Chegada
à Madeira
Pelo
meio dia do 15 de janeiro de 1947,
os dois fundadores da Presença Dehoniana em Portugal, largaram do maravilhoso
estuário do Tejo para a sua terra prometida: a Madeira…
Muito
antes da primeira claridade do dia 17 de
janeiro, já eu estava de pé, pois tinham anunciado a chegada ao Funchal
logo para a manhã cedo. Rezei as orações da manhã fiz a meditação, recitei o
breviário (pois no navio Carvalho Araújo não havia capela) e… esperei, olhando
para o horizonte na monha frene. Mas nada aparecia! Finalmente, no lado poente,
lá ao longe, aparecia uma luzinha.
-
É a Madeira? – perguntei a um marujo.
-
Não! É o farol do Porto santo. Daqui a duas horas estaremos na Madeira!
O
mar estava calmo, o céu sereno. A oriente aparecia a claridade suave
preanunciando a chegada do grande astro, enquanto, lá no alto, as estrelas
desapareciam. Improvisamente, uma meia lua surgia das ondas… foi crescendo…
tornando-se redondo… transformando-se em esplendor. Era o sol!
Eu
não era poeta… mas naqueles instantes… até me veio à mente a exclamação de um
poeta: C’est lui! C’est la vie!
Ainda
um pouco e estaremos na Madeira – disse comigo.
Apareceu
o farol de S. Lourenço que depois de uma longa meia hora, o dobrámos e entrámos
no mar da Madeira.
Agora,
já muita gente estava na amurada do lado poente do navio a contemplar a costa
madeirense. Eis Machico, a primeira baía visitada pelos descobridores. Eis
Santa Cruz. Eis as lombadas de Gaula e as encostas do Caniço. Todos os olhos
descansavam na visão verde das bananeiras… dos poios de batata doce… dos
bosques de pinheiros e eucaliptos lá ao alto.
Passámos
um cabo, um rochão escuro e a pique sobre o mar e eis a baía do Funchal, com o
seu casario em anfiteatro subindo do mar até aos bosques da serra,
espraiando-se de S. Gonçalo a S. Martinho.
…
Com as malas perto de nós, encostámo-nos à amurada de levante, à espera da
possibilidade de descer. Era por volta das
10 horas.
Avistámos
dois eclesiásticos, que deviam estar à nossa espera porque acenavam e faziam
sinais… Um era o Pe. Laurindo Leal Pestana e o outro era, o então seminarista,
Agostinho Jardim Gonçalves. Pouco depois subimos para um carro descoberto que
nos levou diretamente para a residência do Sr. Bispo, D. António Manuel Pereira
Ribeiro que nos acolheu efusivamente, apesar do seu porte de dignidade e
gravidade.
Depois
fomos celebrar missa à Igreja do Socorro, paróquia do Pe. Laurindo, já passava
das onze. À celebração da missa seguiu-se o almoço… um almoço de festa. O
anfitrião abriu uma garrafa de vinho Madeira de 1847. Cem anos a festejar a
nossa vinda! Que honra!- pensámos nós.
À
chegada à Escola de Artes e Ofícios, onde nos íamos alojar, fomos recebidos com
uma banda de música… Ainda hoje um espetáculo com teatro e canções.
Já
noite fomos saborear uma cama que não baloiçava, consolados e bem
impressionados com o bom acolhimento e a festa. Só mais tarde é que viemos a
saber que toda aquela festa era para celebrar o aniversário do Pe. Laurindo,
que coincidiu com a nossa chegada. E nós a pensar que a festa era para nós!
(Memórias
do Pe. Ângelo Colombo, Lisboa, 1994)
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