Memória
do martírio do Pe. Longo, SCJ
À memória do Padre BERNARDO LONGO dos
Sacerdotes do Coração de Jesus, massacrado em Mambasa, no Congo, a 3 de
Novembro de 1964.
Ele viveu para o ideal missionário, para
a reabilitação religiosa e civil dos Congoleses, que para ele eram Irmãos em
Cristo. Depois de 26 anos de trabalho apostólico, a fúria bárbara arrebatou-o e
a terra africana, irrigada pelo seu suor, quis também o seu sangue de
testemunha de Cristo.
Seja o seu martírio impetração de paz
para o povo do Congo, seja semente de novos apóstolos e cristãos para todas as
terras de missão.
Os missionários podem ser assassinados,
mas Cristo vive e triunfa com os sofrimentos e o sangue dos seus mártires.
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Em 1971, apenas 7 anos após o seu
martírio, houve, no Funchal, uma sessão comemorativa do Pe. Longo, padroeiro do CAM (Clube
Amigo das Missões). Este Clube era formado por seminaristas do Colégio
Missionário para dinamização do seu espírito missionário. Nesse ano coube a
mim, seminarista, então com 14 anos, fazer o discurso evocativo.
Recordo hoje esse “discurso tão jovem
tão antigo” de há 43 anos sobre a vida e o martírio do Pe. Longo para que
continue a inspirar ainda hoje o mesmo espírito missionário.
“Caros Amigos das Missões.
Para comemorar o 7º aniversário da morte
dos nossos missionários no Congo vamos lembrar alguns pontos principalmente dos
últimos dias da vida do Pe. Bernardo Longo, padroeiro do CAM.
Nasceu na Itália e entrou para o
seminário quando tinha 20 anos e portanto já tinha alguma experiência da vida.
Nele havia um grande desejo de ser missionário. Ordenado padre em junho de 1936
foi mandado para a Argentina, onde esteve um ano. Mas uma ideia tinha na cabeça
e nela pensava com vontade: “A África e as Missões.” Foi então para o Congo
onde esteve 27 anos na diocese de Wamba entre os pigmeus.
O Pe. Longo realizava assim o seu grande
sonho de missionário. Exercia as funções de professor, de carpinteiro, de
mecânico e de padre. Por isso era muito amado pelos seus pigmeus e que também
os amava muito. Chegou a oferecer os seus próprios lençóis, rasgados em tiras,
aos pigmeus para servir de camisa àqueles que não as tinham. Parece impossível,
mas é verdade: andava sempre descalço ou com simples tamancos que ele próprio fabricava.
Só calçava sapatos quando vinha à Itália.
Depois de 25 anos de imenso trabalho
estava pronta uma missão-piloto com escolas, oficinas-mecânicas, uma
carpintaria etc.
No dia 22 de agosto de 1964 foi preso
pelos Simbas sob a acusação de ter emprestado o seu carro ao exército nacional.
Desta vez, porém, teve um pouco de sorte, porque quando estava no
interrogatório o carro apareceu e ele foi libertado.
O Pe. Longo tinha 57 anos e já estava na
missão havia 27 anos quando foi preso com o Bispo D. Wittebols, também SCJ, e
outros padres e irmãos pelos simbas a 3 de outubro de 1964. Juntamente com os
seus companheiros prisioneiros estavam na praça a falar do que acontecera. A
certa altura ouviu-se uma descarga de metralhadoras. As sentinelas, alarmadas,
correram para a praça onde estavam os prisioneiros. Quando chegaram, não havia
nada de especial, mas levaram os prisioneiros para o cárcere onde se vingaram
muito neles.
O dia 2 de novembro, véspera da sua
morte, foi um dia muito angustioso e maçador para ele porque o obrigaram a
correr forçadamente. Os simbas escarneciam-no muito.
Entretanto as irmãs religiosas
esconderam-se na floresta.
No dia 3 de manhã, foi levado para praça
pública onde foi julgado pela última vez. A acusação era: Foi encontrado um
gravador na sua casa de Nduie. Como suspeito de espionagem devia ser morto.
O Pe. Longo ao ouvir a voz do Charles
Imane, comandante dos simbas, a condená-lo à morte lembrou-se de todo o bem que
tinha feito aos pigmeus. Agora tudo se acabaria apesar de ser muito amado pelos
pigmeus que, coitados, nessa altura não lhe podiam valer porque era imensa a
raiva dos simbas. Levado por um grupo armado de laças, o Pe. Longo estava
esperando a sua hora. Os simbas levaram-no para a encruzilhada formada pelas
estradas que linham Nyanya-Iruma, Mabasa-Nduie. Era densa a multidão que estava
ao seu redor quer amigos, quer inimigos.
Obrigado a voltar-se para Nduiu ele
gritou para a multidão que o cercava:
- Podeis matar o meu corpo, mas a minha
alma nunca, pois em breve estará no céu.
Mal acabou de dizer isto, um simba
abriu-lhe o lado com uma lança como a Jesus e o comandante deu-lhe dois tiros
na cabeça. O missionário, que caíra de joelhos, virado para a sua missão, ainda
conseguiu pronunciar estas últimas palavras:
- Não é morte, mas um sono!
Assim morria Bernardo Longo, missionário
italiano, às 9 horas da manhã do dia 3 de novembro de 1964 vitimado por duas
balas na cabeça e muitos golpes de lanças dos simbas.
A uma hora da manhã do dia seguinte o
corpo do mártir foi levado por um amigo para o cemitério Europeu de Mambasa
onde foi sepultado logo na primeira campa, mesmo sem caixão, só com o terço na
mão e com a batina toda ensanguentada.
No dia 26 de novembro do mesmo ano o
exército regular libertou Mambasa e os simbas retiraram-se, as irmãs foram
libertadas e no dia 24 de dezembro voltaram para a Itália.”
José David Quintal Vieira, 03 /11/1971
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