terça-feira, 13 de junho de 2017

De Lisboa ou de Pádua

Festa de Santo António

Dos Sermões do Padre António Vieira (Século XVII)
A um português italiano, e a um italiano português celebra hoje a Itália e Portugal. Portugal a Santo António de Lisboa Itália a Santo António de Pádua. De Lisboa porque lhe deu o nascimento; de Pádua porque lhe deu a sepultura.
Santo António foi luz do mundo: Se António não nascera para o Sol, tivera a sepultura onde teve o nascimento; mas como Deus o criou para a luz do mundo, nascer em uma parte e sepultar-se na outra, é obrigação do Sol.
Neste templo e naquele sepulcro se vê dividido António entre Portugal e Itália; nestes dois horizontes tão distantes se vê dividida a luz do mundo entre Pádua e Lisboa. Gloriosa Pádua porque pode dizer aqui jaz: gloriosa Lisboa porque pode dizer aqui nasceu. Mas qual das duas mais gloriosa? Não quero decidir a questão, dividi-la sim. Fiquem as glórias de Santo António de Pádua para a eloquência elegantíssima dos oradores de Itália. E eu que me devo acomodar ao lugar e ao auditório só falarei hoje de Santo António de Lisboa.
Que Santo António foi luz do mundo, porque foi verdadeiro português; e foi verdadeiro português porque foi luz do mundo. Bem pudera Santo António ser luz do mundo sendo de outra nação; mas uma vez que nasceu português, não fora verdadeiro português se não for a luz do mundo porque o ser luz do mundo nos outros homens, é só privilégio da Graça, nos Portugueses é também obrigação da natureza.
E se António era luz do mundo, como não havia de sair da pátria? Saiu como luz do mundo e saiu como português. Sem sair ninguém pode ser grande. Saiu para ser grande, e porque era grande, saiu.
Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento e tantas para a sepultura. Para nascer pouca terra; para morrer toda a terra; para nascer Portugal; para morrer, o mundo.
Santo António entrou triunfante no céu no dia de sua morte; mas os sinos de Lisboa não se repicaram milagrosamente, senão no dia de sua canonização; porque não tem Portugal as glórias por glórias, senão quando as vê confirmadas e estabelecidas por Roma.



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