3ª feira - X semana comum
Vós sois o sal da terra
O sal tem como missão própria
conseguir o seu fim desfazendo-se.
Assim o discípulo de Cristo só
cumpre com a sua missão desfazendo-se, dando-se generosamente, partilhando a
sua vida gratuitamente, esquecendo-se humildemente.
Vós sois a luz do mundo
O discípulo de Cristo é chamado a ser luz do mundo e não
pisca-pisca.
Por que estimam os homens o ouro
e a prata, mais que os outros metais? Porque têm alguma coisa de luz.
Por que estimam os diamantes e as
pedras preciosas mais que as outras pedras?
Porque têm alguma coisa de luz.
Por que estimam mais as sedas que
as lãs?
Porque têm alguma coisa de luz.
Pela luz avaliam os homens a
estimação das coisas, e avaliam bem, porque quanto mais têm de luz, mais têm de
perfeição.
Vede o que notou Santo Tomás:
Neste mundo visível, umas coisas são imperfeitas, outras perfeitas, outras perfeitíssimas;
e nota ele com sutileza e advertência angélica, que as perfeitíssimas têm luz,
e dão luz; as perfeitas não têm luz mas recebem luz; as imperfeitas nem têm
luz, nem a recebem. Os planetas, as estrelas e o elemento do fogo, que são
criaturas sublimes e perfeitíssimas, têm luz e dão luz; o elemento do ar e o da
água, que são criaturas diáfanas e perfeitas, não têm luz mas recebem luz; a
terra e todos os corpos terrestres, que são criaturas imperfeitas e grosseiras,
nem têm luz, nem recebem luz, antes arrebatem e deitam de si.
Ora, não sejamos terrestres, já
que Deus nos deu uma alma celestial; recebamos a luz, amemos a luz, busquemos a
luz, e conheçamos que nem temos, nem podemos, nem Deus nos pode dar bem nenhum
que seja verdadeiro bem, sem luz.
Ouvi umas palavras admiráveis do
apóstolo S. Tiago na sua epístola:
(Tg. 1,17): Toda dádiva boa, e
todo dom perfeito descende do Pai das luzes. Notável dizer! De maneira que
quando Deus nos dá um bem que seja verdadeiramente bom, quando Deus nos dá um
bem que seja verdadeiramente perfeito, não se chama Deus pai de misericórdias,
nem fonte das liberalidades: chama-se pai das luzes e fonte da luz, porque no
lume e na luz, que Deus nos dá com os bens, consiste a bondade e a perfeição
deles.
Muitos dos que nós chamamos bens
de Deus, sem luz são verdadeiramente males, e muitos dos que nós chamamos
males, com luz são verdadeiros bens.
Os favores sem luz são castigos,
e os castigos com luz são favores; as felicidades sem luz são desgraças, e as
desgraças com luz são felicidades; as riquezas sem luz são pobreza, e a pobreza
com luz são as maiores riquezas; a saúde sem luz é doença, e a doença com luz é
saúde.
Enfim na luz ou falta de luz
consiste todo o bem ou mal desta vida, e todo o da outra.
Por que cuidais que foram santos
os santos, senão porque tiveram a luz
que a nós nos falta? Eles
desprezaram o que nós estimamos, eles fugiram do que nós buscamos, eles meteram
debaixo dos pés o que nós trazemos sobre a cabeça, porque viam as coisas com
diferente luz do que nós as vemos. (Cf. Pe.
António Vieira, Sermão do Nascimento de Nossa Senhora, Maranhão, 1657)
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