6ª feira depois das cinzas
1º - Festa é festa, jejum é jejum
O projeto ou o Reino de Jesus não é jejum, mas celebração de
bodas ou uma festa.
Pode haver jejum numa festa de casamento?
Festa é festa e jejum é jejum.
Não pode haver misturas, não pode haver festas com
jejum nem jejum em dia de festa.
2º - Jejum do pecado
Queres que te mostre que jejum deves praticar? Jejua
do pecado, não tomes qualquer alimento de maldade, não aceites refeições de
volúpia, não te aqueças com o vinho da luxúria.
Jejua das más ações, abstém-te de palavras invejosas,
guarda-te de maus pensamentos. Não toques em pães roubados de uma doutrina
perversa. Não desejes os alimentos enganadores da filosofia, que te afastam da
verdade. É esse o jejum que agrada a Deus.
Ao dizer isto, não quero aconselhar-te a relaxares as
rédeas da abstinência cristã, visto que temos os dias da quaresma que são
consagrados aos jejuns, para além do quarto e do sexto dias da semana, em que
jejuamos, de acordo com o costume estabelecido; e o cristão é livre de jejuar em
qualquer momento, não por escrúpulo de observância, mas por virtude de
continência.
Pois como havemos de guardar a castidade, se ela não
estiver sustentada no rigoroso apoio da abstinência? Como havemos de nos
entregar às Escrituras, como havemos de nos aplicar à ciência e à sabedoria?
Não será pela continência do ventre e da garganta?
Eis um bom motivo para os cristãos jejuarem. Mas há outro, também ele religioso, cujo elogio é feito nos escritos dos apóstolos. Com efeito, encontramos a seguinte afirmação numa carta: «Feliz o que jejua também para alimentar o pobre»: o seu jejum é muito agradável a Deus e, na verdade, é extremamente digno, pois imita Aquele que deu a vida pelos seus irmãos. (Cf. Orígenes (185-253) in Homilia sobre o Levítico)
3º - Jejuar de comida e não só
A honra do jejum não consiste apenas na abstinência da
comida, mas também em evitar as ações pecaminosas; quem limita o seu jejum apenas
à abstinência de carnes desonra-o. Praticas o jejum? Prova-me através das tuas
obras! Perguntas que tipo de obras?
Se vires um inimigo, reconcilia-te com ele! Se vires
um amigo tendo sucesso, não o invejes! Se vires uma mulher bonita, passa por
ela sem olhar!
Que não apenas a boca jejue, mas também os olhos, e os
ouvidos, e os pés, e as mãos, e todos os membros dos nossos corpos.
Que as mãos jejuem sendo puras da avareza e da rapina.
Que os pés jejuem, deixando de caminhar para espetáculos imorais. Que os olhos
jejuem, não se detendo sobre feições belas ou ocupando de belezas exóticas.
Pois o que é visto é a comida dos olhos, mas se o que
for visto for imoral ou proibido, macula-se o jejum e perturba-se toda a
segurança da alma. Mas se for moral e seguro, o que é visto adorna o jejum.
Pois seria absurdo abster-se da comida permitida por
causa do jejum, mas devem os olhos abster-se até de tocar o que é proibido. Não
comes carne? Então não te alimentes da luxúria através dos olhos.
Que também os ouvidos jejuem. O jejum dos ouvidos
consiste em recusar-se a ouvir assuntos perversos e calúnias. Não receberás
notícias falsas.
Que a boca também jejue de dizer coisas vergonhosas e de fazer reclamações. Pois, o que ganhas se te absténs de pássaros e peixes, e mesmo assim mordes e devoras o teu próximo? O que usa da má-língua come a carne do seu irmão e morde o corpo do seu próximo. (Cf. São João Crisóstomo)
4º - A grandeza do homem que jejua
Um
monge aconselhava às mulheres que queriam casar: Case com um homem capaz de
jejuar:
A qualquer mulher que deseje se casar, o meu conselho é:
case-se com um homem capaz de jejuar”, dizia um monge beneditino. Eis uma
exigência interessante na hora de procurar um esposo. A princípio, poderíamos
julgar que, certamente, qualquer um pode jejuar. Mas há jejuns e jejuns.
O jejum geralmente se refere à renúncia de alimentos,
mas pode referir-se também a dizer “não” a outras coisas; por exemplo, alguém
pode fazer jejum de redes sociais. Qualquer tipo de jejum é um “não” que se
diz. Todavia, é sempre um “não” por alguma razão; podemos dizer que se trata de
um “não” enraizado num “sim”.
Tradicionalmente, existem várias razões pelas quais os
cristãos jejuam. Duas delas se destacam por estar obviamente ligadas uma à
outra e firmemente enraizadas na experiência humana. O jejum pode refrear o
desejo pelas coisas inferiores, e pode elevar a mente às coisas superiores.
Esta última razão, que confere especial importância à primeira, deve nos fazer
pensar. Claramente, nem todo o jejum eleva a mente às coisas mais elevadas.
Um homem capaz de jejuar é um homem capaz de ver e de
amar.
5º - Ver também
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