Via-Sacra narrada na primeira pessoa
Ou
seja, narrada pelo próprio Jesus
1ª
Estação:
Eu, Jesus, sou condenado à morte
Quando
ouço a sentença da minha condenação, baixo os olhos, aceitando-a com humildade,
sem achar que tanto sofrimento, tanta dor, como a que me vinham infligindo, já
chegava.
Já
chegava, efetivamente, mas não tem limites a doação de quem ama sem limites.
A
única medida do amor é amar sem medida.
O
meu amor pelo Pai e por vós não tem limites. Por isso queria dar-me todo ao
Pai, em reparação por vós, sem limite algum.
Por
isso aceitei a condenação, sem culpar ninguém por ela. Se quisesse culpar
alguém, não saberia quem.
Não
houve limites para o meu amor. Não ponhais também limites ao vosso amor por Mim.
Assim
como vos amei, amai-vos uns aos outros…sem limites.
2ª
Estação:
Eu, Jesus, carrego a Cruz
Pego
na minha cruz, na cruz que as vossas faltas me impõem.
Pego
na cruz da vossa falta de caridade, na cruz da não aceitação daquilo que é
incómodo, do reclamar contra o que vos acontece de desagradável. Pego na cruz
dos comentários que fazeis, das conversas inúteis, que vos fazem perder tempo e
vos conduzem a perigos vários.
Pego
na cruz dos vossos desejos, dos desejos que não mortificais, desejos de toda a
ordem e a todos os níveis, corporais, mundanos e espirituais.
Pego
na cruz das imprudências, que abrem a porta às tentações da futilidade, dos
esquecimentos dos compromissos que assumis comigo.
Pego
na cruz das vossas teimosias, do vosso amor próprio, do orgulho, das faltas à
verdade.
É
uma cruz pesada, esta cruz formada pelas vossas falhas. Segui sempre pelo
caminho onde vedes as marcas da minha passagem. É um caminho doloroso, mas é o
meu caminho.
3ª
Estação:
Eu, Jesus, caio pela primeira vez
Uma
queda! A minha primeira queda! O peso, o caminhar rápido a que me obrigavam,
as pedras, o caminho incerto, cheio de altos e baixos, fizeram-me cair.
Ao
cair sobre mim, a cruz pesou mais e magoou-me ainda mais.
Cair
a cruz por cima de vós é a falta de aceitação que tendes por aquilo de que não
gostais, de que tendes má impressão, talvez más recordações de cruzes
anteriores. Mas lembrai-vos de que, mesmo que não gosteis, a cruz não vos é
retirada, mas cai sobre vós e, se tentais atirar com ela com desassossego,
queixas ou fugas ao dever, é sobre vós, nessa queda que a recusa representa,
que ela volta a cair, tantas vezes, quantas vezes a recusais.
Lembrai-vos
da minha dor quando caí e da dor que me provocou a cruz, ao cair sobre mim.
Lembrai-vos disso, quando tiverdes vontade de recusar alguma cruz. Evitai
recusar a vossa cruz para que ela não caia outra vez sobre ninguém.
4ª
Estação:
Eu, Jesus, encontro a minha Mãe
A
certa altura do caminho, levantei os olhos e vi a minha Mãe. Como me doeu a sua
aflição, a sua dor, perante este espectáculo.
Desejaria
esconder a seus olhos este sangue que corre por vós, e a cuja vista a mergulha
numa dor sem par para uma criatura.
O
amor pela minha Mãe, não me impediu de me apresentar assim diante dela,
aumentando o seu sofrimento, porque tal era preciso para vós.
Olhai
para mim e para esta Mãe dolorosa, e vede em que estais mais agarrados à vossa
vontade para que os desígnios de Deus se realizem em vós.
5ª
Estação:
Eu, Jesus, sou ajudado pelo Cireneu
Eu
estava tão desfalecido que procuraram alguém para me ajudar, não porque
tivessem pena de Mim, mas com receio de que, o esforço de levar o peso da cruz,
me fizesse morrer pelo caminho e já não fosse possível o espectáculo da
execução, que seria ainda um acréscimo de dor, a que eles não me queriam
poupar.
O
Cireneu, um homem que vinha do campo, cansado do trabalho, desejoso de ir para
casa, e que achava que nada tinha a ver com tudo aquilo, foi chamado para ajudar.
Nada tinha contra mim ou a meu favor.
E,
no entanto, foi este indiferente que foi chamado à grande missão de levar a
minha cruz.
Um
estranho levou a minha cruz para que os meus amigos não tenham medo de carregar
a sua própria cruz.
6ª
Estação:
Eu, Jesus, encontro Verónica que me limpa
o rosto
Um
grupo de amigos seguia-Me. Outros esperavam nas ruas onde sabiam que iria
passar. Mal Me reconheciam! O meu rosto estava desfigurado e coberto de sangue!
Fitai
o meu rosto sujo e maltratado. Quando fingis o que não sois e quando praticais
caridade para serdes vistos e louvados, quando vos mostrais bons, mas com essa
bondade ambicionais algum lucro, estais a desfigurar o meu rosto, a maltratar
a minha imagem.
Que
haja sempre alguém por perto para vos ajudar a limpar os vossos rostos
desfigurados…
7ª
Estação:
Eu, Jesus, caio pela segunda vez
Segunda
queda! Eu caí pela segunda vez, tropeçando nas pedras do caminho, estas pedras
que não se amaciaram para Eu passar! Nada na minha paixão saiu do ritmo normal
da natureza.
Também
os corações e as mentes daqueles que Me maltratavam não foram forçados a mudar
para Eu sofrer menos!
Não
vos admireis daquilo que venhais a sofrer, não vos admireis que inocentes
sofram!
A
minha queda foi humilhante. Esta queda reparou as vossas faltas de humildade.
8ª
Estação:
Eu, Jesus, encontro as mulheres de
Jerusalém
Continuei
a avançar. O meu sangue continuava a deixar pelo caminho a sua marca. Estava
quase sem forças e custava-Me a levantar os pés, tropeçando muitas vezes.
Num
determinado momento, o meu olhar foi atraído por um grupo de mulheres que
chora. Eram amigas piedosas. Choravam com pena, por Me verem tão maltratado.
Olhei
para elas e o meu coração compadeceu-se. Era grande a sua compaixão para
comigo… mas Eu tive maior compaixão por elas.
Sim,
chorai, mais sobre vós que sobre Mim, arrependei-vos e acreditai no evangelho…porque
a minha dor é a vossa esperança, e o perdão é garantia de vida nova.
9ª
Estação:
Eu, Jesus, caio pela terceira vez
Os
meus pés que tropeçavam continuamente, não resistiram e eu caí, na mais
dolorosa das quedas.
O
povo passou indiferente, distraído, incrédulo, como vós passais por Mim nas
Igrejas, tão alheios à minha presença.
Não
critiqueis aquele povo, que pisou o meu sangue no chão. Esse povo não sabia
aquilo que vós sabeis, e vós fazeis o mesmo com a vossa indiferença perante o meu
amor, que se vos dá sem que lhe deis nada em troca, senão indiferença e
distração.
Lembrai-vos
de que na vossa alma é derramado o meu sangue através da comunhão. Não passeis
à frente com indiferença, distração ou negligência.
10ª
Estação:
Eu, Jesus, sou despojado das minhas vestes
Eu
tinha as vestes coladas ao corpo, principalmente nos lugares das feridas que
tinham sangrado.
As
vestes foram-Me brutalmente arrancadas e os meus ombros e costas, em carne
viva, sangrando profundamente.
Todo
o meu corpo foi objecto de mofa e escárnio, as feridas das minhas pernas e dos
meus joelhos postas em ridículo, para salientar a minha fraqueza.
Tudo
isto foi humilhação profunda a juntar a todas as humilhações que já sofrera.
Quando
vos humilharem, lembrai-vos deste momento da minha paixão e implorai que o sangue
que aqui derramei, ao serem-Me as vestes arrancadas, desça sobre vós e
purifique os vossos corações, para que possais unir a vossa humilhação à minha
humilhação.
11ª
Estação:
Eu, Jesus, sou pregado na cruz
No
momento em que onde aceitei ser pregado na cruz por amor de vós, aceitai ser
pregados naquela cruz que Eu vos dou e que vós sabeis qual é. É aquela que
mais vos dói, que mais vos incomoda e da qual mais procurais fugir.
Dizei-me
agora que quereis abraçar por meu amor a vossa cruz.
Sede
vós as minhas mãos e os meus pés. Deixai-vos cravar comigo... em Mim.
12ª
Estação:
Eu, Jesus, morro na cruz
Estava
há três horas na cruz.
Não
podia fechar os meus braços. Estavam pregados e abertos para todos os que
quisessem aproximar-se de Mim.
Teria
deixado que os fariseus Me abraçassem, se eles quisessem. Passavam, abanavam a
cabeça e escarneciam.
Vinde
a Mim só por amor. Rezai só por amor, obedecei só por amor, mortificai-vos só
por amor e vivereis no meu amor, todos os dias da vossa vida.
13ª Estação:
Eu, Jesus, sou colocado nos braços da
minha Mãe
Já
morto, fui colocado nos braços daquela que daria a vida por Mim, que daria todo
o seu sangue para evitar que Eu derramasse uma gota do meu.
As
suas lágrimas magoadas caiam sobre Mim.
Vinde
também aqui chorar, não tanto por Mim, mas por aquelas almas que recusam o meu
amor. Mas não fiqueis só a chorar. Procurai ver o que podeis fazer por elas,
acolhendo-as nos vossos braços.
14ª
Estação:
Eu, Jesus, sou colocado no sepulcro
Os
meus amigos colocaram-me no sepulcro. Era o sepulcro novo de José de Arimateia.
Era o que, de melhor, aquele homem Me podia dar, aquilo que tinha reservado
para si próprio, mas de que prescindia, para Mim.
Também
vós precisais de prescindir muitas vezes de diversas coisas que escolhestes,
reservastes, acarinhastes, para vosso uso, tais como coisas, situações, modos
de ver ou de actuar, pessoas, sistema de vida, opções.
Hoje
o meu sepulcro sóis vós. É em vós que descanso e quero ressuscitar. Cada um de
vós deve ser aquele sepulcro novo que me é dado, não por obrigação, mas só por
amor.
15ª
Estação:
Eu, Jesus, ressuscito
A
noite foi a altura escolhida por Mim, para ressuscitar.
Foi
na noite que a minha glória se manifestou. Será também na noite que, em vós, a
minha glória se manifestará.
Quando
sofreis, quando estais tristes, abandonados, em dificuldades e dores, quando
parece nada mais vos restar, quando tudo para vós for trevas e morte, então
estou mais perto para manifestar-vos a minha glória.
Tende
esperança e acreditai na vida e na ressurreição.
Confiai
em Mim e sereis salvos, vós todos por quem ressuscitei e tereis vida em
abundância.
Eu
sou a ressurreição e a vida… Quem acredita em Mim viverá eternamente…
A partir de uma reflexão proposta em http://www.avidasacerdotal.com/2009/07/via-sacra-do-preciosissimo-sangue-de.html
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