sexta-feira, 10 de junho de 2016

No dia de Camões



O Pe. Dehon e Luís de Camões


1) No livro que relata a visita do Pe. Dehon a Espanha e Portugal em 1900, aparecem 7 referências a Luís de Camões.
a) Visitando Lisboa:
- Admira a bela estátua do grande poeta na Praça Camões no Bairro Alto.
- Visita o túmulo de Camões no Mosteiro dos Jerónimos, referindo que ali estava desde 1880.
- Refere que entre os cidadãos portugueses mais gloriosos estão: António de Pádua, Camões, Vasco da Gama, Henrique o Navegador.
b) Em Coimbra:
- No Mosteiro de Santa Cruz ao admirar a capela e a estátua de São Teotónio, refere que este prior foi celebrado por Camões. De facto, no Canto VIII, estância 19 de Os Lusíadas, Camões escreveu sobre Teotónio Prior:
         Um Sacerdote vê, brandindo a espada
         Contra Arronches, que toma, por vingança
         De Leiria, que de antes foi tomada
         Por quem por Mafamede enresta a lança:
         É Teotónio Prior. Mas vê cercada
         Santarém. E verás a segurança
         Da figura nos muros que, primeira
         Subindo, ergueu das Quinas a bandeira.
- Admira diante da Universidade o monumento aí levantado a Camões por ter sido aí que adquiriu o gosto literário que fez a sua glória.
- Na Quinta das Lágrimas lembra os versos de Camões no terceiro canto de Os Lusíadas que tornaram populares as lembranças de Inês de Castro.
- Ao relatar a história de Inês de Castro cita Camões para identificar: aquela que depois de ser morta foi Rainha.
2) No livro que relata a sua viagem ao Brasil e América do Sul, com escala em Lisboa em 1906, aparecem outras 3 referências a Camões:
-Ao contemplar o estuário do Tejo, cita Camões na sua invocação às Musas, em Os Lusíadas, Canto I, estância 4:
         E vós, Tágidas minhas, pois criado
         Tendes em mim. Um novo engenho ardente,
         Se sempre em verso humilde celebrado
         Foi de mim vosso rio alegremente,
         Dai-me agora um com alto e sublimado,
         Um estilo grandíloquo e corrente,
         Porque de vossas águas, Febo ordene
         Que não tenham inveja às de Hipocrene.
- Ao falar dos grandes navegadores portugueses cita Camões em Os Lusíadas, canto X, estância 147:
         Olhai que ledos vão, por várias vias,
         Quais rompentes leões e bravos touros,
         Dando os corpos a fomes e vigias,
         A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
         A quentes regiões, a plagas frias,
         A golpes de Idolatras e de Mouros
         A perigos incógnitos do mundo,
         A naufrágios, a peixes, ao profundo.
-Ao constatar a mútua influência da língua portuguesa e o idioma tupi, diz que as formas do neo-latim da língua do grande Camões, foram enriquecidas graças a numerosas palavras tomadas das línguas indígenas e do calão dos negros.
3) Nas notas Quotidianas que relatam a sua viagem à volta do mundo em 1910 surgem 2 referencias:
- Durante o Congresso Eucarístico em Montreal refere que os poetas realçaram a grandeza da Eucaristia, desde Dante a Tasso, de Tasso a Camões, de Camões a Corneille, de Corneille a Chanteaubriand.
- Quando navega ao largo de Macau em 1910 faz memória de Camões, pois foi aí onde o poeta terminou Os Lusíadas. E conclui dizendo que Portugal já não dá homens dessa envergadura.
4) Nas notas quotidianas de 1899 há 1 referência importante:
- Ao visitar pela primeira a Espanha recorda o contributo que a península ibérica deu às letras apresentando a importância de Camões: o grande poeta Português Luís de Camões (1525-1579), nascido em Lisboa, soldado em Ceuta e Goa, na Índia; exilado em Macau na China por ter censurado o vice-rei. Aí escreveu o Lusíadas na caverna de Patane. Ele canta a glória do Português (Lusi, Lusitani), explorações e descobertas de Vasco da Gama. Ele mistura o sobrenatural cristã e sobrenatural pagã. Ele tem um tom verdadeiramente épico que lembra Tasso. Perdoado, ele voltou para Goa, naufragou na costa de Cochinchina, escapou nadando com o seu manuscrito fora da água, regressou depois a Lisboa e onde publicou os seus poemas, que não tiveram inicialmente grande sucesso; Ele viveu na pobreza e morreu no hospital. Lisboa ergue-lhe um belo monumento em 1856.
5. Conclusão:
- O Pe. Dehon fala de Camões em 13 momentos.
- O Pe. Dehon conhece Camões não só quanto à sua arte literária, mas num âmbito vasto e variado:
       Admirando obras de arte (estátuas)
       Visitando Monumentos
   Evocando a história da humanidade (figuras gloriosas)
       Estudando teologia.
- Dentro e fora de Portugal reconhece a importância da vida e obra de Camões quer na Península Ibérica, América ou Ásia.
- A primeira informação sobre Camões foi partilhada em 1899 um ano antes do Pe. Dehon ter visitado Portugal pela primeira vez (1910).
- O Pe. Dehon não só conhece a importância do poeta, como também cita a sua obra, pelo menos 3 vezes. Indica a tradução usada: Traduction des Lusiades en vers français par de Cool, Rio de Janeiro 1876.
- Para o Pe. Dehon Luís de Camões é de facto uma das maiores glórias de Portugal e lamenta não haver tamanhas glórias na modernidade.
- Não podemos esquecer que o Pe. Dehon reconhecia que a sua formação literária tinha sido muito limitada. Não tinha preparação nem inclinação para essa arte. Se alguém assim tão limitado é capaz de falar assim de Camões, imaginemos o que diria se os seus estudos e aptidões fossem outros…


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