Na Semana dos seminários, partilhamos a experiência dehoniana de seminário.
1. Preparação para o Seminário
Depois de tantos anos de espera para que o pai o deixasse entrar no Seminário, Leão Dehon, recém-doutorado em Direito, acha que chegou a altura de realizar o seu sonho. O pai oferece-lhe uma viagem ao Médio Oriente para dissuadi-lo, mas a vocação persiste bem como a decisão. No final da viagem passa por Roma:
“14-25 de Junho de 1865. Esta primeira permanência em Roma não foi muito longa: só dez dias! Mas deixou-me profundas recordações e nela recebi grandes graças. Fiquei encantado com os grandes santuários: S. Pedro, S. Paulo, Santa Maria Maior, S. João de Latrão. Era a nova Jerusalém toda viva e resplandecente. É a ressurreição enquanto que a antiga Jerusalém ficou mergulhada nas trevas da Paixão e da morte do Salvador.
Durante esta breve estadia fui bem amparado pela Providência. Mons. Dupanloup enviara-me boas cartas de recomendação. Fui bem recebido em toda a parte. Era um favor especial ter audiência de sua Alteza. Falou-me da carreira eclesiástica e deixou transparecer o desgosto de haver poucas carreiras abertas para os “filhos de família” nos Estados pontifícios.
O Sr. D’Hulst era um estudante de teologia. Morava na praça Ara Coeli. Deu-me uma quantidade de informações úteis, e aconselhou-me fortemente a fazer os meus estudos no Colégio Romano.
Mas a melhor das alegrias foi ver Pio IX, a bondade unida à santidade. Vi-o em audiência particular, graças a uma carta do Bispo de Orleans110. Era uma tarde, pelas 6 horas. Conduziram-me por um longo corredor exterior, construído em saliência para ligar os seus apartamentos. Falei-lhe da minha peregrinação aos Lugares Santos, da minha vocação, da minha indecisão sobre o lugar dos meus estudos. Aconselhou-me o Seminário francês de Roma. A sua decisão estava conforme às minhas atracções.
Parece-me que esta primeira bênção de Pio IX me alcançou grandes graças.
Agora, eu sentia-me em paz. Fiz conhecimento com o Pe. Freyd do Seminário francês. Era um homem de Deus, um santo, como dissera Pio IX. Liguei-me a ele desde esse momento.
Assisti a umas aulas no Colégio Romano. Percebi que essa doutrina me encantava. Pareceu-me já ser da casa. No dia 21 assisti às festas de S. Luís de Gonzaga: missa, comunhão geral, panegírico. Gostava deste caro santo desde há muito tempo. Invocava-o desde o berço. Quantas graças lhe devo! Tinha feito em Roma tudo o que aí queria fazer. A minha vocação estava decidida, era a coroação da minha viagem…” (NHV II pag 164)
2. Entrada no Seminário
“Cheguei a Roma a 25 de Outubro de 1865, bem comovido pelo fim da minha viagem e pelo aspecto desta cidade que desperta em nós a história toda. Notei, ao chegar, os principais monumentos, reconheci-me neles e vi-me feliz por ter regressado.
Estava finalmente no meu verdadeiro elemento; eu era feliz. O seminário era uma velha residência, estreita, toda na vertical, sombria e triste no seu interior. Não importa, eu era feliz. Deram-me um quarto no quinto ou sexto andar, já nem sei bem, numa água-furtada por baixo do telhado, por cima da capela. O quartinho era pequeno e nu, a cama era dura; pouco importa, eu era feliz. Dois bons condiscípulos instalaram-me: Verloque, do Var, futuro cónego de Fréjus, e Prumetti, da Saboia, futuro ecónomo deste mesmo seminário. O bom Duplessis foi o meu primeiro chefe de passeio. Agora é Director do Seminário. Dos anos passados aí, só guardei doces recordações. Gostaria de revivê-los, esses anos. Tudo aí era bom: o encanto dos estudos sagrados, o piedoso recolhimento da cela e da capela, a santa direcção do Pe. Freuyd, a amizade sincera dos bons condiscípulos. Após seis anos aí passados, eu gostaria ainda de ter ficado. E quando lá voltei em 1877 com Mons. Thibaudier pedi-lhe muito seriamente para refazer dois ou três anos de Seminário. Quantas graças aí recebi! Nunca o saberei dizer. É um oceano insondável para mim.” (NHV III, pag 17)
3. A vida no Seminário (1865-1871)
No registo do seminário francês de Santa Clara, em Roma, pode-se ler-se a avaliação do estudante/seminarista:
“Leão Dehon, da diocese de Soissons.
Entrou a 25 de Outubro de 1865.
Saíu a 1 de Agosto de 1871.
Carácter: excelente.
Capacidade: grandíssima.
Piedade e regularidade: perfeitas.
Notas e informações diversas: o Rev. Dehon, doutor em Direito, advogado na Corte de Apelo de Paris, depois de uma viagem ao Oriente que os pais lhe proporcionaram para pôr à prova a sua vocação, à qual se opunham, começou em 1865 os estudos eclesiásticos.
Frequentou o curso de Filosofia no Colégio Romano, onde se doutorou.
Frequentou depois, durante quatro anos, os cursos de Teologia, a que juntou os de Direito Canónico.
Durante o Concílio Vaticano, foi um dos nossos quatro estenógrafos.
O resultado dos estudos foi muito brilhante, tendo recebido numerosos prémios…
Era um dos nossos melhores alunos sob todos os pontos de vista. Piedade, modéstia, gravidade, regularidade, dedicação para com os seus professores, aplicação enérgica, etc…tudo contribuía para torná-lo muito estimado…”
4. Recomendações do Pe. Dehon para os Seminários de ontem e de hoje
- “É o nosso fervor... que atrairá a bênção divina e as vocações, que hão-de vir pelo ascendente, não das nossas qualidades e talentos naturais, mas pela nossa virtude.” (CF, 8 de Janeiro de 1886).
- “Há um certo risco dar-lhes um mês (de férias aos seminaristas), mas é necessário também que as vocações sejam provadas, e ainda, os que não visitam os seus familiares, não conhecem nada do mundo e da vida concreta.” (Carta ao Pe. Kusters, 10/07/1901, Inv. 260.08, AD: B19/5)
- “Não tenhamos medo de admitir nos nossos sseminários crianças simples e pobres desde que tenham coração, isto é, boa vontade e amor.” (CA, Pág. 143)
- “O padre sobreviverá a si mesmo pelas vocações que tiver discernido, encorajado, favorecido.” (CS, Pág. 622)
- “Quando Nosso Senhor dá uma vocação, dá também os meios para realizá-la.” (Carta a M. É. Guébing, 30/07/1912, Inv. 1111.08, AD: B83/2)
- “Suscitar vocações não é tudo: é preciso conservá-las.” (Para a Revista ‘O recrutamento Sacerdotal’ nº 1, 14/01/1901, Inv. 939.20, AD: B71/2)
- “Um dos deveres do padre é cultivar as vocações, favorecê-las, prepará-las.” (CS, Pág. 567)
“Um padre que não se interesse pelas vocações não tem verdadeiro espírito apostólico.” (CS, Pág. 567)
- “Uma vocação é uma flor delicada que pode definhar.” (Carta a Louis Julliot, 29/12/1922, Inv. 861.11, AD: B62/4)
- “Uma vocação privilegiada exige uma grande fidelidade.” (DE, Pág. 195)
- “Uma vocação tão bela requer um grande fervor e uma generosidade sem limites.” (Testamento Espiritual, 1914)
Sem comentários:
Enviar um comentário