Envelhecer
não é uma desgraça, é uma graça.
Recordo
o meu amigo Pe. Rogério Vieira, que foi durante longos anos o pároco da minha
terra natal, mas agora jubilado.
Ele
também dava aulas numa Escola no Funchal.
Quando
se aposentou, despediu-se da sua turma, mostrando satisfação por isso e alegria
pela idade que tinha.
Uma
aluna ficou espantada:
-
Se eu estivesse no seu lugar, estaria triste por ser velha…
-
Mas então? Ser velho não é uma coisa boa?
-
Não! – responderam todos.
-
Se é assim, eu vou rezar para que ninguém de vós chegue a velho… já que ser
velho é uma desgraça…
-
Não, não faça isso… Não é uma desgraça… É uma graça.
“Não
se pode dizer que sessenta anos seja uma idade má, senão quando a encaramos de
longe ainda – o que fazemos, a maior parte das vezes, com muito inadequados
sentimentos. É uma idade calma; a partida está quase jogada; e, pondo-nos de
lado, começamos a recordar, com certa animação, o homem hábil que soubemos ser.
Tenho observado que, por delicada atenção da Providência, muitas pessoas
começam aos sessenta a ter de si próprios uma conceção bastante romanesca. Até
mesmo as deceções sofridas revestem então aspeto agradável. E se é certo que as
esperanças, com seus mágicos e apaixonantes contornos, constituem para os
jovens atraente companhia, nada mais são, no fim de contas, do que formas nuas
e vãs. As vestes mágicas são apenas, felizmente, propriedade do imutável
passado que, sem elas, ficaria como uma pobre coisa agitando-se sob um montão
de sombras.
Foi
provavelmente o romanesco desta idade avançada que levou o nosso homem a
descrever a sua aventura, para satisfação própria ou para encantamento dos seus
descendentes. Não o moveu certamente a cobiça de glória, porque esta aventura
foi a de um medo espantoso, dum autêntico terror, assim como ele próprio o
narra.”
(Joseph Conrad, A estalagem das Duas Bruxas,
Diário de Notícias, Publicações europa-américa)
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