A Ilha
da Madeira foi o pequeno espaço escolhido por Deus para servir de peanha ou pedestal
do Santo Imperador, Carlos de Áustria. Parece não haver terra mais grandiosa,
escada mais alta, viagem mais longínqua.
Carlos
de Áustria tendo viajado pelo seu império e por toda a Europa, chegou à Madeira
para aí iniciar a sua viagem mais transcendente.
A
Madeira, desde 19 de novembro de 1921 foi-se transformando e elevando pouco a
pouco a sua vocação de sacrário de santidade.
Começou
por ser nomeado como um simples lugar de internamento, de residência de exílio
ou permanência forçada.
Depois
foi-se afirmando como local privilegiado de acolhimento, de habitação familiar
e corte imperial.
Passou
ainda por espaço de purificação e de ascese como subida ao monte Calvário.
Finalmente
a ilha tornou-se antecâmara do paraíso, porta do céu e lugar de repouso eterno.
Agora
na Madeira, o Monte tornou-se em altar onde é venerado o santo Imperador, a
peanha da sua imagem, o pedestal da sua figura de santidade. Partilha com a Senhora do Monte o mesmo santuário, a mesma peanha ou pedestal. E nós podemos também partilhar com e como eles o mesmo altar e o mesmo destino de eternidade.
Por
causa do Santo Imperador a Madeira ficou mais parecida com o Paraíso e o Céu
ainda mais perto da nossa terra.
Lição
a guardar:
Façamos do lugar onde estamos, quer de passagem quer permanente, quer desterrados ou acolhidos, quer na saúde ou na doença, quer na alegria ou na tristeza, quer na esperança ou na angústia, quer na vida ou na morte, uma peanha de santidade e um pedestal de eternidade, a exemplo do Beato Carlos de Áustria.
Acompanhemos
o percurso do Imperador Carlos da Madeira para a eternidade, da terra ao céu:
INTERNAMENTO
01
de novembro de 1921 in Diário da Madeira
A
Inglaterra propôs às nações aliadas que seja internado na ilha da
Madeira o imperador Carlos da Áustria.
RESIDÊNCIA
04
de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira
Foi
concedido autorização aos imperadores de Áustria para residirem na ilha
da Madeira.
EXÍLIO
05
de novembro de 1921 in Diário de Notícias
O
governo português aceitou a proposta dos Aliados para ser exilado na
ilha da Madeira o ex-imperador Carlos da Áustria.
HÓSPEDAGEM
09
de novembro de 1921 in Diário da Madeira
Os
ex-imperadores da Áustria serão considerados pelo governo português como hóspedes,
sendo-lhes dispensadas todas as deferências e atenções
HABITAÇÃO
11
de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira
Está
definitivamente assente o ex-imperador Carlos de Habsburgo e sua esposa habitarem
a Villa Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel.
PRISÃO
DE ELEVADA CATEGORIA
12
de novembro de 1921 in Diário da Madeira
Segundo
nos informou o sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros o ex-imperador da
Áustria, Carlos de Habsburgo e sua família, que muito em breve virão residir na
ilha da Madeira serão considerados não como prisioneiros, mas como hóspedes
do nosso governo que terá para eles todas as atenções e deferências que
competem à sua elevada categoria social
PERMANÊNCIA
FORÇADA
18
de novembro de 1921 in Diário da Madeira
A
conferência dos embaixadores, reunida em Londres, ficou o subsídio e o
quantitativo das restantes despesas com a permanência forçada na Madeira
dos ex-soberanos austríacos.
POVO
HOSPITALEIRO
20
de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira
O
cruzador inglês Cardiff fundeou, ontem às 11 horas na baía do Funchal, trazendo
os ex-imperadores Carlos e Zita. O desembarque foi marcado para as 15 horas o
que aconteceu. O povo, à passagem dos ex-soberanos, descobria-se
respeitosamente, a que eles correspondiam sorridentes e com a maior
cordialidade.
“Estamos
encantados com a beleza da Ilha da Madeira e com a forma carinhosa como o povo
nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro” – disse ao
Comércio da Madeira S.M. Carlos de Habsburgo.
ESTADIA
EM HOTEL
20
de novembro de 1921 in Diário de Notícias
Os
ex-reis da Hungria são desde ontem nossos hóspedes. Desembarcados seguiram para
a Vila Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel onde ficam residindo. É a
primeira vez que a hospitaleira ilha serve de residência a soberanos exilados.
NOVA
CORTE IMPERIAL
22
de novembro de 1921 in Diário da Madeira
Na
sé, à entrada e à saída dos ex-imperadores, alguns membros do clero e bem assim
algumas pessoas do povo beijavam a mão de Carlos de Habsburgo em sinal de cortesia
devida aos soberanos.
RESIDÊNCIA
DE VERÃO
26
de novembro de 1921 in Diário de Notícias
Os
ex-imperadores da Hungria foram ontem ao Monte, pelas 2 horas da tarde, no
automóvel do sr. António Vieira de Castro, visitando a Quinta Rocha Machado,
que será a sua residência de verão.
SEM
GUARDA NEM VIGILÂNCIA
01
de dezembro de 1921 in Diário de Notícias
O
Ministro dos Estrangeiros em entrevista à Capital disse – o imperador Carlos e
sua esposa foram residir para a Madeira não como prisioneiros, mas como
soberanos exilados. O governo português não tem responsabilidade alguma,
perante as potências, pela sua guarda. Nós não fomos chamados a exercer nenhuma
vigilância. O imperador habita no Funchal como qualquer soberano exilado e
não guardado pelo governo português.
SOBERANO
EM TODO O LUGAR
23
de março de 1921 in Diário de Lisboa
Quando
foram, pela primeira vez ouvir missa à Sé do Funchal, um desconhecido, que se
achava no meio da multidão, exclamou em húngaro: Viva o rei Carlos!
Trataram
se se informar da sua identidade e souberam que era um comerciante de Budapeste
que tendo de ir para o México, se dirigira primeiro ao Funchal, para ver os
seus antigos soberanos. Esta prova de dedicação enterneceu-os profundamente. A
soberania era agora exercida no Funchal.
ENFERMARIA
27
de março de 1921 in Diário de Lisboa
Encontra-se
gravemente enfermo, na Ilha da Madeira o ex-imperador Carlos.
A
desgraça não o deixa repousar pois até no exílio o persegue. Aliada a uma
terrível depressão nervosa, a doença (dupla pneumonia) debilita-lhe agora a sua
resistência.
ANTECÂMARA
DO PARAÍSO E VIÁTICO
02
de abril de 1921 in Correio da Madeira
O
defunto exilado recebia todos os dias o S.S. Sacramento e só como Sagrado
Viático o recebeu na 2ª feira, tendo-lhe nesse dia sido ministrada a Extrema
Unção, a seu pedido.
ESPELHO
DA SUA PÁTRIA
02
de abril de 1921 in Correio da Madeira
D.
Carlos de Habsburgo estava escrevendo um livro, de impressões colhidas na
Madeira. Ele comparava trechos da nossa ilha a pedaços da sua pátria… O
ex-imperador falava da sua pátria, que muito amava, com uma saudade pungente do
seu povo, que ele considerava como filhos, e pensava nos seus destinos como um
verdadeiro pai.
Os
correspondentes dos jornais da capital e do estrangeiro telegrafaram ontem
comunicando o desenlace fatal.
LEITO
DE MORTE
02
de abril de 1921 in Correio da Madeira
Às
12 hora do dia de ontem, na Quinta do Monte, para onde fora residir com
sua família e comitiva imperial, faleceu, confortado com os sacramentos
da Santa Madre Igreja, Sua Majestade Imperial Apostólica Calos V de Habsburgo…
Quando se avizinhava a morte, disse o ex-imperador: Ofereço a minha vida ao meu
bom Povo.
CÂMARA
ARDENTE
04
de abril de 1921 in Correio da Madeira
O
quarto, onde a doença prostrara o ex-imperador, é o mesmo que serve de câmara
ardente. O ex-imperador ‘dorme’ sobre o leito com a farda de marechal de
campo.
A
ex-imperatriz Zita olhando para os seus filhos, disse-lhes: O vosso pai não
dorme; está acordado e vive junto de Deus.
CAPELA
TUMULAR
04
de abril de 1921 in Diário da Madeira
Realizam-se
amanhã à tarde os funerais, saindo da Quinta do Monte para a Igreja paroquial,
onde está sendo levantado um mausoléu.
O
MELHOR TESOURO
01
de junho de 1922 in A Esperança
No
final de maio ancorava no Funchal o moderno transatlântico barcelonense Infanta
Isabel de Bourdon que vinha expressamente pela Madeira para transportar a Cádis
a Imperatriz viúva Zita e seus filhos. Ao despedir-se do Revmo. Pe. José
Marques Jardim, Pároco do Monte, a Imperatriz disse: Deixo-vos o meu melhor
tesouro. Deixo o meu coração nesta ilha. Parto com saudade da Madeira e do
seu bom povo, mas vou satisfeita por deixar o cadáver do Imperador confiado à
guarda duma população generosa… Custa-me deixar o melhor do meu ser, nesta
terra, mas deixo-o no meio de corações amigos. O meu coração também fica nesta
ilha.
NOVA
CAPELA FUNERÁRIA
12
de janeiro de 1968 in Jornal da Madeira
A
Imperatriz Zita e seus filhos assistiram à santa missa no Monte e à inauguração
da nova capela mortuária do Imperador Carlos de Áustria.
PEANHA
OU PEDESTAL DO SANTO IMPERADOR
16 de
outubro de 2004 in Jornal da Madeira
A 3
de outubro de 2004 foi proclamado Beato o Bem-aventurado Carlos de
Áustria, por sua santidade o Papa João Paulo II, na praça de São Pedro em Roma.
Beatificado na presença de uma representação madeirense presidida pelo Bispo do
Funchal D. Teodoro de Faria (que formulou o pedido de beatificação ao Papa João
Paulo II por ser o bispo da Diocese onde se encontram os restos mortais do
Beato), Presidente do Governo Regional da Madeira, Secretário Regional do
Turismo e Cultura, Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pároco do Monte
com um grupo de paroquianos e outros devotos. … Estavam presentes de vários
filhos e familiares do novo Beato, nomeadamente o seu filho primogénito Otto de
Habsburgo.
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