quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal (16)

Cartas de Natal


1ª - Carta a Cristo Jesus

Caro Cristo,

Faz alguns dias que te escrevemos uma carta, mas não nos atrevemos a colocá-la no correio. É diferente daquelas cartas que, alguns de nós te escrevíamos, quando éramos pequenos, a pedir-te coisas... muito diferente. Esta carta leva más notícias. E já sabes que o que quer que se diga, desde que seja mau, custa muito dizê-lo, ninguém o quer ouvir. Mas nós esperamos que tu nos entendas, tu hás-de-nos compreender. Por isso, ta enviamos.
Dentro em breve é Natal, o dia em que tu queres voltar à terra. E, muito francamente, por muito que te custe ouvi-lo, pensamos que não vale a pena que voltes. Parece-nos inútil, e isto por várias razões:
- Todos os anos se passa o mesmo, uns dias de festa, melhores comidas, as pessoas vestem-se com mais elegância (e quanto snobismo), muitas bebidas, presentes para todos, noites sem dormir...e, passados uns dias, todos continuam como dantes.
- Muitas são as coisas que por aqui vão mal, e não há perspectiva de melhorarem: gente sem trabalho ou mal paga, gente alta que tem casa, mas que vive como se não a tivesse porque mal pára nela, gente com família, mas que faz dela mais um lugar de conflito, marido que berra com a mulher, mulher que grita com o marido, pai que berra com o filho, filho que grita com o pai... A humanidade anda estranha. Em muitos sítios há guerras, mortes e até aqui perto de nós há fome, gente que tem pouco ou não tem mesmo de comer!
- O teu Natal é um comércio para alimentar aqueles que já estão fartos. Nós andamos enganados e a enganar-nos uns aos outros com aquela coisa de "Paz aos homens de boa vontade". Dão-se presentes a quem já os tem, ou então àqueles de quem se espera alguma coisa em troca. Os irmãos de longe ou os que não são dos nossos não recebem sequer uma migalha das nossas coisas. Que pensarão eles do nosso Natal?
Isto está mal, Cristo! Não serve de nada que voltes. Somos muito poucos os que te iríamos escutar. Não te preocupes em acordar os pastores. Deixa-os dormir. Não chames os anjos. Não incomodes os reis. Deixa-os estar. Tu, fica aí onde estás, que ficas melhor. Já retiraram a tua figura das escolas estatais, já te riscaram na sociedade... e para que ninguém te ponha de lado neste natal, é melhor que nem apareças por cá.
Não voltes, não vale a pena.
Os homens não querem nada daquilo que queres trazer...
Os homens querem que os deixes em paz... então fica tu em paz aí nos altos céus.

Um grupo de jovens amigos, teus amigos também.



2ª Resposta à Carta

Queridos amigos,

Agradeço-vos a vossa carta. Li-a com toda a atenção. Fizestes bem em escrever. Aquilo que vocês pensam interessa-me sempre e nunca nenhuma das vossas cartas ficará sem resposta.
Escrevestes a certa altura: Não vale a pena que voltes porque muita gente iria fazer pouco caso. Aqui, desculpai lá, mas, em parte enganais-vos. Tenho que vos explicar duas coisas: primeiro que já estou entre vós (e dentro de vós); depois que quase todos os homens me procuram e me sabem encontrar. Além disso, poderia contar convosco. Já seríeis um bom número, pequeno mas bom. Pelo menos convosco podia contar, ou não?
Já agora, em vésperas do 25 de Dezembro, quero recordar-vos algumas maneiras de celebrar o Natal:
- Cada vez que pensais nos outros, entendeis o Natal.
- Cada vez que rezais e ajudais a rezar. Descobris o Natal.
- Cada vez que admirais e amais a beleza, a vida, a justiça, a bondade, amais e admirais o Natal.
- Cada vez que vos decidis a perdoar, compreender, criar alegria... antecipais o Natal.
- Cada vez que tratais o outro com amor, desfrutais já do Natal.
- Cada vez que buscais os pobres e os que não têm nome, nem voz nem vez, celebrais e fazeis celebrar o Natal.
Não terminaria nunca.
Mas antes de me despedir, queria apenas dizer-vos mais uma coisa. Gostei muito de que me tivésseis escrito em grupo. De que vos tivésseis preocupado e de estardes preocupados com 'o outro grupo'. No entanto, queria que estas últimas linhas fossem, não para vocês como grupo, mas para cada um, e só, para cada um de vós, para ti!
Eu não estou à espera que o mundo mude, nem que os outros mudem. Estou à espera que tu mudes! Não estou à espera que os outros façam Natal. Estou à espera que tu faças Natal. O Natal dos outros depende de ti. Não me importa a maneira que os outros vão encontrar para celebrar o Natal. Interessa-me a maneira como tu vais celebrar o teu Natal, o meu Natal, o nosso Natal.
Eu quero voltar, eu vou voltar e vou ter contigo.
Até breve.

Cristo, o teu amigo

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