Ano A - II Domingo Quaresma
Um dia, uma velhinha deu por falta do seu colar de ouro. Procurou-o por todo o lado mas não o encontrou. Suspeitou então da sua vizinha, mulher nova, bonita e atrevida. Devia ficar-lhe bem esse colar. Começou a espreitá-la por detrás das cortinas da janela. O modo de andar, o aspecto e o seu olhar pareciam mesmo de alguém que tinha culpas no cartório.
Alguns dias mais tarde, por casualidade, a velhinha encontrou o seu colar no fundo de uma gaveta. Então tornou a vigiar a sua vizinha: o modo de andar, o aspecto e o seu olhar pareciam mesmo de alguém inocente.
Ver com perfeição não depende tanto do que é visto mas do modo como nós vemos. E muitas vezes só vemos o que queremos ver.
Ao contemplarmos a Transfiguração de Jesus, parece, à primeira vista, que foi Ele que mudou. Mas isto depende de nós. Apenas nós temos de mudar. Somos o único obstáculo à manifestação de Deus. Uma luz emanava, sem cessar, de Cristo, mas os olhos distraídos e obscurecidos não viam. Por isso retirou-se, com alguns apóstolos, para um lugar calmo. Aí, a sós com Ele, tornaram-se atentos, começaram a escutá-lo como ainda o não haviam feito, a ver como Ele se encontrava sempre entre eles e como eles nunca o haviam reparado. Somos tão responsáveis pelas transfigurações como pelas desfigurações. Não é Deus que as recusa, somos nós que não nos prestamos a isso. Não teremos nunca revelações de Deus e dos irmãos além das que tivermos provocado e merecido.
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