrasado pela febre. Facto sem precedente; por várias vezes teve de sair do confessionário para tomar ar. Às 11 horas ainda explicou o catecismo; ninguém lhe percebia palavra; só lhe viam as lágrimas que corriam pelo rosto, voltado para o sacrário. À noite veio o médico. O santo recolhera-se à cama, e não se levantou mais. Por fim, a 4 de Agosto de 1859, pelas 2 da manhã, enquanto uma trovoada desabava sobre Ars, o Santo Pároco expirou.
(CF A.R. in Mensageiro do Coração de Jesus, nº 828, braga, Agosto 1952, página 576 ss.)


terça-feira, 29 de julho de 2014

Falar, escutar, servir


Memória de Marta, Maria e Lázaro
Estes três santos irmãos de Betânia eram amigos íntimos e hospitaleiros do Senhor Jesus.
Mas cada um tinha o seu jeito próprio de O amar:
Lázaro falava.
Maria escutava.
Marta servia.
Três pessoas diferentes, três expressões diferentes, mas um único amor.
E Jesus correspondia a esta tríplice forma de amar porque os amava de igual modo.

Ainda hoje, nós podemos amar a Deus falando com Ele, escutando-O ou servindo-O.
Não interessa tanto o que se faz, mas sim o amor com que o fazemos.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sementes de humildade

2ª feira - XVII Semana Comum

Tanto a primeira como a segunda leitura falam em parábolas:
da faixa à cintura de Jeremias ou do grão de mostarda e do fermente na massa.
Tanto a primeira como a segunda leitura falam da falta de humildade (orgulho e soberba) e da afirmação da humildade como semente ou fermento.

Sementes de humildade:
1ª - A humildade é algo diminuto, quase uma insignificância... como uma semente de mostarda, a menor das sementes ou como uma pequena medida de fermento.
2ª - A humildade está disfarçada e é discreta. Tal como um grão de mostarda pode ser confundido com um grão de areia fina ou uma medida de fermento confundir-se com a massa ou o fermento em pó com a farinha. A humildade passa despercebida.
3ª - A humildade parece esconder-se. Tal como a semente é escondida na terra ou o fermento sepultado na massa. 
4ª - A humildade faz crescer os outros. Tal como a semente que faz germinar uma planta, tal como o fermento faz levedar a massa, assim a humildade valoriza tudo e todos.
5ª - A humildade deixa-se morrer, dá a vida ao serviço dos outros. O grão desaparece ao fazer crescer uma planta. O fermento morrer depois de cumprir o seu dever. 

domingo, 27 de julho de 2014

Coração de oiro

Ano A - XVII Domingo Comum

Em geral a Palavra de Deus dá-nos resposta às perguntas que nós fazemos.
Hoje invertem-se os papéis: É a palavra a formular a pergunta e nós é que devemos encontrar resposta.
É o caso de Salomão. Deus diz-lhe que faça um pedido, pois está disposto a responder...
E Salomão pede-lhe um coração inteligente...
E nós? Que podemos pedir a Deus? Tal como Salomão não peçamos nem saúde, nem lnga vida, nem riquezas, nem vitórias, nem felicidade, mas apenas um coração...
Que coração?

Um dia encontrei um aluno do primeiro ano que desenhava corações em todos os lugares e com tudo o que encontrava. Nos cadernos, livros, quadro, paredes, chão, carteiras.... era só corações...
Chamei-o à parte disse-lhe que em vez de desenhar (pois já tinha mostrado a todos de que era um bom desenhador) que escrevesse a palavra coração... e assim toda a gente ficaria a saber que também já sabia escrever. Ele aceitou e começou a escrever... a palavra coração, mas eu abanei a cabeça e apontei para um erro: CORASÃO. Disse-lhe que não era assim... que pensasse bem. Então ele perguntou se era com dois esses... Eu fiquei sem saber que responder e disse-lhe:
- De facto a palavra coração escreve-se não com um, nem com dois, mas com três esses. Escreve-se com um S de Sábio, com um S de Santo e com um S de Simples. Continua a desenhar em vez de escrever, mas nunca te esqueças dos três esses.

Foi o que agradou a Deus no pedido de Salomão.
Saibamos também pedir um coração com três esses: um coração Sábio (inteligente e compreensivo), um coração Santo (íntegro) e um coração Simples (humilde).

Este deve ser o nosso melhor pedido, o nosso tesouro ou a nossa pérola mais preciosa que devemos procurar.
E não há lugar para Deus? Ele é que deve ser o nosso tesouro.
Sim, se nós tivermos um coração sábio, santo e simples iremos descobrir no íntimo desse coração a presença de Deus, pois um coração de oiro é um coração com Deus.

Um dia alguém queria comprar um coração de oiro e entrou numa ourivesaria. Fez o seu pedido, mas não havia lá nenhum coração de oiro para colocar num colar. Foi procurar noutra loja e também não encontrou... Mas onde poderia encontrar um coração de oiro?
Até que alguém lhe respondeu:
- Não encontrará em nenhuma ourivesaria... Hoje em dia, esse tipo de coração só se encontra num antiquário.

Nós podemos andar à procura de uma pérola mais preciosa que é um coração de oiro.
Sabemos onde encontrá-lo: no nosso peito.
Peçamos a Deus que nos dê um coração assim e tudo o resto nos será dado por acréscimo.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Felizes os que veem


5ª Feira - XVI Semana Comum

Duas mensagens:

da 1ª Leitura
Este povo cometeu dois pecados - Abandonou-me como fonte de água viva e cavou poços que não têm água.
É um pecado contra Deus abandoná-lo.
É um pecado contra si mesmo trabalhar inutilmente.
Olhemos para nós e vejamos em que fonte buscamos a água da felicidade e da santidade. Vejamos se estamos a trabalhar inutilmente, se abandonamos aquele que só ele nos pode dar o que precisamos.

da 2º leitura:
Felizes os vossos olhos porque veem... pois muitos quiseram ver e não viram...
Não viram porquê?
Porque para ver uma pessoa perfeita é preciso olhar de maneira perfeita e para ver de maneira perfeita é necessário olhar para uma pessoa perfeita.
Jesus é essa pessoa perfeita para quem nós devemos olhar e ensinou-nos a maneira perfeita de o fazer.
Aprendamos a olhar do seu jeito e contemplaremos o seu rosto e seremos perfeitos como ele é perfeito.

Lições dos Pássaros (IV)

IV
Agora que vos pintei num quadro completo os graciosos educadores formados pelo Autor da natureza, fizestes entre eles a escolha dos vossos modelos?
            Ah! a vossa escolha com certeza não é exclusiva. Quereis formar um ideal de todas estas virtudes variadas que passaram perante os vossos olhos. A dignidade e a bondade, a atividade e a amabilidade, a piedade, a delicadeza e a dedicação, todas estas qualidades variadas quereis reuni-las na educação como a abelha junta o perfume das flores.
            Não disse o poeta a propósito da educação de uma criança: “Eu formava esta jovem alma como a abelha fabrica o seu mel.”?
            Quereis rejeitar todos os procedimentos da má educação. Ah! Negligenciar a educação dos vossos filhos será preparar a sua infelicidade e a vossa, será prestar a vós mesmos e à pátria o pior serviço.
            Conheceis a história de Dionísio o rei tirano da Sicília? Certo dia, fez prisioneiro o filho de Dion, seu inimigo. Pensais que o entregou à morte? Nada disso. Mais cruel do que isso confiou-o a educadores encarregados de o corromper, deixando-o viver segundo as suas paixões e os seus caprichos, e quando este jovem se tornou escravo dos seus sentidos e das suas cobiças devolveu-o ao seu pai. O pai, desolado, tentou confiá-lo a mestres cheios de sabedoria, mas foi impossível reformá-lo, de modo que acabou por se tornar o desgosto da sua família e da sua pátria.
            Assim fazem sem hesitar aqueles que, iludidos por vãs teorias querem dar à França uma juventude sem Deus.
            Quereis colocar ao serviço dos vossos filhos toda a vossa atividade e a vossa prevenção, e lucrareis quando isso for possível como o chapim. A prevenção é a força das famílias tal como das nações. Mas a prevenção completa, não esquece as provisões espirituais.
            Dispor de poupança, é bom, mas juntamente com a virtude e a fé. Como para as nações, são necessários arsenais com certeza e armazéns de víveres, mas é indispensável sobretudo a força moral que dá a coragem e a intrepidez na luta. O armazém onde se guarda esta força é a igreja, é a escola cristã, é o círculo católico, são as associações cristãs. De nada serviria a uma nação possuir homens e armas, se estes homens já não derem ouvidos ao ministro de Deus quando diz que um cristão não teme a morte, que o amor à pátria é sagrado como o da família, e que os soldados cristãos que morrem como bravos vão para o céu.
            Quereis também ser delicados como estes pequenos seres que vos descrevemos, tereis cuidado com as leituras e as companhias dos vossos filhos, elevareis as suas almas tanto quanto puderdes em direção ao ideal. Sabereis lembrar-lhes frequentemente que a honra e a virtude estão acima das riquezas materiais, como aquela nobre viúva da Vandeia da qual se contou há pouco tempo que querendo premiar o seu sobrinho, jovem estudante muito merecedor, lhe apresentou numa das mãos um escudo e na outra uma cruz de São Luís que o seu avô usara na batalha de Quiberon, cuja fita estava ainda manchada pelo seu sangue. Dizia-lhe: escolhe entre possuir este escudo, ou abraçar esta cruz. E o rapaz superando a avidez da sua idade e enxugando uma lágrima ao ver aquela cruz gloriosa escolhia aquela relíquia da honra. O poeta exprimia o mesmo pensamento, quando dizia a um jovem para o levar à virtude: oh a cruz do teu pai está aí a olhar para ti, a cruz do velho soldado morto na velha guarda!
            A Igreja vos incentiva a serdes educadores nobres, dedicados e delicados. É o seu ensinamento quotidiano. Eis um caso que não vos deixará indiferentes. Conta-se que Monsenhor Datilly, outrora bispo de Orange, passeando um dia na cidade episcopal, ouviu no fundo de uma loja gritos de criança, e que entrou para pegar neste pequeno ser, cuja mãe se encontrava ausente. Quando a mãe regressou, ela ficou surpreendida. Diz-lhe ele afavelmente: Senhora, tenha muito cuidado com esta criança; quando chegar à idade da razão, inspire-lhe o amor e o temor de Deus, uma vez que só isso pode fazer a sua felicidade e a dela.
            O nosso venerado prelado, reverendo Mathieu, dá-vos a mesma lição e pede-vos que a aprendais, protegendo em São Quintino todas as obras de educação cristã e da juventude. Eu lhe agradeço em vosso nome.
            Prestai então todos os vossos cuidados à educação dos vossos queridos filhos, mas não vos esqueçais de os edificar ao mesmo tempo que os instruís. O exemplo vale mais ainda do que o conselho. Lembrai-vos do provérbio francês, que diz a respeito da educação: “A lição é que começa, mas o exemplo é que acaba.”

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Segredos de Deus

Hoje celebramos uma das padroeiras da Europa: Santa Brígida.

1ª Mensagem
Na oração do dia agradecemos a Deus ter revelado a Santa Brígida os segredos de céu.
Quem é amigo partilha sempre os seus segredos.
Tal acontece também com Deus e os seus amigos.
Quais foram os segredos do céu revelados a Santa Brígida?
Para além de tantas manifestações, o número de chagas sofridas por Jesus na sua paixão e outros desígnios, podemos acompanhar este segredo:
Palavras de Jesus a Santa Brígida:
O castelo de que te falei é a Santa Igreja, construída com o meu sangue, cimentada com a minha caridade; nela coloquei os meus eleitos e amigos. O seu fundamento é a fé...
Não escondas nenhum pecado, não deixes nenhum por penitenciar, nem consideres nenhum ligeiro. 
Não há homem algum que seja tão pecador que o seu pecado não seja perdoado, se o pedir com o propósito de se emendar com contrição sincera...

2ª Mensagem
Sem mim nada podeis fazer, disse Jesus no Evangelho de hoje. 
A vida de Santa Brígida foi o reflexo desta verdade.
Moisés disse a Deus:
- Quem sou eu ara ter semelhante missão? Eu não sei falar....
E Deus respondeu:
- Eu estarei contigo...
O que realmente conta não é quem somos, mas com quem estamos ou com quem vamos...
Santa Brígida fez o que fez não por ser quem era, mas por estar com quem estava... com Deus.

Lições dos Pássaros (III)

III
            Outros pássaros completarão seguidamente a lição, mas antes de ir mais longe, afastemos primeiro as sombras ou o fundo negro do quadro; as partes a realçar sobressairão melhor.
            A Providência gosta destes contrastes, ela coloca ao lado do modelo o contraste que o põe em realce.
            O fundo negro são alguns grupos de pássaros tão defeituosos como também educadores e viciosos em alguns aspetos.
            Citarei quatro espécies: as aves de rapina, as aves nocturnas, a preguiçosa avestruz e o vaidoso pavão.
            As aves de rapina, como o abutre e o falcão têm um aspeto duro e cruel; entregam-se à caça, mas somente alguns momentos a meio do dia.
            Pois bem, são desprezíveis tanto pela educação que dão às suas crias como pelos seus hábitos. Têm quase sempre o costume desnaturado de atirar os seus filhos para fora do ninho mais cedo que todos os outros pássaros, e quando eles ainda precisam de cuidados e de ajuda para a sua subsistência. A natureza dos filhos ressente-se da educação e dos exemplos que recebem. Quando são um pouco mais crescidos, não param de se guerrear e de disputar uns aos outros o alimento e o lugar no ninho, de maneira que muitas vezes o pai e a mãe intervêm e os matam, batendo-lhes para acabar a luta. Não há aqui nada porventura que se assemelhe às vossas famílias? Mas não encontraremos por aí famílias cuja vida lembra este triste quadro?
            As aves noturnas, como o mocho, a coruja, a coruja das torres caracterizam-se pelo seu gosto pela rapina. Vão roubar os ovos e as provisões dos outros pássaros. Pássaros sacrílegos, entram nas igrejas rurais, para beber o azeite da lâmpada do Santíssimo.
            Pois bem, estas aves amigas da rapina e do roubo são detestáveis educadoras. Põem os seus ovos à vista nos buracos das muralhas ou sobre as traves. Não colocam nem erva nem folhas para os receber, não se dão à maçada de fazer um ninho. Reconheceis nas nossas famílias de vagabundos cujos filhos, privados de qualquer educação, seguem os tristes exemplos dos seus pais?
            A avestruz é uma ave preguiçosa e estúpida. É referida na Sagrada Escritura pela dureza para com os seus filhos. De facto não lhes presta qualquer cuidado depois do seu nascimento. As suas crias ficam abandonadas, privadas de qualquer educação e de quaisquer benefícios da sociedade; deste modo ficam estúpidas como o seu pai e sua mãe.
            Não se encontrarão também entre os homens, famílias em que a preguiça e a apatia provocam a estupidez e a grosseria?
            O pavão é o símbolo da vaidade e do orgulho. A sua vida é mostrar-se. Julga-se o rei da capoeira e não poupa bicadas. Pois bem, ele abandona muito cedo os seus filhos para se ocupar em mostrar-se e eles imitando o que viram tornam-se cedo vaidosos e guerreiam. Não haverá muitos pavões nas nossas cidades?
            Mas chegamos ao grupo gracioso dos modelos. Aqui tudo é amável e é só escolher.
            Distingo cinco espécies: aqueles que são nobres e valorosos, os que são ternos e bons, os que são ativos e previdentes, os que são amáveis e amigos do homem, depois os artistas, os delicados, os místicos e sentimentais.
            A águia é a rainha dos ares, é o símbolo do poder. É nobre, grande, corajosa, infatigável. Pois bem, sabe ser boa para com os seus aguiotos. Cuida deles, alimenta-os com dedicação. Estes são ternos e sossegados. A águia condu-los à caça e ensina-lhes a caçar e não os obriga a afastar-se senão quando são bastante fortes para dispensar qualquer ajuda.
Parece-vos que este aspeto seja de menosprezar?
            Vêm agora os corifeus da ternura e da bondade, a pomba e a perdiz. A dedicação da pomba à sua ninhada é tão grande, tão constante, que a vemos sofrer os maiores incómodos e as dores mais cruéis antes que a abandonar; há uma ou outra, cujas patas gelam e caem, porque o seu ninho estava demasiado perto da janela do seu aviário e que, apesar deste sofrimento, acompanha a sua ninhada até que os seus filhos saiam da casca.
            O pai, enquanto a mãe está no choco, não se afasta dela, e quando ela pressionada pela fome ela deixa os seus ovos para ir ao comedouro, o pai a quem chamou por meio de um pequeno arrulho, toma o seu lugar e choca os ovos. Ele faz isso duas vezes por dia e durante duas ou três horas de cada vez.
            Entre as perdizes, o pai partilha com a mãe o cuidado de ensinar os filhos. Acompanham os dois, chamam-nos constantemente, encontram-lhes o alimento de que precisam e ensinam-lhes a procurar esgravatando a terra.
            Não é raro vê-los acocorados, aquecendo juntos os seus filhotes cujas cabeças saem de todos os lados com uns olhos muito vivos.
            Vimo-los acudir, batendo as asas sobre o cão que ameaça os seus filhos, que tanto amor paternal inspira a coragem aos animais mais medrosos. Por vezes este amor paternal inspira-lhes uma espécie de prudência e de meios apropriados para salvar a sua ninhada. O pai foge pesadamente e arrastando a asa como para atrair o inimigo, correndo bastante para não ser apanhado, mas não o suficiente para desencorajar o predador, dando tempo para que a mãe leve os filhos para mais longe sem que o caçador perceba o mínimo ruído.
            Que belos exemplos! Ah! se em todas as famílias o pai e a mãe tivessem o mesmo cuidado com a vida temporal dos seus filhos e com a sua vida moral e espiritual.
            Mas eis um outro modelo, maravilha de atividade e de previdência, é o chapim, hóspede gracioso das nossas florestas. O chapim está constantemente em ação, sempre em movimento. É ele, entre os pássaros aquele que cria a família mais numerosa. Trabalha sem descanso de manhã à noite.
            Todas as comidas lhe agradam, sementes, ervas, insectos. Constrói um ninho muito grande para a sua pequena estatura. Guarnece-o abundantemente com ervas miúdas, musgos, algodão, lã, penas, penugem, tudo o que encontra. Tem uma coragem intrépida, e uma atividade incansável. E, o que é raro entre os pássaros, não se preocupa somente com a necessidade presente, mas conhece a época e tem sempre na proximidade do seu ninho esconderijos cheios de provisões; é um pequeno capitalista. Utilizará a “caixa de previdência” quando esta for instituída entre os pássaros.
            Há um grupo particularmente amável, o dos amigos dos homens: Vede a andorinha. Ela não se diverte senão connosco. Faz o seu ninho nas nossas janelas, e nunca nos bosques. Procura de preferência a casa do pobre como para lhe pregar com insistência a confiança na Providência. Como é ativa e abnegada também ela para com os seus filhos! Constrói bem cedo o seu ninho com um duro cimento que traz por debaixo da asa. Não precisa mais do que oito dias e, coisa digna de registo e única, a andorinha é ajudada para isso por muitos companheiros. É a sociedade de socorro mútuo entre os pássaros.
            Uma outra amiga do homem, é a pastorinha, pássaro que acompanha as nossas ovelhas e os nossos cordeiros, a alegria, a distração dos humildes pastores e, por vezes, a mais-valia do rebanho, porque avisa com os seus gritos a proximidade do lobo e da ave de rapina. Faz o seu ninho nas fendas e dá aos seus filhos o exemplo desta dedicação ao homem.
            Que delicioso símbolo dos piedosos visitadores que levam consolação aos pequenos e aos pobres.
            Seguem-se agora os artistas, os cantores piedosos ou profanos. Apresento-vos a toutinegra sempre alegre, viva, atenta e ligeira. É a mais amável hóspede dos nossos bosques. Como dá aos seus filhotes o exemplo de dedicação ao homem! Não parece possuir um coração humano? Nas nossas gaiolas a sua voz afetuosa, os seus pequenos pios e o seu bater de asas exprimem a diligência e o reconhecimento. Os seus filhos são excelentes alunos. Se estão em condições de ouvir o rouxinol aperfeiçoam o seu canto e competem com o seu mestre.
            O melro também é um dos nossos alegres amigos. Ele canta para nos distrair. Tem o sentimento paternal muito desenvolvido e se alguém tenta atacar-lhe a ninhada, vai direito aos olhos do agressor para o cegar às bicadas.
            O amável pintassilgo é um pai de família exemplar. É de uma assiduidade irrepreensível no cumprimento dos seus deveres de chefe de família. Ajuda a mãe a construir o ninho. Bom trabalhador, leva regularmente o alimento ao lar quer durante o choco, quer durante a educação dos filhos.
            A pega, também ela alegre tagarela, não é uma madrasta. Constrói um ninho sólido com madeira e argamassa, esconde-o num emaranhado que é uma verdadeira construção de ramagens e reveste-o com uma camada macia e quente. Está sempre de olho aberto à volta da sua ninhada e defende-a se for preciso, contra a gralha, o falcão e até a águia. Educa os seus filhotes com solicitude e presta-lhes por muito tempo os seus cuidados. Que belos exemplos de trabalho e de dedicação nos quis dar o Criador.
            Vêm agora os pássaros mais delicados. O pássaro-mosca é a joia da criação. É gracioso, rápido, elegante. A esmeralda, o rubi e o topázio brilham nas suas asas. Vive sobre as flores, alimenta-se do seu néctar e só habita nos climas em que as flores não cessam de se renovar; o seu corpo é pequenino como o de uma abelha. Pendura o seu pequeno ninho numa folha de laranjeira. Este ninho é rijamente tecido com fio de algodão e de penugem macia; é delicado e polido como a pele de uma luva. A progenitora para alimentar os seus filhos, dá-lhes a sugar a sua língua toda adoçada com o suco tirado das flores. Nunca se os pôde criar em cativeiro, uma vez que não se encontra nada tão delicioso para os alimentar. O colibri não é menos gracioso. Um missionário da América chegou a criar alguns alimentando-os com uma papa feita de biscoitos e de vinho de Espanha. Eles ouviam a sua voz e vinham imediatamente pousar sobre o seu dedo para receber a sua saborosa refeição.
            A ave-do-paraíso apresenta-se vestida de seda, de veludo e de luminosidades. Alimenta os seus filhos com plantas aromáticas e orvalhos. Procuremos delicadamente nós também os alimentos espirituais das nossas crianças, velando para que tudo o que oiçam ou leiam seja puro, elevado e apto para fazer delas homens de fé e homens de bem.
            Eis finalmente aqueles que se podem chamar místicos e sentimentais. A cotovia é um pássaro eminentemente francês. Os antigos Romanos tinham-na por originária da Gália. Ela é fina, viva, espiritual, divertida. É alegre e naturalmente religiosa; o seu canto foi sempre visto como uma oração. É generosa e dedicada. Se se colocar uma jovem cotovia junto de uma ninhada cativa, ela aproxima-se com afeto desses órfãos, põe-se a cuidar deles, aquece-os com as suas asas, alimenta-os e esquece-se de si mesma por amor deles.
            O pisco tem de verdade o instinto de dedicação. Ele afeiçoa-se ao homem a ponto de parecer possuir uma alma sensível. Para nos agradar aprende a cantar, a falar, a dar às suas frases uma entoação penetrante. Vemo-los reconhecer passado um ano a pessoa que os criou. Alguns, obrigados a deixar o seu criador, deixaram-se morrer de pena.
            Numa ninhada de órfãos, viu-se os mais velhos, que já sabiam comer sozinhos, alimentar o mais novo que ainda não sabia.
            O pelicano é, sabeis com certeza, o símbolo do sacrifício. Priva-se dos seus alimentos e retira-os do saco de reserva que possui debaixo do bico, para alimentar os seus filhotes, o que leva a dizer que os alimenta com o seu sangue. A sua dedicação chega até ao sacrifício e ao heroísmo.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O Amor é o 1º a falar


Memória de Santa Maria Madalena

Na oração inicial da Missa rezamos o que relata o Evangelho de hoje:

Deus quis que Maria Madalena fosse a primeira a receber a missão de anunciar a alegria pascal.

Isto porquê?
Por ser mulher?
Por ser chorona?
Por ter a língua afiada?
Por ser notívaga?
Nada disto!
Ela foi a primeira a se aproximar, a primeira a ver, a primeira a falar, a primeira a fazer caminhar, a primeira a fazer falar... porque foi a primeira a amar.
O amor e a misericórdia têm sempre o primeiro lugar.
O amor é sempre o primeiro a ver, a aproximar-se a falar, a compreender e a receber uma missão.
Maria Madalena que tanto amou o Senhor... não foi ela a primeira a chegar, foi sim o amor...
Ainda hoje o amor é sempre o primeiro a chegar, o primeiro a ver, o primeiro a compreender e o primeiro a falar.

Um grande escritor, filósofo e pedagogo muito recentemente falecido, Rubem Alves dizia mais ou menos isto: Um coração não precisa de agenda, nem de calendário, nem de apontamentos para se lembrar, para ver, fazer ou assumir as suas responsabilidades.
De facto, eu costumo dizer que prefiro ter um lápis pequeno do que uma memória grande... mas tenho então de me corrigir: O que eu preciso é ter um grande coração para não precisar de agenda, nem de calendários nem horários, nem lembretes...
Basta ter coração para ver, falar e cumprir!

Lição dos Pássaros (I-II)


Está a decorrer de 21 a 24 de julho em Valência (Espanha) o III Encontro Internacional de Educadores Dehonianos.
SINT UNUM é o tema central, inspirado na Proposta Educativa Dehoniana.
Como subsídio para inspirar a nossa ação educativa na prática e ensino do Pe. Dehon, partilho a tradução de uma conferência que ele deu em 1888 numa reunião da Sociedade São Vicente Xavier, conforme guardamos no Arquivo Dehoniano, caixa 7/3.D. Inventário 43.04.
A divisão e numeração em 4 partes é da nossa responsabilidade. Aqui vão as 2 primeiras:

ACERCA DA EDUCAÇÃO
I
            Como são boas e amáveis as nossas reuniões cristãs, não é verdade?
            É precisamente aqui que reina a verdadeira fraternidade. Temos sobre tantas questões os mesmos pontos de vista e os mesmos sentimentos. Por isso, quando me foi pedido que vos falasse, uma quantidade de temas apresentaram-se ao mesmo tempo ao meu espírito.
            Eu podia falar-vos da Igreja, do papado, conduzir-vos em espírito a Roma, mostrar-vos lá uma das belas cenas do reino de Cristo: todos os soberanos do mundo inclinados respeitosa e piedosamente na pessoa dos seus representantes diante da majestade do vigário de Jesus Cristo; as ofertas de todas as nações, ouro, objetos de arte, trabalhos singelos, apresentados como o mais majestoso tributo que a terra jamais ofereceu ao céu e, entre esses troféus, os presentes de São Quintino ocupando um lugar de honra graças, à iniciativa do Reverendo Mathieu; e ainda, as multidões entusiastas de 30 e 40.000 peregrinos reunidos na esplêndida basílica de São Pedro e aclamando o sumo, tanto mais pontífice que não era visto desde há 18 anos a presidir às festas de Roma cristã.
            Diante deste quadro teríeis exclamado todos “ah! quem nos dera estarmos lá para unir os nossos vivas aos daqueles nossos amigos!
            Poderia falar-vos da França, repetir-vos como ela ainda é bela, apesar dos seus sofrimentos, como é boa, amável; seria ela rejeitada, se não permanecesse a primeira pela vivacidade do seu espírito, pela generosidade do seu coração e até pela predileção da Igreja, da Virgem Imaculada, predileção manifestada cada dia pelos favores alcançados em Lourdes e em Montmartre.
            Poderia falar-vos de um tema ainda mais sensível, do trabalhador cristão, dos dias de alegria e de honra que os trabalhadores cristãos podem esperar num futuro próximo. A aurora desses belos dias surge-nos na grande obra dos Círculos, obra eminentemente francesa que encontrou a solução do problema social, na Corporação cristã e que manifestou uma vez mais ultimamente aos olhos do mundo uma vez mais o ardor cavaleiresco dos franceses, levando todos os peregrinos aos pés de Leão XIII.
            Mas há um tema ainda mais terno, objeto mais tocante, senão mesmo maior do nosso afeto do que a Igreja, a França e nós próprios. Qual será ele? Quem são esses tão queridos? Os vossos filhos; os vossos filhos que vós e eu próprio desejamos tanto mais dotados de qualidades e de virtudes que sejam ao mesmo tempo que objeto da nossa ternura, a esperança da França e da Igreja.

II
            Falarei então dos vossos filhos e da educação a dar-lhes e creio fazê-lo como verdadeiro cristão e como verdadeiro francês, se pedir ao Autor da natureza que lições de educação que nos dá por meio dos seres cujo instinto dirige, e se pedir de empréstimo o método do bom e interessante La Fontaine, glória do Parnaso francês e honra do nosso departamento.
            O Criador que nos deu por meio dos animais lições de virtudes, mostrando-nos o símbolo da coragem no leão, da temperança na corça do deserto, da previdência na formiga, do trabalho e da disciplina na abelha, da ordem social na cidade do castor, ensinou-nos sobretudo a arte da educação através do exemplo dos pássaros.
            Que amáveis e graciosos mestres! São os hóspedes do nosso céu. São as flores e a harmonia do ar e o símbolo dos anjos.
            Que dons invejáveis recebeu a maioria deles! Possuem um olhar que domina uma província inteira, uma voz que envergonha os nossos concertos, uma agilidade que desafia até os nossos carros de fogo.
            Enfim! Não poderão eles até envergonhar-nos da nossa indiferença para com o Criador, quando festejam com tanta devoção com seus cantos o surgir da aurora e o cair da noite?
            Eles são artistas, arquitetos, músicos, grandes viajantes; tanto nobres e distintos, como suaves e amáveis, delicados, prevenidos, ativos, generosos, dedicados; eles são muitas vezes, como vereis, admiráveis educadores.
            Mas em primeiro lugar quero provar a minha tese com um testemunho divino. Recordais os termos em que Jesus reprovava a ingrata Jerusalém por não ter aproveitado os seus ensinamentos? “Eu quis, dizia ele, reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos sob as asas”. Vede, o tipo acabado da dedicação na educação, para Jesus, é a humilde galinha das nossas quintas e dos nossos galinheiros.
            Já vistes com certeza em ação, que cuidados atentos para que nada falte aos seus pintainhos! Vai de um a outro, chama-os com os seus cacarejos dolentes; esgaravata a terra ou a erva para aí escolher o alimento que lhes convém, priva-se dele em benefício deles. Aquece-os e protege-os; é feliz por vê-los divertir-se à sua volta; e, se a ave de rapina os ameaça, torna-se corajosa, corre, voa diante dela, espanta-a com os seus gritos agudos e com o seu bater de asas.
            Entrega-se a estes ternos cuidados com tanto ardor e desvelo que a sua compleição parece alterar-se. As suas inflexões de voz expressivas e os seus movimentos ágeis e rápidos têm todos um tom de solicitude e de afeto maternais.

(continua)

domingo, 20 de julho de 2014

H B C

Ano A - XVI Domingo Comum

3 letras - H B C
3 Palavras - Humildade Bondade Confiança
3 Mensagens

1ª H de Humildade
Ao pregar sobre a parábola do trigo e do joio, tinha na mão um facho de espigas de trigo. Alguém da assembleia levantou a mão para me perguntar:
- E onde está o joio?
- Está aqui, aí e ali...respondei apontando para mim, ara ele e para os outros.
De facto é preciso humildade para reconhecer em nós o joio ou as ervas daninhas.
Quem não é capaz de reconhecer e identificar em si mesmo esse joio não será capaz de melhorar e corrigir a sua vida.
Peço essa humildade, pois eu sou também joio.

2ª B de Bondade
É preciso também identificar o trigo ou as coisas boas...
Um dia um padre chamou o sacristão e deu-lhe um raspanete à frente da assembleia pois tinha deixado uma vela apagada... que falta de responsabilidade e de profissionalismo... E o sacristão respondeu muito simplesmente:
- O sr. padre só vê a velha apagada... eu estou a ver 9 velas acesas...
Quanto mais vermos, identificarmos e guardarmos no nosso coração as coisas boas, mais vontade teremos de as praticarmos...
Porque é que só temos olhos, dedos e língua para identificar o que de menos bom existe?
É preciso valorizar o trigo bom,o bem que Deus semeou na nossa vida.

3ª C de confiança
Depois de olharmos para o joio e para o trigo bom, é preciso olhar para Deus com confiança. Se Ele foi capaz de transformar a água em vinho, não poderá transformar o joio em trigo bom? 
Não podemos pôr limites à Providência divina. 
Ponhamo-nos nas mãos de Deus e Ele converterá o mal que em nós existe em bem que espera de nós.