terça-feira, 22 de julho de 2014

Lição dos Pássaros (I-II)


Está a decorrer de 21 a 24 de julho em Valência (Espanha) o III Encontro Internacional de Educadores Dehonianos.
SINT UNUM é o tema central, inspirado na Proposta Educativa Dehoniana.
Como subsídio para inspirar a nossa ação educativa na prática e ensino do Pe. Dehon, partilho a tradução de uma conferência que ele deu em 1888 numa reunião da Sociedade São Vicente Xavier, conforme guardamos no Arquivo Dehoniano, caixa 7/3.D. Inventário 43.04.
A divisão e numeração em 4 partes é da nossa responsabilidade. Aqui vão as 2 primeiras:

ACERCA DA EDUCAÇÃO
I
            Como são boas e amáveis as nossas reuniões cristãs, não é verdade?
            É precisamente aqui que reina a verdadeira fraternidade. Temos sobre tantas questões os mesmos pontos de vista e os mesmos sentimentos. Por isso, quando me foi pedido que vos falasse, uma quantidade de temas apresentaram-se ao mesmo tempo ao meu espírito.
            Eu podia falar-vos da Igreja, do papado, conduzir-vos em espírito a Roma, mostrar-vos lá uma das belas cenas do reino de Cristo: todos os soberanos do mundo inclinados respeitosa e piedosamente na pessoa dos seus representantes diante da majestade do vigário de Jesus Cristo; as ofertas de todas as nações, ouro, objetos de arte, trabalhos singelos, apresentados como o mais majestoso tributo que a terra jamais ofereceu ao céu e, entre esses troféus, os presentes de São Quintino ocupando um lugar de honra graças, à iniciativa do Reverendo Mathieu; e ainda, as multidões entusiastas de 30 e 40.000 peregrinos reunidos na esplêndida basílica de São Pedro e aclamando o sumo, tanto mais pontífice que não era visto desde há 18 anos a presidir às festas de Roma cristã.
            Diante deste quadro teríeis exclamado todos “ah! quem nos dera estarmos lá para unir os nossos vivas aos daqueles nossos amigos!
            Poderia falar-vos da França, repetir-vos como ela ainda é bela, apesar dos seus sofrimentos, como é boa, amável; seria ela rejeitada, se não permanecesse a primeira pela vivacidade do seu espírito, pela generosidade do seu coração e até pela predileção da Igreja, da Virgem Imaculada, predileção manifestada cada dia pelos favores alcançados em Lourdes e em Montmartre.
            Poderia falar-vos de um tema ainda mais sensível, do trabalhador cristão, dos dias de alegria e de honra que os trabalhadores cristãos podem esperar num futuro próximo. A aurora desses belos dias surge-nos na grande obra dos Círculos, obra eminentemente francesa que encontrou a solução do problema social, na Corporação cristã e que manifestou uma vez mais ultimamente aos olhos do mundo uma vez mais o ardor cavaleiresco dos franceses, levando todos os peregrinos aos pés de Leão XIII.
            Mas há um tema ainda mais terno, objeto mais tocante, senão mesmo maior do nosso afeto do que a Igreja, a França e nós próprios. Qual será ele? Quem são esses tão queridos? Os vossos filhos; os vossos filhos que vós e eu próprio desejamos tanto mais dotados de qualidades e de virtudes que sejam ao mesmo tempo que objeto da nossa ternura, a esperança da França e da Igreja.

II
            Falarei então dos vossos filhos e da educação a dar-lhes e creio fazê-lo como verdadeiro cristão e como verdadeiro francês, se pedir ao Autor da natureza que lições de educação que nos dá por meio dos seres cujo instinto dirige, e se pedir de empréstimo o método do bom e interessante La Fontaine, glória do Parnaso francês e honra do nosso departamento.
            O Criador que nos deu por meio dos animais lições de virtudes, mostrando-nos o símbolo da coragem no leão, da temperança na corça do deserto, da previdência na formiga, do trabalho e da disciplina na abelha, da ordem social na cidade do castor, ensinou-nos sobretudo a arte da educação através do exemplo dos pássaros.
            Que amáveis e graciosos mestres! São os hóspedes do nosso céu. São as flores e a harmonia do ar e o símbolo dos anjos.
            Que dons invejáveis recebeu a maioria deles! Possuem um olhar que domina uma província inteira, uma voz que envergonha os nossos concertos, uma agilidade que desafia até os nossos carros de fogo.
            Enfim! Não poderão eles até envergonhar-nos da nossa indiferença para com o Criador, quando festejam com tanta devoção com seus cantos o surgir da aurora e o cair da noite?
            Eles são artistas, arquitetos, músicos, grandes viajantes; tanto nobres e distintos, como suaves e amáveis, delicados, prevenidos, ativos, generosos, dedicados; eles são muitas vezes, como vereis, admiráveis educadores.
            Mas em primeiro lugar quero provar a minha tese com um testemunho divino. Recordais os termos em que Jesus reprovava a ingrata Jerusalém por não ter aproveitado os seus ensinamentos? “Eu quis, dizia ele, reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos sob as asas”. Vede, o tipo acabado da dedicação na educação, para Jesus, é a humilde galinha das nossas quintas e dos nossos galinheiros.
            Já vistes com certeza em ação, que cuidados atentos para que nada falte aos seus pintainhos! Vai de um a outro, chama-os com os seus cacarejos dolentes; esgaravata a terra ou a erva para aí escolher o alimento que lhes convém, priva-se dele em benefício deles. Aquece-os e protege-os; é feliz por vê-los divertir-se à sua volta; e, se a ave de rapina os ameaça, torna-se corajosa, corre, voa diante dela, espanta-a com os seus gritos agudos e com o seu bater de asas.
            Entrega-se a estes ternos cuidados com tanto ardor e desvelo que a sua compleição parece alterar-se. As suas inflexões de voz expressivas e os seus movimentos ágeis e rápidos têm todos um tom de solicitude e de afeto maternais.

(continua)

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