Ainda
os portugueses não tinham chegado ao Arquipélago dos Açores e já era invocada
Nossa Senhora dos Açores, como consta na Crónica de D. Sancho I.
Esta
invocação vem do nome da freguesia do concelho de Celorico da Beira, Diocese da
Guarda que ainda hoje tem como orago Nossa senhora dos Açores. A vila parece
datar do século VII.
A
imagem de Nossa Senhora lá tem esta ave a seus pés, um ou mais açores. Ao
dar-lhe esta evocação pretendiam os seus habitantes conseguir o seu valimento
contra aves, que causavam muitos prejuízos e preocupações.
A
primeira é a lenda do aparecimento da Virgem a um pastor em apuros. Querendo
salvar uma vaca que tinha caído num poço, arriscou-se demasiado, estando ele
prestes a perder a vida. Aflito recorreu a Nossa Senhora que lhe apareceu,
salvando-o a ele e ao animal. O povo a quem o pastor contou o sucedido, veio ao
local do milagre e aí encontrou uma imagem de Nossa Senhora. Sem demoras ali
levantou uma ermida que recebeu o nome da própria terra.
A
outra lenda é do filho do rei e do açor. Um rei de Espanha tendo ouvido falar
dos muitos milagres de Nossa Senhora que ali se realizavam, a Ela recorreu para
conseguir por sua intercessão, alcançar descendência. Tal aconteceu. Mas como a
criança nascesse aleijada, foram o rei, a rainha e o filho à Ermida da Virgem
dos Açores pedir a cura. Mas a criança morreu na viagem. A rainha, porém, não
consentiu que a sepultassem pois a queria entregar a Nossa Senhora. Assim o
fez. Entretanto o rei sabendo que um caçador que fazia parte da comitiva real,
soltara um açor que levavam, transgredindo as ordens recebidas, mandou que lhe
cortassem a mão. O infeliz ao ouvir a sentença, implorou também o auxílio da
Senhora, que não se fez esperar, manifestando-se por um duplo milagre: o açor
veio pousar na mão do caçador que ia ser cortada e o menino voltara à vida,
livre do defeito com que nascera. Em sinal de agradecimento mandou então o rei
construir a igreja de Nossa Senhora dos Açores, ficando os painéis a perpetuar
o milagre.
Interior da igreja de Nossa Senhora dos Açores, Celorico da Beira
Cantares
do povo
Ó
senhora dos açores,
Que
tendes na mão, que cheira?
-
A camisinha do Menino
Que
vem da lavadeira
Viva
a Senhora dos Açores
Que
tem uma coroa de prata
Ao
fundo dela tem um pássaro
Que
comeu uma lagarta.
Mandaram
fazer uma cova
De
lírios brancos do vale
Que
a rainha espanhola
Morreu
cá em Portugal.
Adeus,
ó vila de Açores
Lá
ao largo da Lameira
Onde
passa toda Câmara
De
Celorico da Beira
Ó
malta da nossa terra
Cheia
de bélicos ardores
Que
vínheis ao som de guerra
À
Senhora dos Açores!
(Cf.
P. José do Vale Carvalheira, Nossa senhora na história e devoção do povo
português, edições salesianas, Porto,1988)
Exterior da Igreja de Nossa Senhora de Açores, Celorico da Beira
Madrinha das Ilhas dos
Açores
A
Infanta D. Isabel, irmã do Infante D. Henrique, em pequenina ouvia contar a uma
velha aia, que tinha uma casa para essas bandas, muitas histórias de milagres
da Senhora dos Açores. Gravou na sua memória esses milagres e tornou-se muito
devota da Senhora dos Açores. A notícia dos milagres da Senhora espalhou-se e o
santuário no século quinze era visitado por muitos romeiros, sendo um deles
Gonçalo Velho Cabral.
Nos
Paços do Limoeiro, Velho Cabral, já depois de ter sido chamado pelo Infante a
participar nos descobrimentos, conversando com a Infanta D. Isabel, grande
devota da Senhora dos Açores, prometeu dar esse nome a uma terra que
descobrisse e ser ele o padrinho e ela a madrinha dessa terra. Gonçalo Velho
Cabral partiu depois pelo Atlântico e, ao chegar à primeira ilha, deu-lhe o
nome de Santa Maria. Aí encontrou uma linda gruta para os lados de S. Lourenço,
a que deu o nome de gruta do Romeiro, lembrando as suas romagens a Nossa
Senhora dos Açores. Cumpriu também a promessa feita à infanta D. Isabel e assim
o nosso arquipélago passou a chamar-se Açores. Gonçalo Velho Cabral foi o
padrinho e a Infanta D. Isabel, a madrinha e colocaram as ilhas sob a proteção
de Nossa Senhora.
A
Infanta, no entretanto, casou com o Duque de Borgonha e deixou Portugal, mas
manteve-se muito devota da Senhora dos Açores e indicou a seu irmão muitos
flamengos para virem ajudar a povoar as ilhas de que era madrinha.
Falta construir e
dedicar uma igreja a Nossa Senhora dos Açores, nas ilhas que lhe herdaram o
nome e lhe tem alcançado tanta proteção.
Ilha de Santa Maria, Açores. Procissão da Assunção da Virgem Santa Maria.
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