Ou a Misericórdia em ação.
Personagens:
Narrador, Madalena, Joaquina, Voz off,
Mendigo, Prisioneiro, Prostituta, Sacerdote.
Narrador:
- No fim da celebração da missa, numa
paróquia da nossa cidade, duas senhoras aproximaram-se do Sacrário e
fizeram, cada uma, o seu pedido.
Madalena:
- Senhor, neste dia, queria convidá-lo para cear comigo. Estou sozinha, não tenho muito, mas gostaria que passasse lá por casa.
- Senhor, neste dia, queria convidá-lo para cear comigo. Estou sozinha, não tenho muito, mas gostaria que passasse lá por casa.
O Senhor fez-se-lhe ouvir: (voz off)
- Sim, irei a tua casa. Vai e aguarda a minha
visita.
Joaquina:
- O quê? Esta pobretana convidou o Senhor
para cear com ela? Sabe lá o que é uma ceia! Eu vou preparar um magnífico
banquete para o Senhor e vou já convidá-lo. Senhor, nesta noite vou ficar por
casa e queira dar-me a honra da vossa presença na minha mansão?
O Senhor fez-se-lhe ouvir: (voz off)
- Sim, irei a tua casa. Vai e aguarda a minha
visita.
Narrador:
- Ao chegar a casa a Joaquina começou de
imediato a fazer planos.
Joaquina:
- Vou já pôr em movimento todos os meus
empregados para deixar tudo impecável para quando o Senhor chegar. Prepararei a
melhor receção de sempre, com tudo o que há do bom e do melhor.
Narrador:
- Entretanto a Joaquina foi surpreendida por
alguém que bateu à porta. Era um mendigo…
Mendigo:
- Boa noite, minha senhora, por favor dê-me
um pouco de comida, um pão serve. Há quatro dias que não como nada.
Joaquina:
- Olhe, meu amigo, estou à espera de um
convidado muito especial e como você deve compreender não tenho muito tempo
para atender a si. Hoje não posso. Volte outro dia… ou bata a outra porta…
Narrador:
- O mendigo foi embora sem nada levar. Mas
não desistiu e bateu a outra porta.
Mendigo:
- Muito boa noite, minha senhora. Por favor
dê-me algo para comer. Há quatro dias que não tomo nada…
Madalena:
- Meu filho, também sou pobre e sei o que é
passar fome… Tome estes dois pães… Estavam reservados para uma visita que
espero… mas tudo se arranjará. Vá assim reconfortado com este pouco.
Narrador:
- Na mansão da Joaquina tudo brilhava e
estava preparado para o lauto banquete. Eis que novamente alguém bateu à porta.
Joaquina:
- Desta vez será o Senhor… Vou já…
Prisioneiro:
- Boa noite minha senhora… preciso da sua
ajuda… não tenho família, foi liberto hoje da prisão e só preciso de uma
pequena ajuda, talvez um pequeno trabalho para começar e ganhar algum dinheiro
ou uma pequena esmola. Pode então ajudar-me nalguma coisa?
Joaquina:
- Deve estar a gozar comigo… Logo neste dia
em que estou superocupada vem ter comigo um desgraçado… Aqui não é a santa Casa
da Misericórdia… Vá procurar ajuda noutro lugar… Desapareça… Deixe livre a
minha porta pois estou à espera de alguém muito importante.
Narrador:
- O prisioneiro então foi pedir ajuda a outra
porta.
Prisioneiro:
- Por favor, preciso da sua ajuda. Dê-me
algum trabalho para que possa ganhar algumas moedas…
Madalena:
- Ó rapaz, trabalho não tenho para te
contratar, mas tenho aqui umas pequenas moedas que te servirão para começar…
Toma-as… e coragem para continuares em frente.
Prisioneiro:
- Muito obrigado. Que o Senhor lhe pague e a
abençoe…
Madalena:
- Vai em paz… de facto estou à espera do
Senhor, mas basta-me a sua companhia…
Narrador:
- Madalena estava admirada pelo Senhor ainda
não ter chegado. Joaquina já estava cansada e impaciente pela demora…
Joaquina:
- A comida vai esfriar… E nem quero pensar
que se pode estragar… Mais valia ter marcado exatamente a hora… pois tenho mais
que fazer. Onde é que já se viu ficar assim uma pessoa dependurada à espera…
mas talvez o Senhor não tenho um relógio tão perfeito como o meu…
Narrador:
- Enquanto assim pensava no seu coração a
campainha suou… Ela pôs-se de pé num salto e de imediato abriu a porta… e
grande desilusão!
Joaquina:
- Mas que significa isto… O que faz uma
mulher de má vida à minha porta? Desanda… não quero que ninguém a veja por cá…
Prostitua:
- Boa noite… Preciso só de um casaco velhinho
para me abafar…
Joaquina:
- Aqui não há nada velho. Era só o que
faltava!
Prostituta:
- Então podia fazer o favor de me dar um
casaco novo? Também serve…
Joaquina:
- O que pensaria o meu convidado especial se
a visse cá?! Volte para a sua vida suja… e não me comprometa.
Narrador:
- E com violência Joaquina virou as costas à
mulher fechando-lhe a porta na cara. A mulher, a tremer de frio, foi bater à
outra porta.
Madalena:
- Finalmente, deve ser o Senhor…
Prostituta:
- Boa noite… Estou cheia de frio… Podia
dar-me algo para me cobrir? Um casaquinho velho serve.
Madalena:
- Claro. Olhe, fique já com este que trago
aos ombros… E espere, leve também esta mantinha…
Prostituta:
- Obrigado, minha Senhor… Que Deus lhe pague
a sua generosidade.
Madalena:
- Não tem de quê. Com tantas pessoas a
precisar de ajuda, com certeza que Deus não se vai lembrar de mim… Vá na paz de
Deus.
Narrador:
- Madalena e Joaquina não percebiam a demora
do Senhor. Teria acontecido algum imprevisto? A Joaquina começou a desconfiar
que o Senhor estaria com certeza na casa da Madalena, pobre criatura... Ele não
sabia o que estava a perder. Por sua vez a Madalena pensava que talvez o Senhor
estivesse a ajudar quem mais precisasse, talvez até a sua vizinha rica, a
Joaquina.
E logo pela manhã foram as duas para a Igreja
para junto do sacrário.
Iam começar a questionar o Senhor… quando
ouviram o Sacerdote a proclamar:
Sacerdote:
- Vinde benditos de meu pai… Pois tive fome e
destes-me de comer… tive sede e destes-me de beber… era peregrino e me
acolhestes…
Madalena:
- E quando, Senhor, é que te vi com fome, com
sede, peregrino e te dei de comer e te acolhi?
Sacerdote:
- Todas as vezes que fizestes isto a um
destes meus pequeninos foi a mim que o fizestes… Fui a mim que me deste os dois
pães, as últimas moedas… ou o teu casaco e a mantinha de ontem à noite.
Joaquina:
- Calma aí! Isso não vale. Quer dizer que o
Senhor me veio visitar, mas disfarçado? Como é que eu devia saber que era Ele?
Já sei o que vou fazer daqui para a frente: terei muito cuidado em atender quem
se aproximar de mim… talvez seja o Senhor disfarçado. Que Deus tenha
misericórdia de mim!
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