quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ao Deus Desconhecido

4ª feira - VI Semana da Páscoa

Oração de Nietzsche

Muitos só conhecem de Nietzsche a frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus vivo que é imortal. Mas do Deus da metafísica, das representações religiosas e culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir que se confrontem com os desafios da condição humana. Esse Deus é somente uma representação e uma imagem. É bom que morra para liberar o Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de Deus com Deus como realidade essencial.
Nietzsche estudou teologia. Eu pude dar uma palestra na Universidade de Basileia na sala em que ele dava aulas, quando fui professor visitante em 1998 lá.
Esta oração que aqui se publica é desconhecida por muitos, até por estudiosos do filósofo. Foi encontrado entre os seus escritos póstumos. (Leonardo Boff.com)

Oração ao Deus desconhecido

Antes de prosseguir no meu caminho
e lançar o meu olhar para frente
uma vez mais elevo, solitário,
as minhas mãos a Ti,
na direcção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
tenho dedicado altares festivos,
para que em cada momento
a tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo
esta palavra: “ao Deus desconhecido”.
Eu sou teu, embora até o presente
me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
sinto-me forçado a servir-Te.

Eu quero conhecer-Te, ó Desconhecido!
Tu que me penetras a alma
e, qual turbilhão, invades a minha vida,
tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero conhecer-Te,
quero até servir-Te.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) em Lyrisches und Spruchhaftes (1858-1888). O texto em alemão pode ser encontrado em Die schönsten Gedichte von Friederich Nietzsche, Diogenes Taschenbuch, Zürich 2000, 11-12 ou em F.Nietzsche, Gedichte, Diogenes Verlag, Zurich 1994.

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