domingo, 7 de novembro de 2010

Se digo Pai Nosso


O Pai Nosso de cada dia (113)

Vós, que não entendeis o breviário por ser em outra língua, rezai o rosário na vossa e vede se há palavras nas suas orações que da língua ao coração não excite ardentíssimos desejos!

Se digo – Pai nosso – esta palavra me excita a amar um Deus, que me criou e do nada me deu o ser que tenho, e a não degenerar de filho de tão soberano Pai.

Se digo – que estás nos céus – esta palavra me lembra que o Céu, e não a Terra, é a minha Pátria, e que viva na passagem deste mundo, como quem há-de viver lá eternamente.

Se digo – santificado seja o teu nome – esta palavra me ensina a veneração com que devo tomar na boca o nome de Deus, e a verdade com que, sendo necessário, hei-de jurar por ele.

Se digo – venha a nós o teu reino – esta palavra verdadeiramente saudosa me admoesta do fim para que fui criado e que se agora sirvo neste cativeiro entre os homens, é para depois reinar entre os anjos.

Se digo – seja feita a tua vontade assim na terra como no céu – esta palavra conforma a minha vontade com o divino, para que, querendo o que ele quer, tudo o que se faz ou sucede seja também o que eu quero.

Se digo – o pão nosso de cada dia nos dá hoje – nesta palavra me livro de todos os cuidados da vida e, com os seguros tesouros de não desejar o supérfluo, sou mais rico que todos os ambiciosos do mundo.

Se digo – perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos – com este pequeno cabedal de perder o pouco que me devem, pago as infinitas dívidas de quanto devo a Deus, pelo que dele recebi e o tenho ofendido.

Se digo – não nos deixes cair em tentação – nesta palavra reconheço, para a cautela, a própria fraqueza, e me ponho naquelas poderosas mãos de quem só me pode ter mão, para que não caia.

Se digo finalmente – mas livra-nos do mal – nesta última palavra confesso que muitos dos que tenho por bens, verdadeiramente são males, e que só me pode livrar deles quem só os antevê e combate.

(Pe. ANTÓNIO VIEIRA, Cf. Bíblica 92, 1970, página 288).

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