sexta-feira, 12 de março de 2010

O Filho Convertido


Ano C - IV Domingo Quaresma

A parábola do Filho Pródigo mostra, por um lado, a degradação de uma ilusão e, por outro, o processo de conversão de uma pessoa.
A primeira experiência deste jovem filho revela os três grandes pês com que o mundo tanto sonha e deseja: POSSE, PODER, PRAZER. Ele pensava que a felicidade estava na herança que exigiu, na liberdade que experimentou longe da família ou no prazer que o esgotou. No entanto, toda a felicidade baseada nestes três pês foi passageira demais e acabou num chiqueiro. A partir daí começou o seu processo de conversão em três fases correspondentes a três frases:
- “Caiu em si...”
- “Há pão em abundância na casa do meu pai...”
- “Vou ter com meu pai...”

Em primeiro lugar, cair em si e reflectir significa situar-se, olhar-se. É tomar consciência da realidade e tirar as máscaras. Reflectir é a qualidade do espelho em que as pessoas se vêem. Muitas vezes tentamos evitar esse olhar para dentro de nós mesmos, porque pode revelar-nos o que tentamos esconder. Mas este é o primeiro passo para a libertação. É preciso ter a coragem de tomar a vida nas mãos.
Mas isto não basta. Não adianta constatar apenas o problema. É preciso ter um motivo para sair da situação. O Filho Pródigo recordou-se de um grande motivo: na casa do pai havia tanto pão e carinho. Foi a certeza do amor do pai que o fez pensar no novo destino. Para sair dum buraco é preciso ter um ideal, um objectivo a alcançar: a casa do pai. A lembrança do amor paterno foi o que sobrou, quando tudo tinha acabado. Até lá, esse amor tinha estado apenas encoberto pelas ilusões, mas não apagado ou esquecido. O mal nunca é, nunca foi e nunca será maior que o bem. E o amor nunca é perdido. Mesmo que os outros venham a cair no erro, se o amor recebido foi verdadeiro, um dia irá prevalecer.
Esta certeza do amor levou o jovem filho ao terceiro e fundamental passo da sua conversão: “Vou partir, vou ter com meu pai...” Só quem toma a decisão de levantar-se, de olhar para a frente, consegue chegar novamente ao amor. Enquanto estava a olhar para baixo, para os erros, para os defeitos, não conseguiu avançar, mas quando resolveu levantar-se deu, o último passo de regresso. O problema não estava ainda resolvido, pois teria de fazer uma longa caminhada, mas, no momento em que decidiu voltar, de alguma forma, já estava com o pai.
E a reconciliação ficou consumada.
Os três pês (posse, poder, prazer) deram lugar aos três erres (reflectir, recordar e regressar). Isto chama-se conversão.

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