A minha terra natal, Caniço, celebra neste fim de semana a XIII Festa da CEBOLA. A esse propósito partilho uma reflexão inspirada na Cebola.
TEOLOGIA DA CEBOLA
Há muita semelhança entre a nossa vida e a cebola.
O biblista Carlos Mesters, num dos seus livros, apresentou esta comparação com o objectivo de chamar a atenção para aquilo que em nós é passageiro. A vida de um cristão deve ser uma constante procura de perfeição e nessa caminhada vamos sendo lentamente burilados ou, literalmente, descascados. O drama é que, à medida que as nossas cascas vão sendo arrancadas, entre dores e lágrimas (não pela irritação causada aos olhos pela cebola) tomamos consciência, para nossa surpresa, de que há ainda mais cascas.
De facto, a existência humana é constituída por muito suor, trabalho árduo, vigilância constante e perseverança. Os que se contentam com uma vida superficial nunca se preocupam em arrancar as cascas. Vivem acomodados. Neste carnaval, precisamos de arrancar as nossas máscaras, disfarces ou cascas que transportamos e que precisam de ser aliviadas. Não nos surpreendamos, porém, se depois de encararmos esses desafios, chegarmos à decepcionante conclusão de que a cebola ainda tem muitas camadas para serem retiradas. Este processo manifesta o nosso desejo de arrancar tudo o que atrapalha a vida. Quanto mais arrancarmos o que está a mais, maior liberdade e dignidade encontraremos. É preciso desacomodar-se, libertar-se, aliviar carga inútil que transportamos e que torna a nossa vida pesada.
Não basta fazer de conta, converter uma parte da nossa vida. Tal como na cebola, as camadas cobrem por inteiro esse universo, assim também na nossa vida é preciso ter a ousadia de uma conversão total. Daremos conta da nossa fragilidade e vislumbraremos melhor o íntimo de nós mesmos com a seiva nova de Cristo.
Nada de temores, pois é na medida em que as cascas são arrancadas que descobrimos a força do nosso interior.
Há quem aplique esta comparação ao tempo. Aliás, antigamente designava-se de cebola o relógio de bolso, por ser redondo e por ter várias camadas como a capa, a tampa, a protecção etc. Assim o tempo é uma espécie de cebola que vai perdendo os seus dias ou as suas cascas, até nos levar à hora da verdade, do encontro com o essencial no mais íntimo de nós mesmos.
Cada um pode desfazer-se das suas capas e descobrir bem dentro de si a força da alma.
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