João de Brito, filho de Salvador de Brito e
de Beatriz Pereira, nasceu em Lisboa no dia 1 de março de 1647, logo no começo
do reinado de D. João IV. Pertencia a uma família nobre, que sempre se tinha
distinguido ao serviço dos reis de Portugal. Apesar de ter sido chamado à
corte, como pajem do rei, aos 9 anos de idade, tinha maiores ambições ainda. O
seu desejo era servir mais alto Senhor, o rei Eterno. Vivendo entre os jovens
fidalgos da corte de D. João IV, nunca se lhe notou a menor mancha nos costumes.
Contraiu João por esse tempo uma grave
enfermidade. A mãe receosa de o perder, fez voto a S. Francisco Xavier de
vestir o filho com a roupeta da Companhia de Jesus, se ele viesse a recuperar a
saúde. Não quis o santo apóstolo deixar frustrada a confiança na sua
intercessão e João de Brito, em breve restabelecido, envergou durante um ano,
conforme a promessa, a roupeta de santo Inácio.
Datam destes primeiros anos os nomes de
Apostolinho e de Mártir, por que era designado na corte. O nome de Apostolinho
vinha-lhe da roupeta que trouxera em cumprimento do voto, pois apóstolos se
chamavam então os Jesuítas em Portugal. O nome de Mártir devia-o à constância
varonil, com que sofria os maus tratos infligidos por jovens fidalgos que viam
na sua vida de piedade e recolhimento uma censura tácita da própria leviandade.
Em dezembro de 1662 entrou para ao noviciado
da Companhia de Jesus, em Lisboa. Tinha 15 anos. O tempo do noviciado foi o
abrir de todas as suas virtudes em botão. Desde que em menino envergou a roupeta
de santo Inácio nunca mais deixou de sentir-se dominado pela ideia de ganhar
almas para Cristo, seguindo as pegadas de S. Francisco Xavier, no roteiro da
Índia.
No dia 25 de março de 1673 embarca como padre
novo numa nau de velas como as asas do Anjo que nessa festa da Anunciação
trouxe ao mundo a mensagem divina. Eram dezassete os denodados conquistadores,
entre os quais se contava o Pe. João de Brito. Este, porém, receando ainda
qualquer ardil inventado à última hora para o reter em terra, embarcou às ocultas,
procurando que só se divulgasse esta notícia depois de as naus se fazerem ao
largo.
A viagem levou seis meses durante os quais o
Pe. João de Brito a todos instruía e confortava. Mal pôs o pé em terra, tratou
logo o Pe. Brito de se dispor para a missão do Madurai à qual lhe tinha sido
destinada. Começou a ensaiar o plano de vida que mais tarde havia de guardar
quando missionário: não dormir em cama, não comer carne nem peixe, alimentar-se
unicamente de legumes, ervas, frutas e leite.
Percebendo que a única forma de conquistar a
classe mais alta, os brâmanes, era identificar-se com eles, o Pe. João de Brito
começou a vestir-se como eles e a falar a sua língua. Em Moravá foi preso e
maltratado. Depois de 11 dias foi solto, mas continuou proibido de pregar.
Mandado pelos superiores a Portugal, chegou a
Lisboa a 8 de setembro de 1687 após 12 anos de ausência. Afastando-se do
Madurai, parecia-lhe ficar mais longe do céu. Recusou ficar em Portugal como
perceptor do príncipe e dos infantes filhos de D. Pedro II. Também recusou ser
nomeado arcebispo. Apressou-se em partir de novo para a Índia onde chegou em
novembro de 1690.
As causas da sua morte devem-se ao facto de
um príncipe da casa real do Maravá querer conhecer a religião cristã, sendo-lhe
enviado um catequista para tal. O príncipe, que entretanto adoeceu, não estava
a conseguir melhorar com os cuidados médicos da corte, e resolveu invocar o
Deus dos cristãos. Acompanhado pelo catequista, foi-lhe lido o Evangelho de São
João. Esta situação terá sido a origem da sua cura.
O príncipe, sensibilizado pela forma como
ficou curado, pediu para ser batizado pelo Pe. João de Brito. No entanto, havia o problema de ser polígamo e, de acordo com a lei da Igreja
cristã, tal não era permitido. Informado, o príncipe aceitou ficar apenas com
uma mulher, a primeira, não descurando as outras a quem prometeu que nada lhes
faltaria, e foi batizado. Porém, a sua mulher mais nova não gostou de ser
relevada para segundo plano, e foi queixar-se ao rei do Maravá, seu tio, e aos
sacerdotes. Estes, que não gostavam do Padre, pediram ao rei que chamasse o
príncipe que, entretanto, se tinha convertido à religião cristã. Ao saber
disto, o rei ficou furioso, mandou destruir tudo o que fosse dos cristãos, e
enviou soldados para prender o Pe. João de Brito.
A 8 de janeiro de 1693, João de Brito foi preso e espancado, juntamente com um jovem e um
brâmane cristão. Seguidamente, atado a um cavalo, depois de percorrer um longo
caminho a pé, e de ser insultado pelo povo, chegaram à capital a 11 de Janeiro
e foram colocados numa prisão. O príncipe tentou interceder a favor deles, mas
não o conseguiu. Foi levado para Oriur, onde chegou no dia 31 de Janeiro.
Finalmente, a 4 de fevereiro, que caiu em
quarta-feira de cinzas, chegou a hora de, em vez das cinzas da humilhação e
penitência, receber a palma gloriosa, pois o rei mandou executá-lo, por
decapitação e, posteriormente, desmembrado.
Um Padre da Companhia que o conheceu deixou o seu
perfil assim traçado: O modo de falar era simples, o trato extraordinariamente
afável, a sua amizade cordial e cativante. A sua virtude não tinha nada de
triste, mas atraia pela suavidade. Já então pressentíamos que ele seria um dia
contado no número dos santos.
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