Último dia deste ano.
Dia de dar graças a Deus e de pedir perdão.
Entre tantos exemplos podemos seguir o do Beato Carlos de Áustria, que repousa aqui na Madeira:
Para
o beato Carlos de Áustria tudo foi dom de Deus, tanto as alegrias como as
adversidades. Também gostava de repetir com frequência: Encontramo-nos nas mãos
da divina Providência. Tudo o que nos acontece está bem. Apenas confiemos…
No
dia 12 de novembro de 1918 foi proclamada a República e a queda da Monarquia.
Os bens sujeitos ao Erário da corte foram confiscados e, na mesma tarde, Carlos
com toda a sua família, teve que deixar Viena rumo à sua casa de caça em
Eckartsau, mas antes de deixar o palácio fez uma visita de despedida ao
Santíssimo.
Apesar desta situação
ele continuou, todas as tardes, a rezar o Te Deum, e o fez cantar no dia 31 de
dezembro de 1918, em ação de graças por tudo quanto o ano que expirava tinha
trazido. Propuseram-lhe omiti-lo. Ele porém, respondeu que naquele ano muitas
graças tinham sido alcançadas graças às quais devia agradecer. Declarou
que, naquele ano o bom Deus tinha-lhe dado provas particulares de sua bondade,
melhor: que o tinha cumulado com tais provas. Também se o ano parecia ter sido
muito duro, poderia muito bem ter-se tornado ainda pior, e se da mão de Deus
recebemos com gratidão o vem, então, devemos receber, com a mesma gratidão
aquilo que é penoso. Ademais, naquele ano tinha-se terminado a terrível
carnificina internacional.
A
Sra. Maria Lackers, que estava com o seu marido no dia 31 de dezembro de 1921 na Madeira, conta como foi esta última
passagem de ano na casa do Imperador quando verdadeiramente todo o mundo
parecia desmoronar-se sobre o Beato:
À
tarde, como devoção de encerramento do ano, houve na capela da casa uma solene
bênção Eucarística. Estávamos apenas o Imperador. A Imperatriz e nós. Também foi rezado o Te Deum. Atrás de nós,
ficava um ano que tinha sido o mais duro da vida do Servo de Deus. Ele
encontrava-se longe da pátria, no exílio; na mais drástica necessidade
material; estava separado de seus filhos e não sabia o que o dia seguinte
haveria de lhe trazer de mal. Durante o Te Deum nós, um após o outro, fomos nos
silenciando, porque a dor nos fazia fugir a voz. Somente o Servo de Deus
manteve-se firme até ao fim, acentuando cada palavra… Olhei-o com admiração.
Percebia-se com toda a evidência que para ele, naquele momento, existia apenas
Deus – ninguém mais – e que aquele Te Deum era um íntimo diálogo entre Deus e o
seu mais fiel servidor. Na época, ele não sabia se tornaria a ver os seus
filhos, não sabia o que o dia seguinte haveria de lhe trazer, e contudo, rezou
com muito fervor aquela oração de ação d e graças.
Giovanna Brizi, A vida religiosa do Beato
Carlos da Áustria (último imperador da monarquia austo-húngara), Estudo dos
documentos do Provesso de Beatificação, 2012, Edições Lumen Christi, Rio de
Janeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário