segunda-feira, 20 de junho de 2011

Partir

2ª Feira - XII Semana Comum

Deixar tudo e seguir... é perfeição, diz o padre António Vieira.

O Senhor disse a Abraão:
Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.
Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei... E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas. Abraão partiu como o Senhor lhe dissera para a terra de Canaã… tinha 75 anos. (Génesis 12, 1-9)

Três propostas que Deus apresenta a Abraão: - deixar terra natal, - a pátria - e a família (casa do pai).
Três realidades: - uma geográfica, - uma cultural, -uma pessoal (de onde Abraão é chamado do fundo da sua própria identidade).

A vocação toma-o em tudo aquilo que é.
O chamamento de Deus manifesta-se, portanto, desde o início, como totalizante. Não pede um aspecto ou outro da vida de Abraão: pretende toda a vida até então vivida, e da qual é chamado a sair.
A vocação é ao mesmo tempo singular e plural.
Singular porque é um carisma pessoal dirigida a uma pessoa particular.
Plural porque engloba todas as dimensões da pessoa chamada e integra-a numa comunidade -”E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas” (Gn 12, 3).

Por esta primeira história vocacional poderemos ver como é impressionante a relação entre a singularidade e a universalidade, presente em cada vocação.
Abraão deixa de ter passado e idade – pois não há idade para ser chamado e partir.
Em Abraão desaparece tudo o que ele viveu e fez no passado, até ao momento do seu chamamento. Não pode voltar atrás.

Escreveu D. Hélder Câmara:
“...Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo”.

Neste processo, pregar o Evangelho muitas vezes não significa falar, mas agir.
O “ir” implica um partir, mas não de um lugar físico. Este partir significa deixar tudo: casa, família, terras... (cf. Mt 19,29) para seguir a Cristo. Deixar pai, mãe, irmãos, não significa romper com a própria família, mas abrir-se para acolher uma família ainda maior, a grande família dos filhos de Deus. O partir é um sair de si para encontrar o outro.

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