Ser missionário nos nossos dias, segundo o Papa Francisco na Exortação apostólica Evangelii Gaudium:
Uma Igreja «em saída»
20.
Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus
quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova
terra (cf. Gn12, 1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio»
(Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3,
17). A Jeremias disse: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1, 7). Naquele «ide»
de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão
evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída»
missionária. Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho
que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair
da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que
precisam da luz do Evangelho.
«Primeirear», envolver-se, acompanhar,
frutificar e festejar
24.
A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que
«primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o
neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o
Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e,
por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao
encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para
convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia,
fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força
difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a
Igreja sabe «envolver-se». Jesus
lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus,
pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz
aos discípulos: «Sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 17). Com
obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta
as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida
humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores
contraem assim o «cheiro de ovelha», e estas escutam a sua voz. Em seguida, a
comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar».
Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados
que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização
patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao
dom do Senhor, sabe também «frutificar».
A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer
fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando
vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reacções lastimosas ou alarmistas.
Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta
e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou
defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio
como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos,
mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e
renovadora. Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada
pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência
diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na
liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é
também celebração da actividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso
para se dar.
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