O
Natal dos Poetas (4)
Poetas que rezamos nos hinos do tempo de Natal na Liturgia das Horas ou Breviário
De
Gil Vicente (1465-1536)
Vésperas
II
Esta noite é de alegria
Ninguém está sonolento,
É noite do Nascimento
Em que Deus mostrou seu dia.
É noite de grã memória,
Noite em dia convertida,
Escuridão consumida
Com grão resplendor de glória.
No meio mais luminosa
Que no mundo nunca viste
E de escura, fria e triste
A mais doce e gloriosa.
Oh noite favorecida
De memorável coroa,
Vista de Deus em pessoa
Começando humana vida!
Dos Anjos toda cercada,
Dos elementos servida,
Do Pai e Filho escolhida,
Do Espírito Santo espirada!
Hora
Intermédia III
Branca estais colorada,
Virgem sagrada.
Em Belém, vila do amor
Da Rosa nasceu a Flor:
Virgem sagrada.
Em Belém, vila do amor,
Nasceu a Rosa do Rosal:
Virgem sagrada.
Da Rosa nasceu a Flor,
Para nosso Salvador:
Virgem sagrada.
Nasceu a Rosa do Rosal,
Deus e homem natural:
Virgem sagrada.
De
Frei Agostinho da Cruz (1540-1619)
Laudes
II
Pasmem de alegria
Na terra e nos céus,
Vendo a noite – dia,
Vendo o homem – Deus.
Comércio admirável
Que o amor descobriu
Mistério inefável,
Que o Céu nos abriu!
Milagre inventado
Do divino Espírito:
Que do limitado
Saia o Infinito!
Na Virgem caber
Quem nos Céus não cabe,
Como pode ser?
Quem o fez o sabe.
Nova maravilha
Do divino amor:
Mãe, Esposa e Filha
Do mesmo Senhor!
Deu a flor suave
O fruto esperado:
Já vimos a chave
Do jardim cerrado.
É Lume do Lume
Que Ele só faz ver,
No qual se resume
Tudo o que tem ser.
Triunfo e luzerna
Da Cidade santa,
Que com glória eterna
Se adora e se canta.
Laudes
III
Hoje os homens veem
O Verbo Encarnado,
Poe quem, para quem
Tudo foi criado.
Quando a Virgem viu
Da glória o penhor,
Tudo se cobriu
Do seu resplendor.
Em tal claridade
A sua alma ardia
Que toda a Trindade
Nela se revia.
A mão soberana
Seu poder mostrou
Na trindade humana
Que aqui ajuntou.
Anjos, reis, pastores,
Por divina traça,
São anunciadores
Do Autor da graça.
Pelo Deus visível,
Que já conhecemos
No amor do invisível
Nos arrebatemos.
Hora
intermédia I
Anjos e pastores,
Com muita alegria
Louvemos o Filho
Da Virgem Maria.
Menino tão rico,
Que pobre que estais,
Deitado no feno
E entre animais.
Os filhos dos homens
Em berço doirado,
E Vós, meu Menino
Em palhas deitado!
Em palhas deitado,
Tão pobre, esquecido,
Filho duma Rosa,
Dum Cravo nascido.
Lapa gloriosa,
Dos Céus invejada,
Que eles mais formosa,
Mais alumiada.
Nela nasce Deus,
Nela hoje Se encerra
O melhor dos Céus,
O melhor da terra.
De
António Moreira das Neves (XX)
Ofício
de Leitura I
Cristo Jesus, ó Sol da Redenção,
À vossa luz se extingue todo o
erro:
Acaba-se no mundo a solidão
Das almas em
desterro.
Os Anjos cantam a Jesus nascido,
Adormecem na selva as feras más:
O universo repousa agradecido
Na alegria da paz.
Senhor do mundo, Vós sois o Menino
Da Virgem pura, Mãe imaculada:
Cai das alturas um luar divino
Sobre a terra
admirada.
Nossa Senhor Vos embala e canta,
No coração guardando quanto escuta:
O mistério daquela noite santa
No silêncio da gruta.
Louve o Senhor a natureza humana
Que no mundo jamais subir tanto:
Glória ao Pai, glória ao Filho,
glória, hossana
Ao Espírito Santo.
De
Manuel Simões (1924-1995)
Hora
Intermédia II
Desde o nascer do sol
Até ao fim do dia,
Cantemos o Senhor
Da Virgem Mãe nascido.
Hoje o Autor do mundo
Veio em carne mortal
Para salvar o homem,
Obra das suas mãos.
Nascido de Maria,
Templo vivo de Deus,
Vem cumprir a promessa
De salvar o seu povo.
Bendito seja Deus,
Criador do universo;
Bendito seja Deus,
Feito por nós menino.
Vamos com os pastores,
Com os Anjos cantando:
Glória a Deus nas alturas
Paz aos homens na terra.
De
Fernando Melro (+2014)
Vésperas
I
Oh admirável noite em que nasceu
Do seio de Maria o Redentor!
Em humildade extrema apareceu
Quem é d Pai celeste resplendor.
Rejubilou a terra de alegria
No santo nascimento de Jesus:
Do seio imaculado de Maria
Surgiu em noite escura a eterna
Luz.
Aquele que deu vida às criaturas
Hoje aparece como nosso irmão:
Quem acendeu os astros nas alturas
Desceu à nossa humana condição.
Nações do mundo inteiro, bendizei,
Louvai o Deus Menino e sua Mãe;
Louvai com alegria o vosso Rei,
Nascido na pobreza de Belém.
Exultemos de alegria,
Adoremos o Senhor:
Da Virgem Santa Maria
Nasceu Cristo, o Redentor.
De
Heitor Morais (1923-2016)
Vésperas
III
De Jessé, raiz fecunda,
Cumprindo-se a profecia,
Cheio de graça e perdão
Nasce Jesus de Maria.
Um Menino nos foi dado
E um Filho nos nasceu,
Glória a Deus e paz na terra
Cantam os Anjos no Céu.
A lua, o sol, as estrelas
E tudo quanto o Céu cobre
Cantem ao Rei do Universo
Que quis nascer como pobre.
É o Príncipe da paz,
Admirável Conselheiro.
Traz o império sobre os ombros,
Salvador do mundo inteiro.
Anjos no céu aparecem,
Cantando glória e louvor,
E os pastores reconhecem
O Cordeiro do Senhor.
Glória seja dada ao Pai
E ao Espírito também,
Glória seja dada ao Filho
Nos braços da Virgem Mãe.
Ofício
de Leitura II
No princípio era o Verbo
E o Verbo era Deus.
Tudo por Ele foi criado
Na terra como nos céus.
Luz eterna e verdadeira,
Mistério de Deus profundo,
Que ilumina todo o homem
Que nasce para este mundo.
O mundo por Ele foi feito,
Mas não O reconheceu;
E não O quis receber,
Quando veio ao que era seu.
Mas o Verbo Se fez homem
E habitou entre nós,
E vimos a sua glória,
Ouvimos a sua voz.
Cheio de graça e verdade
No meio de nos O vemos:
É da dua plenitude
Que todos nós recebemos.
Glória ao Pai e glória ao Filho,
Que nasceu da Virgem Mãe,
Glória ao Espírito Santo,
Pelos séculos. Ámen.
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