quinta-feira, 24 de julho de 2014

Lições dos Pássaros (IV)

IV
Agora que vos pintei num quadro completo os graciosos educadores formados pelo Autor da natureza, fizestes entre eles a escolha dos vossos modelos?
            Ah! a vossa escolha com certeza não é exclusiva. Quereis formar um ideal de todas estas virtudes variadas que passaram perante os vossos olhos. A dignidade e a bondade, a atividade e a amabilidade, a piedade, a delicadeza e a dedicação, todas estas qualidades variadas quereis reuni-las na educação como a abelha junta o perfume das flores.
            Não disse o poeta a propósito da educação de uma criança: “Eu formava esta jovem alma como a abelha fabrica o seu mel.”?
            Quereis rejeitar todos os procedimentos da má educação. Ah! Negligenciar a educação dos vossos filhos será preparar a sua infelicidade e a vossa, será prestar a vós mesmos e à pátria o pior serviço.
            Conheceis a história de Dionísio o rei tirano da Sicília? Certo dia, fez prisioneiro o filho de Dion, seu inimigo. Pensais que o entregou à morte? Nada disso. Mais cruel do que isso confiou-o a educadores encarregados de o corromper, deixando-o viver segundo as suas paixões e os seus caprichos, e quando este jovem se tornou escravo dos seus sentidos e das suas cobiças devolveu-o ao seu pai. O pai, desolado, tentou confiá-lo a mestres cheios de sabedoria, mas foi impossível reformá-lo, de modo que acabou por se tornar o desgosto da sua família e da sua pátria.
            Assim fazem sem hesitar aqueles que, iludidos por vãs teorias querem dar à França uma juventude sem Deus.
            Quereis colocar ao serviço dos vossos filhos toda a vossa atividade e a vossa prevenção, e lucrareis quando isso for possível como o chapim. A prevenção é a força das famílias tal como das nações. Mas a prevenção completa, não esquece as provisões espirituais.
            Dispor de poupança, é bom, mas juntamente com a virtude e a fé. Como para as nações, são necessários arsenais com certeza e armazéns de víveres, mas é indispensável sobretudo a força moral que dá a coragem e a intrepidez na luta. O armazém onde se guarda esta força é a igreja, é a escola cristã, é o círculo católico, são as associações cristãs. De nada serviria a uma nação possuir homens e armas, se estes homens já não derem ouvidos ao ministro de Deus quando diz que um cristão não teme a morte, que o amor à pátria é sagrado como o da família, e que os soldados cristãos que morrem como bravos vão para o céu.
            Quereis também ser delicados como estes pequenos seres que vos descrevemos, tereis cuidado com as leituras e as companhias dos vossos filhos, elevareis as suas almas tanto quanto puderdes em direção ao ideal. Sabereis lembrar-lhes frequentemente que a honra e a virtude estão acima das riquezas materiais, como aquela nobre viúva da Vandeia da qual se contou há pouco tempo que querendo premiar o seu sobrinho, jovem estudante muito merecedor, lhe apresentou numa das mãos um escudo e na outra uma cruz de São Luís que o seu avô usara na batalha de Quiberon, cuja fita estava ainda manchada pelo seu sangue. Dizia-lhe: escolhe entre possuir este escudo, ou abraçar esta cruz. E o rapaz superando a avidez da sua idade e enxugando uma lágrima ao ver aquela cruz gloriosa escolhia aquela relíquia da honra. O poeta exprimia o mesmo pensamento, quando dizia a um jovem para o levar à virtude: oh a cruz do teu pai está aí a olhar para ti, a cruz do velho soldado morto na velha guarda!
            A Igreja vos incentiva a serdes educadores nobres, dedicados e delicados. É o seu ensinamento quotidiano. Eis um caso que não vos deixará indiferentes. Conta-se que Monsenhor Datilly, outrora bispo de Orange, passeando um dia na cidade episcopal, ouviu no fundo de uma loja gritos de criança, e que entrou para pegar neste pequeno ser, cuja mãe se encontrava ausente. Quando a mãe regressou, ela ficou surpreendida. Diz-lhe ele afavelmente: Senhora, tenha muito cuidado com esta criança; quando chegar à idade da razão, inspire-lhe o amor e o temor de Deus, uma vez que só isso pode fazer a sua felicidade e a dela.
            O nosso venerado prelado, reverendo Mathieu, dá-vos a mesma lição e pede-vos que a aprendais, protegendo em São Quintino todas as obras de educação cristã e da juventude. Eu lhe agradeço em vosso nome.
            Prestai então todos os vossos cuidados à educação dos vossos queridos filhos, mas não vos esqueçais de os edificar ao mesmo tempo que os instruís. O exemplo vale mais ainda do que o conselho. Lembrai-vos do provérbio francês, que diz a respeito da educação: “A lição é que começa, mas o exemplo é que acaba.”

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