quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

O poeta da noite escura


Memória de São João da Cruz, 1542-1591

Presbítero e Doutor da Igreja

A – São João da Cruz estando preso era livre.

Toledo, 3 de dezembro de 1577. Noite cerrada. Um frade chamado João da Cruz foi levado à força para o convento carmelita. Ele estava com os olhos vendados. Esperam-no oito meses que serão morte e vida para ele. Ali, numa cela de 2,70 por 1,60 metros, sem janela, com duas mantas velhas e o imobiliário reduzido a um banco, pão e água duas vezes ao dia, jejum obrigatório três vezes na semana, açoitado regularmente batido até abrir a carne das costas, nasceu o maior poema de amor de todos os tempos: o Cântico Espiritual. Na prisão esteve livre, por isso escolheu cantar e amar.

 

B – A Chama do Amor Vivo

São João da Cruz escreveu para ensinar a percorrer o caminho de seguimento de Cristo e ultrapassar as dificuldades desse caminho. Na Chama de Amor Vivo descreve as etapas ou fases do amor de Deus em nós:

1- Não basta saber que Deus te ama, é preciso sentir que Deus te ama. É preciso experimentar esse amor.

2- Sabes que te ama sem algum interesse, sem esperar nada em troca, não porque tu o mereces, mas porque ele é bom e generoso.

3- Descobres que o seu amor te une e iguala a ele, faz-te participante na sua vida e glória.

4- Descobres o verdadeiro nome de Deus – Javé – Eu sou para ser teu e para ti e gosto de ser tal como sou por ser teu e para dar-me.

 

 

C – Embora seja noite

Poema de São João da Cruz que a Liturgia das Horas propõe para hino do Ofício de Leitura de sábado do tempo comum.

 

Bem eu sei a fonte que mana e corre

Embora seja noite

 

Aquela eterna fonte não a vê ninguém

E bem sei onde é e donde vem,

Embora seja noite.

 

Não sei a fonte dela, que não há

Mas sei que toda a fonte vem de lá,

Embora seja noite.

 

Não pode haver, eu sei, coisa tão bela

E terra e céus beleza bebem dela,

Embora seja noite.

 

Porque não pode ali o fundo achar,

Sei que ninguém a pode atravessar,

Embora seja noite.

 

A claridade sua não escurece

E sei que toda a luz dela amanhece,

Embora seja noite.

 

Tão caudalosas são suas correntes

Que regam céus, infernos e as gentes,

Embora seja noite.

 

E desta fonte nasce uma corrente  

E bem sei eu que é forte e omnipotente,

Embora seja noite.

 

Das duas a corrente, que procede

Sei que nenhuma delas a precede,

Embora seja noite.

 

E esta eterna fonte está escondida

Em este vivo pão a dar-nos vida,

Embora seja noite.

 

Aqui está a chamar as criaturas

Que bebem desta água e às escuras,

Porque é de noite.

 

Esta viva fonte que desejo,

Em este pão da vida, aí a vejo,

Embora de noite.

 

D – Ver também:

Prisioneiro, mas livre

Santo, Poeta e Místico

 

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