quinta-feira, 27 de abril de 2023

Vocações que nunca passam


A crise de vocações 

e as vocações em crise.

No auge da crise dos abusos sexuais por parte da Igreja um colega sacerdote lamentou-se não ser esta a melhor ocasião para celebrar a semana de oração pelas vocações. Dizia:

- Como é que nós podemos ser credíveis ao apelar aos jovens para seguirem o chamamento ao sacerdócio se alguns padres não têm dado bom exemplo. Nesta paisagem ninguém quer ser sacerdote.

Com humildade respondi-lhe:

- Acredito que este é o melhor momento da história da Igreja para ser padre, porque é um momento em que há apenas uma razão para ser sacerdote ou para permanecer sacerdote – isto é, estar com Cristo. Não é por regalias ou aplausos ou respeito ou posição ou dinheiro ou qualquer outro ganho ou prestígio ou outra qualquer vantagem mundana. Essas coisas ou não existem mais ou estão passando rapidamente. O sacerdote de hoje é obrigado a escolher se quer entregar-se ao Cristo real, que abraçou a pobreza, incluindo a pobreza do lugar-comum, a rejeição. Se algum jovem sente hoje vocação para ser sacerdote e se predispõe a seguir esse chamamento, é porque sente-se livre de qualquer condicionamento pessoal, social ou eclesial. É porque quer centrar-se somente em Deus.

- E porque é que há tanta crise de vocações, porque que é que os seminários estão vazios e cada vez há menos sacerdotes no ativo?

- Há crise de vocações para sacerdotes porque há crise de vocações para a vida familiar, matrimonial ou para a vida cristã. As vocações particulares dos cristãos dentro da Igreja são interdependentes. Não podemos tentar resolver uma crise ou colapso numa vocação determinada enquanto se ignora as outras. As vocações sacerdotais dependem profundamente de famílias construídas sobre casamentos fortes e santos. A vida conjugal e a vida familiar dependem dos sacramentos e ministérios que só os padres podem oferecer. Tanto os sacerdotes como os leigos são sustentados pela oração e pelo testemunho dos religiosos e contemplativos.

É hora de parar de pensar na crise das vocações sacerdotais como se fosse separável da crise do matrimónio e da família cristã ou do colapso pós-conciliar das vocações religiosas das quais a Igreja, pelo menos no Ocidente, ainda não se recuperou. No corpo de Cristo, quando uma parte sofre, todas sofrem com ela. Há crise de vocações sacerdotais porque há crise de vocação familiar. Há crise de vocações matrimoniais porque há crise de vocação sacerdotal.

Centremo-nos em Deus e rezemos para que consigamos ultrapassar esta crise generalizada de vocações.

 

Ver também:

Guardião das vocações

 

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