sexta-feira, 1 de abril de 2011

Apresentação de Livro

Foi no dia 25 de Março, no auditório do Museu Casa da Luz, a apresentação d um novo livro da Professora Gizela Dias da Silva.













RASGOS DA MINHA INFÂNCIA

Gizela Dias da Silva - Texto
Louisa Isabel Roldão – Ilustração
Editorial Eco do Funchal, Março 2011

Fomos convidados para o lançamento do Livro “Rasgos da minha infância”.
Engana-se quem está à espera da apresentação de um livro.
Não se trata de um livro, de mais um livro, e já lá vão 8 desta mesma autora, mas sim de uma viagem.
De facto é de uma viagem que se trata:
Lemos na página 4: “Agora, que despejei no papel … vou terminar meu relato… Melhor falando: vou pôr um ponto final a esta viagem que me propõe sedução.”
É uma viagem que nos leva longe:
Lemos na página 30: “Que saudade me transporta aos meus tempos de infância”.
Viagem que não esquece malas e bagagens, como lemos na página 32: “ Encerro a bagagem que me deram no trem das minhas memórias.”
Viagem com trajecto delineado, pois lemos na página: “Que lindo trajecto efectuado, por mim, na travessia do meu íntimo”.
Ou na mesma página: “ Apenas trazia consigo o entusiasmo do enfoque e a contenção do percurso.”
Não é uma viagem qualquer: é uma viagem, não para fora, mas ao íntimo de si mesmo.
Mas é uma viagem feita também no terreno: Cancela, Caniço, São Gonçalo – lugares que por coincidência fazem parte também da minha experiência de menino e moço. Mas a geografia da nossa infância é sempre universal, pois não é o local que nos marca, nós é que marcamos o local. Não é a experiência que nos dignifica, nós é que dignificamos a experiência. Enfim, não é o que fazemos que nos valoriza, nós é que a valorizamos tudo o que de mais simples fazemos.
Esta viagem tem 15 etapas – os 15 títulos ou episódios ou memórias de tempos idos, tempos a tempo renascidos.
Viagem reveladora de novas paisagens, largos horizontes, cores diferentes: cada história a sua tonalidade, cada episódio a sua cor, cada memória o seu movimentos. É uma viagem narrada e projectada: é um livro para se ver e ouvir. É uma viagem de texto (Gizela Dias da Silva) e ilustração (Louisa Isabel Roldão).
O risco, a cor, o traço, a forma, o escuro, o claro, o desenho, a pintura, outras histórias fazem dessas histórias. Outros contos, outras perspectivas das mesmas paisagens vieram realçar a vida dessas histórias.
No dia em que a Louisa Isabel Roldão acrescenta mais um ano à sua jovem vida, dá-nos o prazer, pelas suas ilustrações nesta obra, de acrescentar mais vida aos nossos anos, às nossas memórias.
É uma viagem pelo mundo da criatividade, uma viagem misteriosa, que se vai recriando à medida que vamos penetrando “nas origens do infinito” (Momentos de sonho). Tudo é criado e recriado.
Parte-se das simplistas brincadeira de antigamente, onde cada criança fazia os seus próprios brinquedos: as bonecas de trapo, os joeiras, as papoilas transformadas em bailarinas…
Mas a criatividade não se esgotava na arte de confeccionar. Alarga-se também pela personificação, pela vida e dinâmica que se lhes transmite: Ser mamã de uma boneca, ou uma gatinha transformada em brinquedo, ou um canteiro ajardinado pelos anjos, ou pôr as plantas a dormir, ou ainda o sonho de querer casar com as rosas…
A mesma criatividade alarga-se não apenas através da evocação do passado mas também através das ilustrações, como contributos abertos à sua potencialidade máxima. E nós hoje continuamos a viajar e a alargar os horizontes dessa acção criadora através da leitura, da contemplação e da nossa fantasia…
É também uma viagem de recordações… São constantes as evidências deste exercício da memória: rever, recordar, reviver, reencontrar, encontrar-se com o passado, marcas da infância, confrontar o hoje com o ontem, saudade, nostalgia… são alguns exemplos.
E eu posso concluir:
Todos dizem que recordar é viver, é reviver, é trazer do passado, é desenterrar, é ressuscitar, é dar nova vida.
Eu também pensava assim que Recordar é viver!
Mas hoje descobri o contrário, e foram estes rasgos que me despertaram para uma verdade diferente:
Recordar não é viver, viver é que é recordar,
Viver é recordar, é nunca se esquecer, viver é marcar, viver é eternamente celebrar. Mais do que recordações da minha vida, quero manter a vida das minhas recordações, porque recordar não é viver, viver é que é recordar.
Finalmente este livro, mais do que uma viagem é uma peregrinação…é um percurso que nos transcende, é um trajecto que nos engrandece, é uma caminhada envolvida de mensagens, uma escalada ou ascese rumo à eternidade.
Destaco algumas mensagens, ipsis verbis:
“Todo o bem que fazemos fica por Deus registado nas páginas do historial da Humanidade.”
“As tradições respeitam-se e transportam-nos nas asas do tempo…”
“Todas as pessoas têm sonhos… adormecidos no seu peito…”
“A vida é cheia de encontros, ou melhor, de reencontros... Saibamos procurá-los.”
“A vida sem luta é como um campo que nada produz…”

Rasgos da minha infância é pois um livro de viagens…
É uma viagem rasgada, traçada, delineada… mas aberta como sulcos cavados pela criatividade e imaginação, com esforço e dedicação.
Obrigado à autora Gizela Dias da Silva por nos propor desta maneira a viagem mais difícil e a mais importante de se fazer: a viagem até ao mais íntimo do nosso coração.
Obrigado e bem haja!

(Foto de Alfredo Rodrigues, Jornal da Madeira)

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