2ª feira – XXIII semana comum
A mão endireitada
Jesus ao curar a mão
direita que um homem tinha paralisada mostra que este não é um simples milagre,
não é uma simples cura pontual. É mais do que isso. É o devolver a imagem e
semelhança de Deus, recuperar a dignidade humana, poder exercer a vocação e
missão humana.
- A mão direita é a mão
do poder (enquanto a esquerda é a mão fraca). As Escrituras só falam da mão
direita de Deus. A nossa mão direita é o prolongamento dessa mão divina. É por
isso que Jesus devolve essa imagem e semelhança com Deus ao pobre homem.
- A mão curada passou a
poder abrir-se. Dizem que o ser humano nasce chorando e de mão fechada. Deve
morrer a sorrir e de mãos abertas. Curar a mão foi restabelecer o progresso e o
evoluir natural do homem.
À margem:
A)
A PERIGOSA MÃO DE DEUS
Deus é maneta
diz Saramago
só tem a mão direita
à direita da qual todos se sentam.
Eu canto a outra mão de Deus
a que traz o Diabo pela trela
a que por vezes puxa para o outro lado
e escreve sempre por linhas tortas
a mão esquerda de Deus
a mão de sobra a mão do medo
a mão do nada
a mais perigosa mão de Deus
aquela que de repente solta o espírito
o enxofre a guerra o vento mau.
É a mão esquerda de Deus que aperta o coração
acelera o pulso
desarticula o ritmo.
Os poetas estão sentados à esquerda da mão esquerda
de Deus
até mesmo Antero.
Cf: Manuel Alegre, Livro do Português Errante
B)
O poema de Manuel Alegre
refere-se a uma passagem do Memorial
do Convento, onde José Saramago escreve:
“Baltasar recuou
assustado, persignou-se rapidamente, como para não dar tempo ao diabo de
concluir as suas obras, Que estás a dizer, padre Bartolomeu Lourenço, onde é
que se escreveu que Deus é maneta, Ninguém escreveu, não está escrito, só eu
digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é à sua direita, à sua mão
direita, que se sentam os eleitos, não se fala nunca da mão esquerda de Deus,
nem as Sagradas Escrituras, nem os Doutores da Igreja, à esquerda de Deus não
se senta ninguém, é o vazio, o nada, a ausência, portanto Deus é maneta.
Respirou fundo o padre, e concluiu, Da mão esquerda.”
C)
NA MÃO DE DEUS
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais,
com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Cf. Antero de Quental
Ver também:
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