domingo, 23 de abril de 2023

Três lições de Emaús


Ano A – III domingo da Páscoa

1ª lição – Jesus não mente

Ele tinha prometido que onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome, estaria no meio deles.

Dito e feito.

Entre os dois discípulos a caminho de Emaús, apesar de desiludidos e descrentes, Jesus apresentou-se no meio deles e fez-lhes companhia.

Ainda hoje acontece o mesmo.

 

2ª lição – Emaús é uma autêntica missa

O que aconteceu a caminho de Emaús é o que acontece em qualquer celebração da missa.

Reunimo-nos, lamentamo-nos, ouvimos a Escritura, refletimos, sentamo-nos à volta da mesa, Jesus abençoa o pão, reparte e nós sentimos a sua presença. Depois partimos em missão para anunciar o que vivemos.

Os discípulos de Emaús celebraram a missa no caminho para nos ensinar a fazer da missa um caminho que nos leva a Deus e nos traz Deus até nós.

O que se passou em Emaús, passa-se ainda hoje em cada eucaristia.

 

3ª lição – Cristo nunca abandona a nossa comunidade

Os discípulos podem fugir da comunidade, podem abandonar a igreja, mas Deus nunca abandona ninguém. Por mais ferida ou morta que pareça aos nossos olhos, Cristo Ressuscitado vive nesta Igreja.

Hoje, não só em Portugal, mas também um pouco por todo o lado, há muita gente que foge da igreja como os discípulos de Emaús fugiram desiludidos de Jerusalém. Mas Jesus continua a apostar na comunidade que fundou e que o nosso pecado parece querer afundar.

 

Explicação desta lição pelo Pe. José António Pagola:

"Não são poucos os que olham para a Igreja hoje com pessimismo e deceção. Não é o que eles querem. Uma Igreja viva e dinâmica, fiel a Jesus Cristo, verdadeiramente empenhada na construção de uma sociedade mais humana.

Vêem-na imóvel e antiquada, excessivamente ocupada em defender uma moralidade obsoleta que já a poucos interessa, fazendo penosos esforços para recuperar uma credibilidade que parece ser "mínimo baixo". Eles a percebem como uma instituição que quase sempre pronta para acusar e condenar, raramente para ajudar e infundir esperança no coração humano. Muitas vezes sentem-no triste e enfadonha, e de alguma forma sentem – com o escritor francês Georges Bernanos – que “o contrário de um povo cristão é um povo triste”.

A tentação fácil é o abandono e a fuga. Alguns o fizeram há muito tempo, até mesmo de forma ruidosa: hoje afirmam quase com orgulho que acreditam em Deus, mas não na Igreja. Outros se distanciam dela pouco a pouco, "na ponta dos pés e sem fazer barulho": quase ninguém percebe, o carinho e a adesão de outros tempos se esvai em seus corações.

Certamente seria um erro alimentar um otimismo ingénuo neste momento, pensando que tempos melhores virão. Mais grave ainda seria fechar os olhos e ignorar a mediocridade e o pecado da Igreja. Mas o nosso maior pecado seria “fugir para Emaús”, deixar a comunidade e dispersar-se, cada um no seu caminho, afundado na desilusão e no desencanto.

Temos que aprender a “lição de Emaús”. A solução não é sair da Igreja, mas reconectar-se com um grupo cristão, comunidade, movimento ou paróquia onde possamos compartilhar e reacender a nossa esperança em Jesus.

Por mais morta que apareça diante dos nossos olhos, o Ressuscitado vive nesta Igreja. Por isso também aqui fazem sentido os versos de António Machado: Pensei que o meu lar estava apagado, remexi as cinzas... queimei a mão."

 

Ver também:

Da desilusão ao ardor

 

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