O Pe. Dehon e a Páscoa
A Páscoa e o Pe. Dehon
1843 – A primeira Páscoa
O Pe. Dehon, nas Notas sobre a História da minha Vida escreve – “Nasci a 14 de março de 1843. Era terça-feira da II semana da quaresma. A Páscoa caiu nesse ano a 16 de abril…”
Podemos concluir que o Pe. Dehon desde que nasceu começou a caminhar em direção à Páscoa.
A vida é caminho em direção à Páscoa.
1855 – Páscoa em família
Estudante na Flandres – “Eu passei quatro anos em Hazebrouck. Eu só revia a minha família na Páscoa e nas férias grandes… A distância era longa e era preciso procurar várias ligações de comboio.”
Quer durante a toda a infância, quer durante a adolescência, enquanto aluno do colégio de Hazebrouck (1855-1859), Leão Dehon sempre passou a Páscoa em La Capelle, junto da sua família. É curioso que em francês a palavra Páscoa escreve-se no plural (Pâques), talvez mesmo porque a Páscoa deve ser vivida no plural, sempre em família.
1965 – Páscoa em Jerusalém
Como jovem peregrino na Terra Santa – “De 12 a 16 de abril, os grandes dias da semana santa em Jerusalém são tão emocionantes que não se podem exprimir. Podemos acompanhar emocionados todas as etapas da paixão e da ressurreição. Em cada hora do dia, contemplando os mistérios sagrados, podemos dizer: foi aqui! Foi aqui que Jesus nos deu esta marca do seu amor… No dia de Páscoa, participei no pontifical das 08H00 e depois fiz uma visita de despedida aos sítios e santuários mais tocantes da cidade.”
Esta foi a experiência pascal do jovem Dehon em Jerusalém. Para ele a Páscoa foi e sempre será o seguimento de Jesus na sua paixão e ressurreição.
1866 – Páscoa em Roma
Durante os anos de seminário em Roma – “O dia de Páscoa era o mais solene de todos. A missa tinha ainda mais solenidade do que a de Natal. Ao meio dia o Papa Pio IX dava a grande bênção no balcão exterior da Basílica. À noite havia a iluminação da cúpula, da fachada da Basílica de São Pedra e dos pórticos… 360 homens acendiam os 5.000 lampiões com uma rapidez surpreendente e renovavam-nos acesos depois da primeira hora. Mais de 80.000 peregrinos, sem contar com os romanos… uma multidão enchia a praça de São Pedro.”
Em Roma o Pe. Dehon não passou a Páscoa apenas destes primeiros seis anos, mas muitas vezes voltou lá por essa quadra pascal, conjugando-a com a estadia do ofício que tinha no Index (por exemplo nos anos 1887, 1898, 1901, 1902, 1906 sucessivamente até 1909). Pelo menos 14 vezes celebrou a Páscoa em Roma.
É a Páscoa vivida com a Igreja e em Igreja, com Pedro e com o povo peregrino.
1870 – Páscoa em tempo de Concílio
Com a função de estenógrafo do Concílio Vaticano I – “Celebrámos em Abril as festas pascais, em tempo de concílio. A missa do Papa em São Pedro, é muito bela, mas o momento mais solene de todos estes dias é a bênção pontifícia denominada Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo).”
É a bênção à Cidade e ao Mundo, a bênção mais católica, isto é, a mais universal.
É a páscoa universal ou da Igreja espalhada por todo o mundo
1871 – Páscoa em comunidade paroquial
Como vigário paroquial em São Quintino – “Em Abril, convidei os meus pais a vir passar a Páscoa comigo… Eles preferiram vir depois das festas.”
Em várias passagens o Pe. Dehon realça as confissões, as comunhões pascais de tanta gente que recebeu a visita pascal.
É a Páscoa da comunidade cristã e do seu pastor.
1887 – Páscoa em tempo de consagração e de renascimento
Ao pedir à Santa Sé a aprovação de direito pontifício da Congregação por ele fundada – “Que as graças da Páscoa sejam abundantes! Que haja conversões em toda a parte! Sinto-me feliz por ver Nosso Senhor honrado e louvado. Peçamos-lhe muito hoje, Nosso Senhor não nos recusará nada.”
As dificuldades no começo da fundação da Congregação, a sua supressão temporário (consumatum est) foram um caminho do Calvário para a Páscoa. Foi a oblação ou imolação do Pe. Dehon e da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus.
De facto, sem cruz não há Páscoa
1893 – Páscoa no seminário
Valorizando o trabalho dos mais novos – “Os nossos seminaristas de São Clemente representaram por 3 vezes o drama mudo da Paixão. Eles tiveram um grande sucesso de edificação. Toda a cidade correu para lá e a sala de tornou-se demasiado pequena. Esses alunos de São Clemente apresentam assim muitos mistérios que meditam todos os dias… É uma maneira de apostolado através de meios muito simples.”
Tanto no seminário como no Colégio São João, o Pe. Dehon levava sempre os mais novos a viver profundamente a Páscoa, através dos sacramentos e do apostolado e da conversão.
Páscoa é o testemunho da ressurreição através de todos os meios ao nosso alcance.
1894 – Páscoa na periferia
Como peregrino pela Itália do Sul e Norte de África – “Em Palermo dão às festas religiosas da Páscoa uma grande solenidade. Celebrei a missa da manhã na igreja de São José. Esta grande igreja, outrora rica, tão viva e que exigia numeroso serviço, mas agora está sem padres, sem confessores…”
O Pe. Dehon ao viajar pelo mundo, estuda por este grande livro, observa, regista, aprende, recebe lições mesmo das pessoas ou das comunidades mais humildes.
É a Páscoa dos simples, dos pobres ou do resto de Israel.
1900 – Páscoa dos peregrinos
Ao visitar a Espanha e Portugal – “Descreverei a bela viagem de dois meses, quer na Revista, quer numa Edição Própria. Aqui (nas Notas Quotidianas) indico apenas as datas principais – 15 de Abril, Compostela onde passei a Páscoa.”
Noutro lugar o Pe. Dehon dirá que não há país que dê às festas pascais tal solenidade como a Espanha e que a Salamanca chegam peregrinos de todas as partes da Europa para ganhar indulgência pascal com o Apóstolo Santiago.
É a Páscoa como peregrinação de conversão, Páscoa caminho dos discípulos.
1903 – Páscoa em tempo de perseguição
Em tempos de dificuldades e de despojamento, com o decreto da dissolução das congregações religiosas pelo governo francês – “Enviámos os seminaristas de São Clemente de Fayet para Brugelette. Estamos no tempo dos Hunos e dos Vândalos, as nossas casas de oração esvaziam-se à passagem dos bárbaros. É a semana santa e o discípulo não é superior ao mestre, nós somos perseguidos e apanhados como foi o Salvador em Jerusalém. Passei o dia de Páscoa na solidão. A nossa capela está despojada dos seus ornamentos.”
A páscoa de Cristo espelha a nossa vida e a nossa vida espelha a Páscoa de Cristo.
É a Páscoa da solidão, em tempo de perseguição e intolerância.
1911 – Páscoa no Santo Sepulcro
Na última etapa da sua viagem à volta do mundo o Pe. Dehon passa pela Palestina onde celebra antecipadamente o dia de Páscoa – “Celebrei a missa no Santo Sepulcro. Eu tinha rezado aí em 1865 e tinha comungado. Depois de tanto tempo desejei oferecer o santo Sacrifício sobre a pedra do túmulo, donde Jesus saiu glorioso. Que feliz meia hora! Como o coração esteva dilatado de emoções. Voltei ao Santo Sepulcro à hora da procissão dos Latinos. À volta do túmulo temos o Calvário, a pedra da unção, a cripta da Vera Cruz. É um conjunto de lembranças que impressiona e que santifica.”
No coração de cada um, é Páscoa sempre que o homem quiser.
É a Páscoa vivida com emoção e com o coração.
1918 – Páscoa em tempo de guerra
No último ano da I Guerra Mundial – “É o tempo de Páscoa na liturgia, mas continua ainda o tempo da penitência na guerra: paciência e confiança, sempre…”
Assim foi a Páscoa durante os quatro anos de guerra.
É a Páscoa em tempo de confinamento e de guerra ou o confinamento e a guerra em tempo de Páscoa.
1925 – A última Páscoa
Na última Páscoa celebrada pelo Pe. Dehon aqui na terra – “Neste mês de Abril nós honramos São João. É o mês em que habitualmente celebramos a semana santa e a Páscoa. São grandes dias de São João: quinta-feira santa quando ele repousa a sua cabeça no peito de Jesus, sexta-feira santa quando manifesta a sua admirável fidelidade que lhe vale tornar-se filho adotivo de Maria. Com São João quero repousar a minha cabeça sobre o Coração de Jesus, dia e noite. Eu quero ser para Jesus um pouco daquilo que São João foi para Ele.”
Sacerdote do Coração de Jesus, o Pe. Dehon quer viver como o apóstolo São João, saboreando o seu amor, descobrindo a sua presença de Ressuscitado. O Apóstolo São João é o modelo da vivência da Páscoa. Por isso o Pe. Dehon afixa nessa página do seu diário a estampa de São João que abaixo apresentamos.
Viver a Páscoa todos os dias, à maneira de São João.
Conclusão:
Podemos completar a derradeira expressão do Pe. Dehon ao morrer a 12 de agosto de 1925:
- Por ele vivi, por ele morro… E com Ele vivo para sempre.
É a Páscoa eterna.
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