São
José não só nos ajuda sempre e em toda a parte
como também nos ensina a ajudar sempre uns aos outros.
Esmola para São José
Tem certas coisas, meu moço,
Que eu não gosto muito, não!
Por exemplo: ouvir contar
História de assombração,
De arrancamento de dente,
Ouvir história de briga...
Eu posso até escutar,
Mas me dá uma fadiga!...
E outra coisa, meu moço,
Que de bom gosto não faço,
É dar esmola a quem pede
Com santo debaixo do braço.
Ah, pois eu acho que o santo
Não tem muita precisão,
Afinal, eu nunca vi
Nenhum santo comer feijão.
Mas, para mal dos meus pecados,
Ou por minha pouca fé,
Todos os dias lá em casa
Passa um velho andando a pé,
Por sinal, munto feliz,
Chega em minha porta e diz:
Esmola para São José!
E o diabo da mulher,
Que é muito alcoviteira
(Ainda não vi uma mulher
Que não seja rezadeira),
Adquire um tanto ou quanto,
Corre, vai dar ao santo,
Para o velho fazer feira.
Muitas vezes, logo cedinho,
Se eu vou tomar o café,
Quando dou fé o grito:
Esmola para São José!!!
Isto foi me enchendo o saco,
Cada vez enchendo mais…
E um dia, ao chegar a casa,
Bem cansado, até demais
Sentei-me num cepo de pau,
Tomei uma de rapé,
E ouvi a voz lá na porta:
Esmola para São José!
Para logo dar a esmola,
A mulher se remexeu,
Mas eu lhe gritei: Não vá,
Que quem vai hoje sou eu!
Quando eu cheguei à porta,
O velho teve um espanto!
E eu disse: Vá trabalhar,
Que eu não dou esmola a santo!
Troque o santo por uma enxada,
Deixe de ser preguiçoso,
Que santo não quer esmola,
Não seja ganancioso!
O velho me olhou e disse:
“Que São José te perdoe…
E se Deus tiver ouvindo,
Quero que ele te abençoe
E que cubra a tua casa
De paz, amor, união
Saúde, prosperidade,
Sossego e compreensão…
E se um dia o senhor,
Precisar deste velhinho
Ele não mora tão perto,
Mas eu lhe ensino o caminho.
Fica no sítio mais além,
Onde já morou meu pai,
À direita de quem vem,
À esquerda de quem vai.
Se um dia, o senhor passar
Por ali, com precisão,
De fome o senhor não morre,
Também não dorme no chão.”
Quando o velho disse aquilo,
Eu senti naquele instante
Como se eu fosse uma formiga
Sob os pés dum elefante.
Estava com as pernas tremendo,
Digo e não peço segredo:
O velho deu-me uma surra,
Sem me tocar com o dedo.
Eu, com tanta arrogância,
Ele, com tanta mansidão,
Fez-me pagar muito caro
A falta de educação.
Então, naquele instante,
Eu gritei por minha mulher
Que trouxesse para o velhinho
Uma xícara de café.
E fui contar o meu dinheiro,
Tinha somente um cruzeiro,
Dei tudo para São José!...
(Zé
Laurentino, Poeta do Povo, (Paraíba, Brasil + 2016)
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