E agora, quereis saber como um padre sabe amar a
França? Dou a palavra por alguns instantes a um missionário que acaba de morrer
como um santo no meio das populações quase selvagens de Kouy-Tchéou. Conheci-o
em Roma, espírito delicado e profundo, coração forte e límpido, alma de
sacerdote, de apóstolo e de mártir. Eis o que ele escrevia, em plena China , ao seu
venerável Decano: “Fiquei muito feliz com a vossa viagem à minha terra, e com a
vossa visita à igreja e aos túmulos que nos são queridos! Nosso pobre Orrouy!
Quando regressardes, beijai por mim a terra em cada passo que derdes aí, dizei
por mim a cada árvore, a cada pedra, a cada grão de pó: Lá longe, em plena China , está um
missionário que vos recorda, vos ama e pensa tanto em vós que os seus olhos se
humedecem de lágrimas. De resto, trouxe e tenho aqui um pequeno vaso cheio de
terra recolhida nos nossos queridos túmulos, abro-o de tempos a tempos,
sobretudo quando estou mal. Se eu nunca voltar à França, precisarei dos olhos interiores do coração para reconhecer
a nossa velha igreja sob as suas belas restaurações. Mas a minha mão direita
perecerá e a minha língua gelada se apegará ao meu palato, antes que me esqueça
de Orrouy, do seu campanário e dos nossos bons amigos reunidos à sua volta. Se me esquecer de ti, Jerusalém! Muitas
vezes, muitas vezes mesmo, o meu pensamento e o meu coração fazem a sua
peregrinação à nossa Jerusalém.”
“Nós deixámos, dizia ele ainda, um pequeno vazio na
França deixando-a; custou-nos deixá-la e custa-nos sempre muito ainda; é
justamente este muito que contará diante de DEUS.”
Ele recorda a palavra de Mons. Vérolles. “Para ser um
verdadeiro missionário católico, é preciso permanecer francês.” Nada me
emociona tanto como estes rasgos de patriotismo profundo de que as suas cartas
estão cheias; emocionamo-nos quando o ouvimos declarar que entregará à China os
seus trabalhos, as suas fadigas, a sua abnegação e, se for preciso, a sua vida,
mas o coração, nunca! E que nada poderá arrebatar-lhe a sua França bem-amada.
Eis como uma grande alma sacerdotal sabe unir o amor a
Deus ao amor à pátria.[1]
Ah! Caros filhos, nunca esqueçam que a Igreja é a
grande escola do patriotismo como é a verdadeira fonte do progresso nas letras
e nas artes.
Amai a Igreja. Salomão amou a sabedoria e DEUS deu-lhe
como recompensa as riquezas e a glória, a ponto de ultrapassar todos os reis.
JESUS CRISTO disse: “Procurai primeiro o reino de
DEUS, e todo o resto vos será dado por acréscimo.” São Paulo disse: “CRISTO
veio restaurar todas as coisas no céu e na terra.”
Estes benefícios trazidos pela Igreja de Deus
brilharam sobretudo no seu primeiro desenvolvimento.
Entre os povos recém-descobertos tudo vem da Igreja.
Entre os povos antigos tudo foi restaurado pela Igreja, depois de tudo ter
caído na barbárie na sequência da fraca civilização pagã.
Quero dar-vos para terminar dois ou três testemunhos
bem curiosos e irrecusáveis.
Escutai. Eis primeiro o doutor Livingstone no regresso
da sua expedição no interior da África central:
“Havia outrora, diz ele, a dez ou doze léguas ao norte
de Albaca, no Congo, uma missão chamada Cahenda, e o número de indivíduos que,
na província, sabiam ler e escrever era deveras extraordinário. É fruto dos
trabalhos dos missionários jesuítas que foram os apóstolos desta população; e
depois da sua expulsão pelo Marquês de Pombal, os indígenas continuaram a
instruir-se uns aos outros. Estes homens abnegados gozam ainda hoje de grande
veneração. Todos falam deles com honra. Chamam-lhes ainda pelo seu nome
português padres jesuítas.”[2]
Hervé-Bazin, no seu belo livro: “As grandes jornadas da cristandade”, cita, a propósito da memorável
batalha de Las Navas de Tolosa, uma nota do historiador Huster, bem
surpreendente na pena de um escritor protestante: “ A nossa geração mal pode
compreender a valentia que a confissão dos pecados devia inspirar aos espíritos
simples, rodeados de perigos de morte; mas se, à confissão, se quer juntar a
garantia da graça e do amor de DEUS obtido pela comunhão, ter-se-á o segredo de
tantas ações prodigiosas pelas quais se distinguiu uma multidão de guerreiros
na Idade Média.” Acrescentamos com o eminente autor: É impossível dizer melhor.
Este segredo não é apenas o da cruzada: é o do verdadeiro patriotismo.[3]
Eis agora, quanto à França, o testemunho irrecusável
do protestante Guizot: “Durante três séculos só os mosteiros possuíam
bibliotecas; é por elas que as letras se salvaram da ruína que as ameaçava… O
espírito humano proscrito, batido pela tormenta, refugiou-se nas igrejas e nos
mosteiros. Ele agarrou-se aos altares, para viver sob o seu abrigo e ao seu
serviço até que tempos melhores lhe permitissem reaparecer no mundo e respirar
ao ar livre.”
O que Guizot diz aqui acerca das letras, diz noutros
lugares da agricultura e das artes.
Ele tem a certeza de que a Igreja e os monges fizeram
a França e a sua civilização.
Agora, meus filhos, deixo-vos como juízes. Quem será
verdadeiramente patriota, os católicos que veneram a Igreja e querem prosseguir
sob a sua direcção a obra de restauração social, ou os homens que, mostrando menos
inteligência e menos coração do que as populações congolesas da África Central,
querem envergonhar esta Igreja, sua mãe e mestra, e fazer regressar ao
paganismo a corrente da civilização?
Sinto que, o vosso coração protesta contra a
ingratidão e a vossa razão apoderou-se da verdade. Vós unis a Igreja e a pátria
no vosso respeito e no vosso amor. A pátria francesa sem a Igreja não teria
passado, nem história, nem honra, nem esperança. Só nos restaria Vercingétorix,
os Dólmenes e os Druidas, ou talvez Mercúrio, Vénus, Bruto, Séneca e Nero. –
Obrigado. Eu gosto mais da França de Carlos Magno, de Luís IX e Luís XIV; da
França de Racine e Bossuet; da França de Martinho de Tours e Vicente de Paulo;
da França da Virgem Maria e de CRISTO.
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