quarta-feira, 4 de abril de 2012

Via Sacra (10)



Via-Sacra narrada na primeira pessoa
Ou seja, narrada pelo próprio Jesus


1ª Estação:
Eu, Jesus, sou condenado à morte
Quando ouço a sentença da minha condenação, baixo os olhos, aceitando-a com humildade, sem achar que tanto sofrimento, tanta dor, como a que me vinham infligindo, já chegava.
Já chegava, efetivamente, mas não tem limites a doação de quem ama sem limites.
A única medida do amor é amar sem medida.
O meu amor pelo Pai e por vós não tem limites. Por isso queria dar-me todo ao Pai, em reparação por vós, sem limite algum.
Por isso aceitei a condenação, sem culpar ninguém por ela. Se quisesse culpar alguém, não saberia quem.
Não houve limites para o meu amor. Não ponhais também limites ao vosso amor por Mim.
Assim como vos amei, amai-vos uns aos outros…sem limites.

2ª Estação:
Eu, Jesus, carrego a Cruz
Pego na minha cruz, na cruz que as vossas faltas me impõem.
Pego na cruz da vossa falta de caridade, na cruz da não aceitação daquilo que é incómodo, do reclamar contra o que vos acontece de desagradável. Pego na cruz dos comentários que fazeis, das conversas inúteis, que vos fazem perder tempo e vos conduzem a perigos vários.
Pego na cruz dos vossos desejos, dos desejos que não mortificais, desejos de toda a ordem e a todos os níveis, corporais, mundanos e espirituais.
Pego na cruz das imprudências, que abrem a porta às tentações da futilidade, dos esquecimentos dos compromissos que assumis comigo.
Pego na cruz das vossas teimosias, do vosso amor próprio, do orgulho, das faltas à verdade.
É uma cruz pesada, esta cruz formada pelas vossas falhas. Segui sempre pelo caminho onde vedes as marcas da minha passagem. É um caminho doloroso, mas é o meu caminho.

3ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela primeira vez
Uma queda! A minha primeira queda! O peso, o cami­nhar rápido a que me obrigavam, as pedras, o caminho incerto, cheio de altos e baixos, fizeram-me cair.
Ao cair sobre mim, a cruz pesou mais e magoou-me ainda mais.
Cair a cruz por cima de vós é a falta de aceitação que tendes por aquilo de que não gostais, de que tendes má impressão, talvez más recordações de cruzes anteriores. Mas lembrai-vos de que, mesmo que não gosteis, a cruz não vos é retirada, mas cai sobre vós e, se tentais atirar com ela com desassossego, queixas ou fugas ao dever, é sobre vós, nessa queda que a recusa representa, que ela volta a cair, tantas vezes, quantas vezes a recusais.
Lembrai-vos da minha dor quando caí e da dor que me provocou a cruz, ao cair sobre mim. Lembrai-vos disso, quando tiverdes vontade de recusar alguma cruz. Evitai recusar a vossa cruz para que ela não caia outra vez sobre ninguém.

4ª Estação:
Eu, Jesus, encontro a minha Mãe
A certa altura do caminho, levantei os olhos e vi a minha Mãe. Como me doeu a sua aflição, a sua dor, perante este espectáculo.
Desejaria esconder a seus olhos este sangue que corre por vós, e a cuja vista a mergulha numa dor sem par para uma criatura.
O amor pela minha Mãe, não me impediu de me apresentar assim diante dela, aumentando o seu sofrimento, porque tal era preciso para vós.
Olhai para mim e para esta Mãe dolorosa, e vede em que estais mais agarrados à vossa vontade para que os desígnios de Deus se realizem em vós.

5ª Estação:
Eu, Jesus, sou ajudado pelo Cireneu
Eu estava tão desfalecido que procuraram alguém para me ajudar, não porque tivessem pena de Mim, mas com receio de que, o esforço de levar o peso da cruz, me fizesse morrer pelo caminho e já não fosse possível o espectáculo da execução, que seria ainda um acréscimo de dor, a que eles não me queriam poupar.
O Cireneu, um homem que vinha do campo, cansado do trabalho, desejoso de ir para casa, e que achava que nada tinha a ver com tudo aquilo, foi chamado para ajudar. Nada tinha contra mim ou a meu favor.
E, no entanto, foi este indiferente que foi chamado à grande missão de levar a minha cruz.
Um estranho levou a minha cruz para que os meus amigos não tenham medo de carregar a sua própria cruz.

6ª Estação:
Eu, Jesus, encontro Verónica que me limpa o rosto
Um grupo de amigos seguia-Me. Outros esperavam nas ruas onde sabiam que iria passar. Mal Me reconheciam! O meu rosto estava desfigurado e coberto de sangue!
Fitai o meu rosto sujo e maltratado. Quando fingis o que não sois e quando praticais caridade para serdes vistos e louvados, quando vos mostrais bons, mas com essa bonda­de ambicionais algum lucro, estais a desfigurar o meu rosto, a maltratar a minha imagem.
Que haja sempre alguém por perto para vos ajudar a limpar os vossos rostos desfigurados…

7ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela segunda vez
Segunda queda! Eu caí pela segunda vez, tropeçando nas pedras do caminho, estas pedras que não se amaciaram para Eu passar! Nada na minha paixão saiu do ritmo normal da natureza.
Também os corações e as mentes daqueles que Me maltratavam não foram forçados a mudar para Eu sofrer menos!
Não vos admireis daquilo que venhais a sofrer, não vos admireis que inocentes sofram!
A minha queda foi humilhante. Esta queda reparou as vossas faltas de humildade.

8ª Estação:
Eu, Jesus, encontro as mulheres de Jerusalém
Continuei a avançar. O meu sangue continuava a deixar pelo caminho a sua marca. Estava quase sem forças e custava-Me a levantar os pés, tropeçando muitas vezes.
Num determinado momento, o meu olhar foi atraído por um grupo de mulheres que chora. Eram amigas piedosas. Choravam com pena, por Me verem tão maltratado.
Olhei para elas e o meu coração compadeceu-se. Era grande a sua compaixão para comigo… mas Eu tive maior compaixão por elas.
Sim, chorai, mais sobre vós que sobre Mim, arrependei-vos e acreditai no evangelho…porque a minha dor é a vossa esperança, e o perdão é garantia de vida nova.

9ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela terceira vez
Os meus pés que tropeçavam continuamente, não resistiram e eu caí, na mais dolorosa das quedas.
O povo passou indiferente, distraído, incrédulo, como vós passais por Mim nas Igrejas, tão alheios à minha presença.
Não critiqueis aquele povo, que pisou o meu sangue no chão. Esse povo não sabia aquilo que vós sabeis, e vós fazeis o mesmo com a vossa indiferença perante o meu amor, que se vos dá sem que lhe deis nada em troca, senão indiferença e distração.
Lembrai-vos de que na vossa alma é derramado o meu sangue através da comunhão. Não passeis à frente com indiferença, distração ou negligência.

10ª Estação:
Eu, Jesus, sou despojado das minhas vestes
Eu tinha as vestes coladas ao corpo, principalmente nos lugares das feridas que tinham sangrado.
As vestes foram-Me brutalmente arrancadas e os meus ombros e costas, em carne viva, sangrando profundamente.
Todo o meu corpo foi objecto de mofa e escárnio, as feridas das minhas pernas e dos meus joelhos postas em ridículo, para salientar a minha fraqueza.
Tudo isto foi humilhação profunda a juntar a todas as humilhações que já sofrera.
Quando vos humilharem, lembrai-vos deste momento da minha paixão e implorai que o sangue que aqui derramei, ao serem-Me as vestes arrancadas, desça sobre vós e purifique os vossos corações, para que possais unir a vossa humilhação à minha humilhação.

11ª Estação:
Eu, Jesus, sou pregado na cruz
No momento em que onde aceitei ser pregado na cruz por amor de vós, aceitai ser pregados na­quela cruz que Eu vos dou e que vós sabeis qual é. É aquela que mais vos dói, que mais vos incomoda e da qual mais procurais fugir.
Dizei-me agora que quereis abraçar por meu amor a vossa cruz.
Sede vós as minhas mãos e os meus pés. Deixai-vos cravar comigo... em Mim.

12ª Estação:
Eu, Jesus, morro na cruz
Estava há três horas na cruz.
Não podia fechar os meus braços. Estavam pregados e abertos para todos os que quisessem aproximar-se de Mim.
Teria deixado que os fariseus Me abraçassem, se eles quisessem. Passavam, abanavam a cabeça e escarneciam.
Vinde a Mim só por amor. Rezai só por amor, obedecei só por amor, mortificai-vos só por amor e vivereis no meu amor, todos os dias da vossa vida.

13ª Estação:
Eu, Jesus, sou colocado nos braços da minha Mãe
Já morto, fui colocado nos braços daquela que daria a vida por Mim, que daria todo o seu sangue para evitar que Eu derramasse uma gota do meu.
As suas lágrimas magoadas caiam sobre Mim.
Vinde também aqui chorar, não tanto por Mim, mas por aquelas almas que recusam o meu amor. Mas não fiqueis só a chorar. Procurai ver o que podeis fazer por elas, acolhendo-as nos vossos braços.

14ª Estação:
Eu, Jesus, sou colocado no sepulcro
Os meus amigos colocaram-me no sepulcro. Era o sepulcro novo de José de Arimateia. Era o que, de melhor, aquele homem Me podia dar, aquilo que tinha reservado para si próprio, mas de que prescindia, para Mim.
Também vós precisais de prescindir muitas vezes de di­versas coisas que escolhestes, reservastes, acarinhastes, para vosso uso, tais como coisas, situações, modos de ver ou de actuar, pes­soas, sistema de vida, opções.
Hoje o meu sepulcro sóis vós. É em vós que descan­so e quero ressuscitar. Cada um de vós deve ser aquele sepulcro novo que me é dado, não por obrigação, mas só por amor.

15ª Estação:
Eu, Jesus, ressuscito
A noite foi a altura escolhida por Mim, para ressuscitar.
Foi na noite que a minha glória se manifestou. Será também na noite que, em vós, a minha glória se manifestará.
Quando sofreis, quando estais tristes, abandonados, em dificuldades e dores, quando parece nada mais vos restar, quando tudo para vós for trevas e morte, então estou mais perto para manifestar-vos a minha glória.
Tende esperança e acreditai na vida e na ressurreição.
Confiai em Mim e sereis salvos, vós todos por quem ressuscitei e tereis vida em abundância.
Eu sou a ressurreição e a vida… Quem acredita em Mim viverá eternamente…


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