Há 100 anos o Pe. Dehon celebrou este dia do seu aniversário em plena deportação durante a I Grande Guerra. De facto ele foi deportado de São Quintino a 12 de março e chegou exausto a Enghien (diocese de Tournai, próximo de Bruxelas, Bélgica. Na estação de comboios sofreu uma queda com uma certa gravidade, por ser noite escura, por ver mal e por estar muito debilitado. Parece que nesse ocasião teve um ataque cardíaco. Foi acolhido, juntamente com os seus confrades, pelos padres Jesuítas dessa cidade.
O Pe. Dehon viveu no centro do palco da I
Guerra Mundial. A sua saúde foi afetada (doenças, fome, falta de assistência médica).
As suas casas foram ocupadas ou bombardeadas. A sua ação pastoral, social e missionária foram drasticamente reduzidas. A administração da congregação e das obras altamente condicionada.
Os seus confrades mais novos foram mobilizados, os seus bens, nomeadamente os livros, foram abandonados…
Podemos resumir esta experiência do Pe. Dehon
em 5 aspetos:
- Domínio de si mesmo.
A sua calma, a sua confiança e fé continuaram
iguais. Nunca perdeu a calma durante os bombardeamentos noturnos, ocupação,
saques e deportação.
- O serviço ao próximo.
Procurava acolher a todos, independentemente
da sua origem, pois dizia que “no céu não haverá nações.”
- Sentido do dever.
Recusou abandonar a sua comunidade, quando a
Província Alemã queria retirá-lo de São Quintino. Continuou no seu posto até à
deportação completa da cidade.
- Atividade espiritual.
Entre bombas e batalhas em São Quintino continuou a ler, a estudar e a escrever. Tomou apontamentos e escreveu o Manual
dos Agregados da Congregação e fez a revisão do Diretório Espiritual.
- Abandono a Deus.
"A justiça de Deus acontece para curar e
perdoar. Que o Coração de Jesus e Maria Mãe de Misericórdia venham em nosso
auxílio."
Do Diário do Pe. Dehon:
Março 1917
A 12 de março foi o exílio depois de muitos
dias de penosa preparação. Foi preciso abandonar as nossas casas e sacrificar
um mobiliário considerável, mais de 25.000 francos em livros. Fiat!
Dia de viagem em carruagens. Chegámos à noite
exaustos e doloridos. Pensei que iria morrer com o bater do coração ao sair da
estação. Os Jesuítas receberam-nos fraternalmente...
Foi bom o convite para visitar a casa dos Padres
Capuchinhos. O Pe. Guardian, parente do nosso Pe. Jean Guillaume, disse-nos que
este nosso querido padre teria aparecido depois de sua morte à sua irmã em
Namur...
A 14 de março, entrei no meu 75º ano de vida.
Estou exilado em Enghien. Faço uma breve revisão das memórias da minha vida…
(NQ 40, 114-117, 1917)
Das cartas do Pe. Dehon
Ao Pe. Falleur a 17 de Março de 1917 (Inventário:
299,09 AD: B20/7.3):
Enghien. Caro amigo, estamos aqui deportados no dia 13
da casa do SC.
Vou tentar enviar-vos alguns confrades e espero ir a Bruxelas.
Rezemos para que Deus se deixe tocar. O Coração de Jesus há-de intervir.
Vós sabeis que recebi de Sittard por engano uma lista de missas que não
encomendei. Fazei a troca. Em Novembro de 1915 enviei-vos 9.353 intenções de missa, mais 62 trintários. Devolvei tudo. Eu estou
envelhecido, rezai por mim.
A Chère Mère está idosa e doente em Soignies com a sua
comunidade*. A Sra Santerre em Coteau, a Sra Batteux arruinada não sei onde. A Sra Malezieux perto de Bruxelas. Paciência e oração.
Saudações aos Padres e a todos. L. Dehon
* A sua morte ocorreu a 17 de março.
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