terça-feira, 9 de junho de 2009

Portugal e o Coração de Jesus

Texto do Padre Dehon
“Portugal teve, tal como nós, as suas lutas e os seus erros religiosos. Como na França e na Áustria, foi o Estado que em Portugal criou entraves à acção da Igreja. Mas nós acreditamos que a nação portuguesa retomará toda a sua vitalidade religiosa, porque ela é, mais que qualquer outra, a nação do Coração de Jesus. Pode dizer-se que ela ostenta, desde a Idade Média, o Coração de Jesus nas suas armas, pois tem por emblema sobre o seu brasão as cinco chagas de Cristo. Em 1790, celebrou-se em Lisboa a dedicação da basílica real do Coração de Jesus, construída a expensas da Rainha D. Maria. Todos os anos o dia da festa do Coração de Jesus é feriado em Portugal; e desde 1878, esta festa é aí celebrada com rito duplo de Primeira Classe. Na basílica real, o ofício é celebrado com pontifical. O rei, a corte e o governo assistem à festa com os dignitários da Ordem de Cristo em traje de gala. Ao Ofertório, há um acto solene de homenagem do rei e da nação ao Coração de Jesus. O Capelão-Mor do rei, escoltado por oficiais da corte e por um piquete da guarda real, avança e oferece ao celebrante algumas moedas de ouro em sinal de submissão do rei ao Coração de Jesus.A basílica do Coração de Jesus de Lisboa é de uma grande riqueza. É uma pequena São Pedro, uma igreja com cúpula. O arquitecto imitou a bela igreja do grande mosteiro de Mafra, construído em 1717 no reinado de D. João V, a 40 quilómetros de Lisboa. A basílica ergue-se no belo passeio público da Estrela e perto do passeio dos Ingleses. É um dos belos monumentos da cidade, e os estrangeiros têm o costume de subir até à cúpula para desfrutar do panorama de Lisboa.
A festa da dedicação da igreja nacional do Coração de Jesus é celebrada em todo o reino e suas colónias todos os anos a 15 de Novembro. É preciso que nós venhamos a ter o mesmo culto social ao Coração de Jesus” (L. Dehon, Chroniques du “Règne”, in Oeuvres Sociales, V Volume, Março 1899, Pag. 283).
Comentário
De notar que esta crónica, com o título de “Portugal e o Coração de Jesus” foi escrita e publicada um ano antes de o Pe. Dehon conhecer Portugal. Precisamente um ano depois (Março de 1900) é que visita Portugal pela primeira vez. A 26 de Março chega de comboio a Lisboa. Da visita à capital deixa poucas anotações sobre a Basílica da Estrela, comparando com o que já tinha escrito anteriormente: “A bela igreja da Estrela é dedicada ao Coração de Jesus. É uma igreja com cúpula, uma pequena S. Pedro. Ela foi construída de 1779 a 1796. O interior está ricamente ornamentado. A rainha D. Maria I contribuiu largamente para a edificação desta igreja votiva ao Coração de Jesus. Ela própria está representada no quadro que ornamenta o altar-mor. As cinco partes do mundo encontram-se lá em adoração diante de Cristo; é a rainha D. Maria quem representa a Europa” (L. Dehon, Au dela des Pyrénées, H. & L. Casterman, Éditeur Pontificaux, Paris, Rue Bonaparte, 66, Tournai, Belgique, p. 212). Para além de Lisboa e Almada, o Pe. Dehon visita Sintra, Alcobaça e Batalha. Chega a Coimbra no 1º de Abril, seguindo depois para o Porto. Deixa Portugal a caminho de Badajoz de comboio no dia 3 de Abril.
Também na sua viagem à América Latina, tanto na ida como no regresso passa por Lisboa, respectivamente a 3 de Setembro de 1906 e a 9 de Janeiro de 1907, visitando apenas a baixa da cidade e sem referir a basílica dedicada ao Coração de Jesus (cf. L. Dehon, Mille lieues dans l’Amérique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, Paris, 1909).
Quanto à crónica publicada convém realçar três aspectos:
- O epíteto – “Nação do Coração de Jesus”, porque desde há muito tem no seu brasão as cinco chagas de Cristo; porque tem uma basílica real dedicada ao Coração de Jesus; porque o dia do Coração de Jesus é feriado; porque o rei mostra solenemente submissão ao Coração de Jesus.
- O exemplo a seguir – O culto social do Coração de Jesus. A crónica faz jus à revista em que é publicada e ao seu projecto: O Reino do Coração de Jesus nas Almas e nas Sociedades. O Culto ao Coração de Jesus não é apenas uma simples devoção, mas uma verdadeira renovação de toda a vida cristã.
- A esperança – Apesar de Portugal viver, no final do século, um período de entraves à acção da Igreja, há que acreditar na sua capacidade de retomar a vitalidade religiosa. Mostremos a bandeira do Coração de Jesus e a simplicidade da nossa fé reacenderá os fracos.

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