Memória
de S. Vicente, diácono e mártir
Vicente
nasceu no seio de uma família nobre de Huesca (na Província Espanhola de Aragão, junto aos Pirinéus). O seu avô, Agresso, havia sido
cônsul. São seus pais Eutício e Enola. Alcançada a idade própria, Vicente foi para Saragoça estudar com o Valério, então bispo da cidade. Este, e evidenciadas
as qualidades de Vicente, nomeou-o arcediago e encarregou-o da tarefa da
pregação. Vicente passou a colaborador próximo do bispo no governo da diocese.
A
partir de 303 desencadeou-se a perseguição do imperador romano Caio Aurélio
Valério Diocleciano, sendo promulgados três éditos contra os cristãos. Ordenaram
a destruição de igrejas, queima de livros, proibição da emancipação dos
escravos que perseveravam no Cristianismo, prisão dos chefes das igrejas e
obrigação pública de os cristãos prestarem culto aos deuses do panteão romano. Durante
esta perseguição, o diácono Vicente terá sido levado para Valência onde seria
martirizado em 304, às mãos do governador Daciano.
Daciano
ordenou que o cadáver fosse lançado em terrenos incultos de forma a ser
devorado por animais e a não restarem relíquias. Prudêncio relatou que um corvo
protegeu o corpo do mártir. Santo Agostinho numa alusão clara ao episódio
referiu que «O corvo defende, o lobo respeita e só Daciano persegue.».
Nova
solução foi encontrada: Lançar o corpo ao mar atado por uma mó. Infortúnio dos
perseguidores, o corpo boiou e alcançou a terra. Recolhido por uma santa viúva
avisada em sonhos e de nome Jónica, foi enterrado por cristãos fora de muros.
Segundo Prudêncio, alcançada a paz, foi-lhe dado túmulo na igreja de São Vicente
de la Roqueta (Valência), sendo no séc. VI, e por ação do bispo Justiniano,
trasladado para a Catedral.
A
tradição da vinda das relíquias para Portugal nasceu no contexto da invasão
árabe da Península Ibérica. Segundo a narrativa portuguesa de reivindicação das
relíquias do mártir, de forma a não haver profanação das mesmas, no contexto da
destruição das igrejas valencianas perpetrada por Abd-er-rahman, foram
trasladadas por devotos para um mosteiro no promontório de São Vicente, no
Algarve. Este seria destruído com a vinda dos almorávidas de Marrocos para o
Algarve.
D.
Afonso Henriques quis recuperar o corpo do mártir e trazê-lo para Lisboa. Da
viagem temos o seguinte relato de Diogo da Anunciação: «desenterrado seu corpo
e recolhido no navio as suas relíquias, dous corvos hum na popa e outro na proa
(…) forão os primeiros que celebraram sua trasladação gloriosa».
O
corpo do mártir chegou a Lisboa no dia 15 de Setembro de 1173 e foi depositado em
Santa Justa. No dia seguinte foi trasladado para o altar-mor da Sé.
Iconografia de S.
Vicente
Palma – entre os
romanos, o ramo da palma era tradicionalmente o símbolo da vitória. Vicente é o
que vence a morte. Este significado foi incorporado na iconografia cristã como
símbolo do triunfo do martírio sobre a morte.
Coroa – símbolo da
glória conquistada pelos mártires.
Auréola e
Resplendor –
indicativos da santidade de vida.
Evangeliário – símbolo do
ministério da palavra confiado aos diáconos na ordenação: «Crê o que
lês, ensina o que crês e vive o que ensinas».
Cor vermelha – alusão ao
sangue derramado no martírio.
Dalmática – veste própria
dos diáconos direita até aos joelhos, aberta dos lados e com mangas largas e
curtas.
Alva – veste
branca, indicativa de pureza, utilizada por todos os ministros do
altar.
Estola – veste litúrgica
utilizada pelos diáconos de forma atravessada e pousada sobre o ombro esquerdo.
Caravela – Símbolo da
barca que trouxe do Promontório Sacro do Algarve para Lisboa, em 1173, os
restos mortais de São Vicente. É um dos símbolos da cidade de Lisboa.
Corvos – Aves que
permitiram que o corpo de São Vicente ficasse intacto após o seu martírio,
impedindo que animais necrófagos se aproximassem do seu cadáver e que
acompanharam o corpo do santo aquando da traslação dos restos mortais para
Lisboa. Configuram igualmente o brasão da cidade de Lisboa.
(Cf. Voz da Verdade)
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