Figura de São Francisco Xavier no Padrão dos
Descobrimentos.
É a estátua do primeiro degrau do lado Este.
Dos sermões do Pe. António Vieira sobre São
Francisco Xavier:
Clérigo chamavam somente a Xavier. E
sabendo-se em Goa que aquele homem sobre o carácter de clérigo tinha o de
núncio apostólico enviado pelo Sumo Pontífice, esperava o mundo que quando
aparecesse em público, fosse com tal aparato, que representasse a grandeza da
suprema majestade que o enviava. Mas quando o viram pelas ruas em corpo, sem
capa ou mantéu, que nunca pôs aos ombros, vestido com uma roupa tão pobre, com
os pés muitas vezes descalços, e chamando com uma campainha a vozes altas os
escravos e escravas, e falando-lhes em uma linguagem meio reinol, e meio
indiana, verdadeiramente ridícula, julgaram que ou a primeira vez que passou a
linha com as calmas de Guiné, ou a segunda, em que a tornou a passar, com os
novos e excessivos calores da Índia lhe refervera o juízo e que podendo a
doidice dar em outra cousa menos pia, tomara a contínua de sair pelas ruas a
fazer aquelas doutrinas em modo tão desautorizado, e tão alheio de tão grande
pessoa. Porém quando viram que os meninos da mesma doutrina com as contas do
clérigo, que tão pouca fazia da sua autoridade, ou com a cruz que trazia ao
peito lançavam os demónios dos corpos, e curavam as febres e as outras doenças
de cristãos e gentios, mudavam o conceito e diziam: Ele parece doudo mas é santo.
Dizem que andou Francisco Xavier no Oriente
trinta e três mil léguas. Mas porque estes medem só as distâncias de umas
terras a outras por linha direita, sem as quebras ou demasias que nas subidas
dos montes, nos rodeios das enseadas, e em outros passos dificultosos tem todos
os caminhos, mais certa é a medida dos que adiantam este cômputo quando menos a
trinta e seis mil léguas.
Não há dúvida que muito admiráveis foram os
pés de Xavier; mas muito mais admirável foi a sua língua. Porque se os pés andando puderam dar volta ao Mundo, a língua pregando
fez que o Mundo desse volta.
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