NATAL DA BICHARADA
I Cena (Ovelha e Burro)
Burro – Boa noite, Senhora Ovelha!
Ovelha – Uma noite feliz, é verdade. È uma noite de paz, com muita luz. Já há muito tempo não via uma noite assim…
Burro – É verdade, esta noite é diferente, já notei isso, mas não sei dizer, nem explicar porquê.
Ovelha – Olha, olha, olha aquela estrela tão brilhante que até parece que está a cair na Terra.
Burro – Não parece, está mesmo a cair.
II Cena (Os mesmos e a Estrela)
Estrela – Olá, senhora Ovelha. Olá, senhor Burro. Porque estão tão espantados? Parece que nunca me viram!
Burro – Não sei porquê, mas esta noite é cada vez mais esquisita.
Ovelha – E vocês sabem porque esta noite é assim tão diferente das outras?
Burro – Eu cá sou Burro, eu não sei nada. Não sei porque é.
Ovelha – Eu lembro-me de uma noite muito parecida com esta, quando eu era ainda muito pequenina. Tenho a impressão que estava na Serra de Belém.
Estrela – É isso mesmo, esta noite é a Noite de Natal. Faz hoje anos que Jesus nasceu aqui bem perto de nós.
Burro – É verdade, já me estou a lembrar também. Afinal eu não sou assim tão burro. Eu também fui visitar esse Menino. Era tão bonitinho e a mãe dele parecia mesmo uma santa.
Estrela – Venha cá, senhor Galo. Ainda é muito cedo para cantar,
III Cena (Os mesmos e o Galo)
Galo – Boas noites, Senhoras e Senhores. Eu sou o galo mais velho da capoeira.
Ovelha – Muito prazer em conhecê-lo, mas o prazer será todo seu, pois está a falar com uma Ovelhinha muito importante. Eu conheci pessoalmente o Menino Jesus que hoje faz anos.
Galo – Olha a vaidosa. Pensa que foi só ela que O conheceu. Então vocês não sabem quem foi que anunciou a todos os vizinhos o seu nascimento? Fui eu. À meia-noite, quando Ele nasceu, eu comecei a cantar com tanta força que toda a gente acordou e ficou a saber o que se tinha passado. Todos levaram presentes, mas o meu presente foi o melhor. O meu presente foi esse: despertei toda a gente. E tu, o que foi que lhe deste?
Ovelha – Eu ainda era pequenina, nada podia oferecer de meu. Fui deitar-me bem perto dele e assim aqueci-o com o meu bafo. Estava muito frio nessa noite.
IV Cena (Os mesmos e o Boi)
Boi – Boa noite, senhores animais. Desculpem meter-me na conversa, mas tenho estado ali a ouvir e não resisti. Vocês esqueceram-se que eu é que aqueci esse Menino. Vocês viram-me lá com certeza. Estiquei o meu pescoço para cima da manjedoura e o calor que saía da minha boca aquecia o Menino Jesus, tão pobrezinho.
Ovelha – Mas eu também O aqueci, embora eu tivesse uma boca mais pequena. Além disso eu também lhe dei outra prenda.
Boi – Tu estás a mentir, tu não tinhas mais nada para lhe dar.
Ovelha – Não tinha, mas arranjei. Nessa noite eu não bebi o leite do meu jantar e levei-o à Mãe do Menino. Ela ficou satisfeita e eu nem sequer senti fome.
Estrela – Muito bem, estou a ver que cada um de vós ofereceu alguma coisa na noite de Natal. A minha oferta foi simples. Nada tinha de meu para oferecer para além da minha luz. Por isso resolvi servir-me dela para alumiar a gruta de Belém. Indiquei também o caminho a muitos pastores que andavam à procura do caminho para lá chegarem.
Galo – Olha, ali vai um homem. Escondam-me porque se ele me vê, pode querer matar-me para o seu jantar de Consoada.
Burro – Não tenhas medo, ó galinho, hoje há festa, e ninguém faz mal seja a quem for. Esta é a noite da Paz.
Galo – Então vou chamá-lo. Cócorócóco…
V Cena (Os mesmos e o Homem)
Homem – Mas o que é isto aqui? Nunca vi tanta bicharada junta.
Boi – É porque hoje é dia de festa, dia de Natal. E nós estamos a recordar esse dia. Cada um de nós ofereceu uma prenda. Tu, que és o rei da criação, com certeza também lhe ofereceste muita coisa, não é verdade?
Homem – Bem, eu já nem sequer me lembro o que é que lhe ofereci. Nunca mais pensei nisso.
Burro – Com que então tu não te lembras o que é que lhe ofereceste? Pois lembro-me eu, eu que sou Burro, lembro-me bem o que é que tu, homem inteligente, lhe ofereceste: deste-lhe uma cruz!
Estrela – Uma cruz!? Para que lhe ofereceste uma cruz?
Burro – Essa cruz serviu para matarem Jesus. O homem perdeu a cabeça e pregou Jesus nessa cruz onde Ele morreu. Porém, alguns dias depois, ressuscitou.
Homem – É verdade… foi mesmo assim. Eu já me arrependi. Eu agora queria oferecer muitas coisas boas, mas já é tarde, agora já não posso fazer nada.
Galo – Já é tarde?! Nunca é tarde para fazer ma boa acção. Tu ainda podes oferecer tudo o que quiseres a Jesus. Basta ofereceres agora aos outros meninos que passam necessidade, aquilo que gostarias de oferecer a o próprio Jesus.
Estrela – Jesus até disse, uma vez, que tudo o que se fizesse a um pobrezinho era a mesma coisa que fazer ao próprio Jesus.
Homem – Espera aí. Já sei que vou fazer. Vou ajudar todas as crianças a passarem um feliz Natal. Vou preparar uma festa, ficarão na minha casa, para não passarem frio.
Boi – Eu também vou fazer uma coisa que até agora tive medo de fazer. Eu vou oferecer a minha carne para que todas as crianças não passem fome neste dia. Assim terão muitos bifes.
Galo – Já agora, eu também me vou oferecer à casa mais pobrezinha e assim poderão fazer uma canja tão quentinha para se aquecerem. Já não tenho medo de morrer; eles precisam de mim.
Estrela – Muito bem, eu vou brilhar com toda a força para que haja muita luz nas estradas, para ninguém se perder e assim, nenhuma casa ficará às escuras por ser pobre.
Ovelha – Eu vou oferecer o meu leite aos meninos que estão muito fracos e que não têm dinheiro para comprarem o que precisam.
Burro – Eu ofereço-me para transportar os meninos que não podem andar. Vou passear com eles e será uma grande festa.
Homem – Vamos, então todos. Vamos fazer felizes todos esses meninos.
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