terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ser Padre

Ser Padre!
Trazer os olhos cheios de ternura,
De noite e dia, prontos a chorar,
Como duas cisternas de água pura,
Por sobre a vida, esse deserto em brasa
Que tanta vez não tem a sombra de uma asa
Nem um beijo do céu num raio de luar!

Ser Padre!
Dar os braços aos braços sucumbidos
E erguê-los como se erguem as ogivas;
Pô-los a defender os perseguidos
E a consolar a dor das mãos cativas.

Ser Padre!
Encontrar um mendigo de pés nus,
E, sem jamais lhe perguntar o nome,
Matar-lhe a sede e a fome,
Dar-lhe sandálias, encostá-lo ao peito
E adormecê-lo entre lençóis de linho,
Como se fosse o corpo de Jesus
Que, todo em suor e exausto do caminho,
Nos viesse pedir o próprio leito!

Ser Padre!
Passar na rua e ser escarnecido,
Ser cuspido na face e continuar,
Como se nada houvera acontecido!

Ser Padre!
É ser na terra apenas isto,
Isto que é tudo, à luz dos claros céus:
A presença de Cristo
E a projecção de Deus!


(Monsenhor Moreira das Neves)

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