A) IR - De Jerusalém para
Emaús
Na tarde de tal dia tristes, com causa, pela morte de seu
Mestre, e desesperados, sem causa, pela tardança da sua Ressurreição,
caminhavam dois discípulos de Cristo para o castelo de Emaús.
Imaginavam os dois discípulos a Cristo morto e ausente, e no
mesmo tempo, e pela mesma estrada ia o Senhor caminhando com eles sem o
conhecerem, ainda que o viam.
Ia o Senhor com eles. Aqui reparo, ou aqui paro, que também
imos caminhando. O intento de Cristo era mandar a estes discípulos reduzidos e
consolados para Jerusalém, aonde estavam os apóstolos também tristes. Pois, se
o seu intento era encaminhar os discípulos para Jerusalém, como se vai o Senhor
andando com eles para Emaús? O caminho de Emaús e o caminho de Jerusalém eram
encontrados, e Cristo deixa-se ir com os discípulos para Emaús, quando os quer
levar para Jerusalém? Sim, porque essas são as maravilhas da Providência
divina: levar-nos a seus intentos pelos nossos caminhos. Conseguir os intentos
de Deus pelos caminhos acertados de Deus, isso é providência vulgar; mas
conseguir os intentos de Deus pelos caminhos errados dos homens, essas são as
maravilhas da sua Providência. Ir a Jerusalém pelo caminho de Jerusalém, é
estrada ordinária; mas ir a Jerusalém caminhando para Emaús; só Deus o faz.
B) VOLTAR - De Emaús para
Jerusalém
Não há sinal mais certo e mais seguro de
termos conhecido a Cristo, e Cristo nos ter convertido a si que desfazer os
caminhos errados de nossa vida pelos mesmos passos por onde os fizemos. Se
desencaminhados fomos de Jerusalém para Emaús, postos no verdadeiro caminho,
tornemos de Emaús para Jerusalém. É necessário desandar o andado,
desfazer o feito e desviver o vivido. Assim o fizeram na mesma hora, não o
guardando para o outro dia, os nossos venturosos peregrinos. Na mesma tarde
desfizeram o que tinham andado pelos mesmos passos, e assim como tinham deixado
Jerusalém, e caminhado para Emaús, assim deixaram Emaús, e voltaram a toda a
pressa para Jerusalém.
C)
FICAR - Acrescentar a alegria
Chegados a Jerusalém, entraram com o
alvoroço no cenáculo, onde acharam outros discípulos cheios de excessivo
prazer, porque S. Pedro os tinha certificado de que vira ressuscitado o divino
Mestre. Contaram o que lhes tinha sucedido, e acrescentaram a alegria de
todos com a narração tão notável da sua história,
( Cf.
Pe. António Vieira, Sermão da Primeira Oitava da Páscoa, Capela Real, 1647)
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